Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O QUE É RESILIÊNCIA - PARTE 2

Essa capacidade de ser resiliente leva em conta a forma como o sujeito reaje a seu cotidiano adverso, como realiza uma montagem de seus recursos para o enfrentamento dos problemas e como sai dessa situação. Os sujeitos não deixam de sofrer com essa situação e nem sempre vão agir de forma resiliente. O que conta é sua capacidade de se adaptar ao ambiente adverso e sair fortalecido dele, mesmo com as marcas dessa batalha. As condutas de resiliência requerem fatores de resiliência e ações, supondo a presença e a interação dinâmicas de fatores, que mudam nas diferentes etapas do desenvolvimento. As situações de adversidade não são estáticas, mudam e requerem mudanças nas condutas resilientes (Grotberg, 2005).
A definição de resiliência como processo dinâmico que leva o indivíduo a obter resultados positivos mesmo em meio à forte adversidade distingue três componentes essenciais: 1- A noção de adversidade, trauma, risco ou ameaça ao desenvolvimento humano; 2- A adaptação positiva ou superação da adversidade; 3- O processo que considera a dinâmica entre mecanismos emocionais, cognitivos e socioculturais que influem no desenvolvimento humano.
Quanto mais fatores de risco, menos chance de alcançar a resiliência; quanto mais fatores de proteção, mais chances do sujeito se tornar resiliente. Os fatores de proteção têm sido identificados como aqueles que reduzem o impacto de risco e de reações negativas em cadeia. As características individuais, como auto-estima e auto-eficácia, são algumas delas (Koller, 1999). Quanto aos fatores de proteção, boa parte dos autores define de forma didática três tipos desses fatores para a criança/adolescente (1) fatores individuais: auto-estima positiva, auto-controle, autonomia, características de temperamento afetuoso e flexível; (2) fatores familiares: coesão, estabilidade, respeito mútuo, apoio/suporte; (3) fatores relacionados ao apoio do meio ambiente: bom relacionamento com amigos, professores ou pessoas significativas que assumam papel de referência segura à criança e a faça sentir querida e amada (Pesce et col., 2004). Os processos de proteção têm a característica essencial de provocar uma modificação catalítica da resposta do indivíduo aos processos de risco. Segundo Ruther (citado em Pesce et col., 2004 e Yunes & Szymans, 2002) esses fatores possuem quatro principais funções: (1) reduzir o impacto dos riscos, fato que altera a exposição da pessoa à situação adversa; (2) reduzir as reações negativas em cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; (3) estabelecer e manter a auto-estima e auto-eficácia, através de estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso; (4) criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse.
Além disso, sustentar uma posição que resiliência possa ser pensado como algo constitucionalmente dado e que despreza ou desvia as qualidades nocivas do ambiente. Assim, as características da resiliência não podem ser observadas antes que elas sejam necessárias. Resiliência não é a ausência de conseqüências indesejáveis na presença da adversidade; é a presença de fatores protetores que mitigam os efeitos da adversidade e são necessários para que a resiliência possa existir. Na verdade, o que começou como uma busca para entender o extraordinário tem revelado o poder do ordinário. Resiliência não provém de qualidades raras e especiais, mas da mágica ordinária do dia-a-dia, recursos humanos normativos nas mentes, cérebros e corpos de crianças, em suas famílias e relacionamentos, nas suas comunidades (Masten, 2001; Masten & Powell, 2003). As crianças que conseguiram se tornar adultos resilientes são as que foram ajudadas a atribuir um sentido às suas feridas. O trabalho de resiliência consistiu em lembrar-se dos choques para torná-los uma representação de imagens, de ações e de palavras, a fim de interpretar a ruptura (Cyrulnik, 2005).
Para futuras intervenções que são desenvolvidas especificamente com o paradigma da resiliência, Luthar (citado em Luthar & Ciccetti, 2000) indicou uma série de princípios básicos, resumidos abaixo: 1- As intervenções devem ter uma forte base na teoria e na pesquisa, particularmente no grupo a ser atingido; 2- Esforços devem ser direcionados não apenas para a redução de conseqüências negativas ou mal ajustamento entre os grupos atingidos, mas também para a promoção de dimensões de adaptação positiva ou competência; 3- As intervenções devem ser desenhadas para reduzir influências negativas (fatores de vulnerabilidade) e para capitalizar recursos específicos com populações particulares; 4- A relevância contextual de uma intervenção geral, assim como estratégias específicas de intervenção, deve ser levada em conta; 5- Os esforços de intervenção devem ter como objetivo estimular serviços que eventualmente possam se tornar auto-sustentáveis; 6- Sempre que possível, dados dos grupos de intervenção devem ser comparados com aqueles de grupos possíveis de comparação, para verificar efeitos que são potencialmente únicos para a intervenção; 7- No futuro, esforços científicos terão valor numa interface aprimorada entre pesquisa em resiliência e suas aplicações para estimular conseqüências positivas.
Edith Grotberg (falecida em maio de 2008) foi pioneira na noção dinâmica de resiliência, já que em seu Projeto Internacional de Resiliência (http://www.resilienceproject.org/) define que esta requer a interação de fatores resilientes advindos de três diferentes níveis: suporte social (eu tenho), habilidade (eu posso) e força interna (eu sou e eu estou). Dessa forma, apesar de organizar os fatores de resiliência num modelo triádico, incorpora como elemento essencial a dinâmica e a interação entre esses fatores. O que o sujeito extrai desses três princípios pode ser descrito da seguinte maneira:
EU TENHO
- Pessoas ao meu lado em quem eu confio e que me amam, não importa o que aconteça;
- Pessoas que me colocam limites, assim eu sei quando parar antes do perigo ou do problema;
- Pessoas que me mostram como fazer as coisas direito pela maneira como elas fazem as coisas;
- Pessoas que querem me ensinar como fazer as coisas do meu jeito;
- Pessoas que me auxiliam quando estou doente, em perigo ou precisando aprender.
EU SOU / EU ESTOU
- Uma pessoa querida e amada pelos outros;
- Satisfeito por fazer coisas boas para os outros e mostrar minha preocupação;
- Respeitoso comigo mesmo e com os outros; - Determinado por ser responsável por aquilo que faço;
- Tenho certeza de que as coisas vão dar certo.
EU POSSO
- Conversar com as pessoas sobre coisas que me amedrontam e me incomodam;
- Encontrar formas de resolver os problemas que me aparecem;
- Controlar-me quando eu me sinto fazendo coisas que não acho certas ou considero perigosas;
- Reconhecer quando é uma boa hora para falar com alguém ou agir;
- Encontrar alguém que me auxilie quando eu preciso.

BIBLIOGRAFIA
CYRULNIK, B., O Murmúrio dos Fantasmas, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2005;
GROTBERG, E.H., Novas Tendências em Resiliência, in MELILLO, A. et all, Resiliência, Descobrindo as Próprias Fortalezas, Editora Artmed, Porto Alegre, 2005;
KOLLER, S., Resiliência e vulnerabilidade em crianças que trabalham e vivem na rua, in EDUCAR EM REVISTA nº 15, Universdiade Federal de Paraná, 1999;
LUTHAR, S., CICCHETTI, D., The Construct of Resilience: Implications for Interventions and Social Policies, in Dev Psychopathol., 12(4):857-885, 2000;
MASTEN, A., Ordinary Magic: Resilience Processes in Development, in American Psychologist, March, 2001;
MASTEN, A, POWELL, J. A resilience framework for research, policy and practice, in LUTHAR, S, Resilience and vulnerability, Cambride University Press, 2003;
PESCE, R., ASSIS, S., SANTOS, N., OLIVEIRA, R., Risco e proteção: em busca de um equilíbrio promotor de resiliência, in Psic.: Teor. e Pesq. v.20 n.2 Brasília maio/ago. 2004;
YUNES, M., SZYMANSKI, H., Resiliência: Noção, Conceitos Afins e Considerações Críticas, in TAVARES et all, Resiliência e Educação, Cortez Editora, São Paulo, 2002, 3ª edição.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

Enfrentando o cotidiano adverso, L Trombeta e R Guzzo, Alínea Editora, Campinas, 2002;
Estado del arte em resiliência, M Kotliarenco, I Cáceres e M Fontecilla, Centro de Estudios y Atencion del Niño e la Mujer, 1996;
Fortalecendo a resiliência familiar, F Walsh, Ed. Roca, SP, 2005;
La experiencia traumática desde la psicología positiva: resiliencia y crecimento postraumático, B Poseck, B Baquero e M Jiménez, in Papeles del Psicólogo, Enero, número 1 vol-27, Espanha, 2006;
Ordinary magic: resilience processes in development, A Masten, in American Psychologist, March, 2001;
Overcoming the odds, E Werner e R Smith, Cornell University Press, New York, 1992;
O murmúrio dos fantasmas, Cyrulnik, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2005; Os patinhos feios, B Cyrulnik, Martins Fontes, São Paulo, 2004;
Resilience and thriving: issues, models, and linkages - thriving: broadening the paradigm beyond illness to health, C S Carver, in Jornal of Social Issues, USA, Summer 1988;
Resiliência, descobrindo as próprias fortalezas, A Melillo, Editora Artmed, Porto Alegre 2005;
Resiliência e educação, J Tavares, Coord., Cortez Editora, São Paulo, 2002;
Resiliência, enfatizando a proteção dos adolescentes, Assis Pesce e Avanci, Artmed Editora S.A., Porto Alegre, 2006;
Resiliência e psicologia positiva, D Dell´aglio, S Koller e M Yunes (Org.), Casa do Psicólogo, SP, 2006;
Resiliência e vulnerabilidade em crianças que trabalham e vivem na rua, S Koller, in EDUCAR EM REVISTA nº 15, Universdiade Federal de Paraná, 1999;
Risco e proteção: em busca de um equilíbrio promotor de resiliência, R Pesce, S Assis, N Santos e R Oliveira, in Psic.: Teor. e Pesq. v.20 n.2 Brasília maio/ago. 2004;
Risco e resiliência: sumário para desenvolvimento de um programa, R W Blum in Adolesc. Latinoam. v.1 n.1 Porto Alegre abr./jun. 1997;
The construct of resilience: a critical evaluation and guidelines for future work, S Luthar, D Cicchetti e B Becker, in Child Dev.71(3): 543–562. 2000;
The construct of resilience: implications for interventions and social policies, S Luthar e D Cicchetti, in Dev Psychopathol., 12(4):857-885, 2000;
Vulnerable but invencible, E Werner e R Smith, Adams, Bannister, Cox, New York, 1998, 3rd Edition;
Vulnerabilidade e resiliência, I Garcia, in Adolesc. Latinoam., v.2 n.3, Porto Alegre, abril 2001.

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