Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Resiliência e identidade racial




Sabemos que o preconceito racial pode se apresentar de diversas formas, às vezes mais velado, às vezes mais escancarado. Em todo caso, a forma como ele é sentido pelos negros pode desencadear diversas dificuldades, tais como estresse, baixa auto-estima, comportamentos inadequados socialmente e dificuldade de aprendizagem. Por outro lado, é possível que ele afete pouco uma parcela dos negros, aqueles que possuem fatores de proteção que minimizem os efeitos da discriminação.

Um forte fator de proteção é a identidade racial, que por si mesmo já é um grande produtor de auto-estima. O desenvolvimento da identidade é um processo complexo, que geralmente começa no final da infância e início da adolescência, quando o sujeito começa a solidificar seu sentido de eu, seus ideais, valores e sistema de crenças. Essa identidade irá congregar o conceito de eu, a auto-estima e o sentido de valor. O desenvolvimento da identidade racial permitirá que o negro reconheça modelos positivos, que formule questões para sua comunidade e se sinta parte dela.

Para todos os adolescentes aparece uma pergunta que precisa ser respondida: “quem sou eu”; para o adolescente negro a questão vai além: “quem sou eu enquanto negro?”. A convivência na infância e adolescência com uma cultura negra, na família, na comunidade, permitirá que o sujeito passe a reconhecer-se negro não somente a partir da cor da pele, mas também de outros traços físicos e através da história de sua raça, o que consequentemente reforça sua identidade racial.

Ou seja, identidade racial eleva a auto-estima, que é um fator de proteção, que protege os negros contra os efeitos maléficos da discriminação, elevando sua capacidade de resiliência. Nesse sentido, quando se pensa no desenvolvimento de resiliência para populações negras deve-se trabalhar enfaticamente a questão da identidade racial.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Artigo cedido pela Juliana para que eu publicasse aqui no meu blog...
Publicado originalmente em Paidéia, 21(49), 263-271



A construção do conceito de resiliência em psicologia: discutindo as origens

Juliana Mendanha Brandão2

Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte-MG, Brasil

Miguel Mahfoud

Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Resumo: Este artigo apresenta um estudo teórico sobre resiliência que investiga, na literatura nacional e internacional, a forma como pesquisadores concebem o conceito e suas origens. Reconstituímos a história do conceito, estudamos a resiliência no campo da resistência dos materiais e da etimologia e questionamos a noção de que o termo/conceito “resiliência” teria sido tomado da física. Concluímos que as concepções de resiliência adotadas pelos pesquisadores – se ela é entendida como resistência ao estresse ou se é relacionada a processos de recuperação e superação – relacionam-se com o entendimento de que eles têm a respeito das origens da mesma.

Palavras-chave: resiliência (psicologia), formação de conceito, etimologia.

The construction of the concept of resilience in psychology: discussing the origins of resilience

Abstract: This article is a theoretical study that investigates resilience conceptions and its origins in national and international literature. We reconstituted the history of the concept; we studied the resilience in the field of strength of materials and etymology and we query the notion that the term/concept of “resilience” would have came from physics. We conclude that the resilience concepts adopted by researchers (if it is understood as stress resistance or as processes of recovery) are related with the understanding that they have about its origins.

Keywords: resilience (psychological), concept formation, etimology.

La construcción del concepto de resiliencia en psicología: cuestionando los orígenes

Resumen: Este artículo es un estudio teórico sobre la resiliencia que hace una investigación, en la literatura nacional e internacional, acerca de la forma que los investigadores conciben el concepto y sus orígenes. Reconstituimos la historia del concepto, estudiamos la resiliencia en el campo de la resistencia de materiales y de la etimología y cuestionamos la noción de que la resiliencia (psicológica) ha sido originada en las ciencias exactas. Llegamos a la conclusión de que los conceptos de resiliencia adoptados por los investigadores (si entendida como resistencia al estrese o si está relacionada con los procesos de recuperación y superación) se relacionan con la comprensión que ellos tienen acerca de los orígenes del concepto.

Palabras clave: resiliencia (psicología), formación de concepto, etimología.

1 Este texto foi revisado seguindo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009. Este artigo é derivado da Dissertação de Mestrado Resiliência: de que se trata? O conceito e suas imprecisões da primeira autora sob orientação de Miguel Mahfoud e Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento, defendida em agosto de 2009, na Universidade Federal de Minas Gerais, junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia.

2 Endereço para correspondência:

Juliana Mendanha Brandão. Rua Oriente, 672, apto 302. CEP 30.220-270. Belo Horizonte-MG, Brasil. E-mail: julianabrandao6@hotmail.com

Na passagem da década de 1970 para 1980, pesquisadores americanos e ingleses voltaram sua atenção para o fenômeno das pessoas que permaneciam saudáveis apesar de expostas a severas adversidades. Chamaram inicialmente essas pessoas de invulneráveis e o fenômeno, de invulnerabilidade, como o termo que seria mais tarde substituído por resiliência.

Nas primeiras pesquisas sobre resiliência, pesquisadores de várias partes do mundo se apropriaram do tema, estudando-o a partir de diferentes perspectivas que são, atualmente, organizadas por alguns autores (Fantova, 2008; Ojeda, 2004), em três correntes: a norte-americana ou anglo-saxônica, a europeia e a latino-americana. A corrente norte-americana seria mais pragmática, mais centrada no indivíduo, tomando como avaliação da resiliência dados observáveis e quantificáveis, comumente com enfoque behaviorista ou ecológico transacional. A resiliência, aqui, surge como produto da interação entre o sujeito e o meio em que está inserido. A europeia teria uma perspectiva ética, mais relativista, com enfoque comumente psicanalítico, tomando a visão do sujeito como relevante para a avaliação da resiliência. De acordo com Fantova, para esta corrente, a resposta do sujeito às adversidades transcende os fatores do meio, é “tecida” a partir da dinâmica psicológica da pessoa, o que possibilita uma narrativa íntima e uma narrativa externa sobre a própria vida. Já a corrente latino-americana é mais comunitária, enfocando o social como resposta aos problemas do sujeito em meio às adversidades.

Em nossa pesquisa, observamos que, além da diferença nas perspectivas adotadas por pesquisadores dessas citadas correntes, há também, entre pesquisadores anglo-saxões e aqueles falantes de línguas latinas, diferenças na maneira de se entender e apresentar as origens do tema e diferenças em suas concepções de resiliência. Pesquisadores falantes de línguas latinas (incluindo os brasileiros) apontam que o termo/conceito “resiliência” teria sido tomado das ciências exatas, mais especificamente do campo da resistência dos materiais, enquanto os pesquisadores precursores do tema, os ingleses e norte-americanos, nada dizem a respeito dessa origem (Assis, Pesce, & Avanci, 2006; Cyrulnik, 2001; Junqueira & Deslandes, 2003; Luthar & Zelazo, 2003; Masten, 2001; Poletto & Koller, 2006, 2008; Rutter, 1985, 1993b; Trombeta & Guzzo, 2002; Werner & Smith, 1989, 1992; Yunes, 2001, 2003, 2006; entre muitos outros). Em relação às concepções adotadas sobre o tema, percebemos que, de modo geral, ingleses e norte-americanos entendem a resiliência como resistência ao estresse, enquanto brasileiros e pesquisadores falantes de línguas latinas têm uma concepção que entende a resiliência ora como resistência ao estresse, ora como associada a processos de recuperação e superação de abalos emocionais causados pelo estresse.

Com o objetivo de entendermos a causa das diferenças das concepções adotadas e o porquê da disparidade de entendimento sobre as origens da resiliência, foi realizada uma investigação no campo da resistência dos materiais, já que alguns autores dizem que a resiliência para a psicologia teria sido tomada daí, e na etimologia, para entender como a diferença das línguas dos pesquisadores poderia influenciar em suas concepções. Por fim, fomos buscar a história dos estudos sobre o tema, em textos latinos e anglo-saxões, o que nos permitiu entender como o conceito resiliência em psicologia foi construído e como essa construção afetou as concepções que os pesquisadores têm sobre o tema.

Buscando o entendimento por meio da física

Na literatura brasileira, pode-se dizer que há um consenso a respeito do conceito da resiliência ser originário da física ou do termo “resiliência” ter sido “importado” dessa disciplina (Assis e cols., 2006; Balancieri, 2007; Couto-Oliveira, 2007; Junqueira & Deslandes, 2003; Libório, Castro, & Coêlho, 2006; Poletto, 2007; Poletto & Koller, 2006, 2008; Souza & Cerveny, 2006a, 2006b; Trombeta & Guzzo, 2002; Yunes, 2003; Yunes, Mendes, & Albuquerque, 2005; Yunes & Szymanski, 2001, entre outros). Se tantos autores da psicologia apontam para a origem física do termo e do conceito “resiliência”, torna-se importante entender como essa ciência trata o assunto.

Nas ciências exatas, o termo integra os estudos sobre resistência dos materiais e já era usado desde, pelo menos, 1807, quando o inglês Thomas Young (conforme citado por Timoshenko, 1953) publicou a obra em que a noção de módulo de elasticidade foi introduzida pela primeira vez. Segundo Timoshenko, nesta obra, Young fala de resiliência ao apresentar uma discussão sobre fraturas de corpos elásticos produzidas por impacto. O significado de resiliência para esse pesquisador não é o mesmo dos dias atuais, embora guarde semelhanças. Atualmente, para a disciplina resistência dos materiais, a resiliência é definida como a capacidade de um material de “absorver energia na região elástica” (Nash, 1982, p. 5), sendo essa capaz de voltar à forma original, quando finda a causa de sua deformação (Pinto, 2002). Beer e Johnston (1981/1989) explicam que “a capacidade do material estrutural suportar um impacto sem ficar deformado permanentemente depende de sua resiliência” (p. 522). Físicos e engenheiros utilizam a noção de módulo de resiliência para calcular a quantidade máxima de energia que um dado material pode absorver ao ser submetido a determinado impacto, deformando-se sem se romper e voltando posteriormente à forma primitiva. Tal noção relaciona-se ao limite de elasticidade do material.

Observamos que a ideia que uma das concepções que a psicologia tem da resiliência – de modo geral, capacidade para se recuperar de abalos sofridos ou de se abalar e voltar ao que se era antes do abalo – tem mais a ver com o conceito físico da elasticidade do que propriamente de resiliência. Isso porque a elasticidade seria a característica dos materiais de se deformarem e voltarem à sua forma original, após o fim da causa da deformação (Pinto, 2002). Para que se deformem sem se romper, é necessária a resiliência que implica na absorção da energia do impacto.

Mas nem tudo que resiste a pressões ou a abalos apresenta resiliência, pois há materiais que sob pressão não se deformam e, nesses casos, nem absorveriam a energia do impacto, sendo considerados resistentes, mas não elásticos. Quando um material resiste a um impacto, deformando-se pouco ou nada, ele é considerado rígido (Amaral, 2002). Este material, após certo limite de força aplicada sobre ele, se rompe de maneira irreversível, sem ter havido deformação. Um material elástico, por sua vez, também pode se romper ou sofrer outro tipo de deformação permanente, mas somente depois de ultrapassado seu limite de elasticidade e seu “módulo de resiliência”, ou seja, a quantidade de energia passível de ser absorvida.

A partir desse entendimento dos conceitos da resistência dos materiais, caso se quisesse transpor de forma mais fidedigna o conceito de resiliência da física para a psicologia ou as ciências humanas estudarem, ao se focalizar a resiliência das pessoas, os estudos deveriam investigar o quanto as pessoas poderiam suportar de pressão, ou de estresse, antes de apresentarem abalo psicopatológico irreversível. Já se os estudos quisessem observar como as pessoas se abalam, se transformam sob uma pressão e se recuperam posteriormente, eles estariam investigando a elasticidade (psicológica) humana. Com isso, parece que, se o termo/conceito de resiliência usado pela psicologia foi originado na física, na resistência dos materiais, ele foi transposto de maneira imprecisa, pois se relaciona mais com o conceito de elasticidade do que de resiliência dos materiais.

Além dessas observações sobre os conceitos físicos, chamou a atenção o fato de que, em seis livros pesquisados

sobre resistência dos materiais, ampla e atualmente usados, o assunto não aparece em dois (Amaral, 2002; Pinto, 2002), há poucas linhas dedicadas ao conceito em três (Beer & Johnston, 1981/1989; Nash, 1982; Silva, 1974) e, no livro do autor mais importante da área (Timoshenko, 1966/1976), aparece somente em nota de rodapé (p. 312). Com isso, se tem a impressão de que, hoje, o termo “resiliência” é mais utilizado pelas ciências humanas e pela psicologia do que pelas ciências exatas. E parece pouco provável que um assunto que, nas ciências exatas, seja dotado de tão pouca significância tenha ultrapassado o limite de uma área de conhecimento para gerar interesse dos pesquisadores da psicologia.

Origens etimológicas da resiliência

Já em relação às origens etimológicas, pode-se dizer que a palavra “resiliência” comporta a ideia, presente na física, de um retorno ao que se era. A palavra vem do latim resilio, resilire. Resilio, de acordo com dois dicionários latim-português (Faria, 1967; Saraiva, 2000), seria derivada de re (partícula que indica retrocesso) e salio (saltar, pular), significando saltar para trás, voltar saltando.

No Brasil, o termo “resiliência”, até ser utilizado, a partir do fim da década de 1990, nos estudos de psicologia e se espalhar para um público leigo por meio de matérias de autoajuda veiculadas na mídia, era desconhecido da maior parte da população. Não fazia parte do vocabulário coloquial brasileiro. E o que se poderia saber sobre ele nos dicionários e o que reflete o uso que os falantes da língua fazem de uma palavra era seu significado técnico ligado à física. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Ferreira, 1986, p. 1493), por exemplo, traz as seguintes definições para a palavra “resiliência”: “Resiliência [do ingl. resilience] S.f. 1. Fís. Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de uma deformação elástica. 2. Fig. Resistência ao choque”.

O oposto parecia acontecer com as palavras resilience e resiliency na língua inglesa. Ao que tudo indica, provavelmente há mais de 30 anos, elas já faziam parte do vocabulário coloquial de falantes de língua inglesa, com uma significação menos “técnica”, menos ligada à física, e mais relacionada a fenômenos humanos. Yunes (2001, 2003, 2006), buscando também a significação para a resiliência em dicionários de inglês (Longman) e português (Novo Aurélio), já havia notado essa diferença na atribuição de significados das duas línguas. Ela apontou que o dicionário de inglês que examinou coloca a definição ligada a fenômenos humanos em primeiro plano, confirmando, na língua inglesa, uma maior familiaridade ou prioridade para o uso do termo nesse tipo de fenômeno. Essa maior familiaridade da língua inglesa com a palavra resiliência fica muito evidente, quando se observam dicionários bilíngues em suas duas versões: inglês-português e português-inglês. Os conhecidos dicionários Michaelis (Novo Michaelis Dicionário Ilustrado, 1971; The New Michaelis Illustrated Dictionary, 1961) e Oxford (Fowler, Fowler, & Allen, 1990; The Oxford Portuguese Dictionary, 2002) não apresentam a palavra resiliência, para ser traduzida do português para o inglês, mas apresentam as palavras resilient que corresponde ao adjetivo “resiliente”, e resilience/resiliency, correspondente à resiliência, para serem traduzidas para o português. Oxford diz que, enquanto resilient significa “elástico” ou “resistente”, resilience quer dizer “elasticidade” ou “resistência”. Michaelis traz como traduções para resilience, elasticidade e poder de recuperação; e, para resilient, “que ressalta, elástico, que se recupera prontamente, alegre, jovial” (p. 807). De forma semelhante, o dicionário Barsa (Houaiss & Avery, 1970, p. 460) define resilience, -cy como “elasticidade, capacidade de rápida recuperação (saúde, bom humor, etc.)”. Interessante notar que nenhum dos três dicionários citados aponta as palavras “resiliente” e “resiliência” como traduções para resilient e resiliency/resilience. É como se não existissem, no português, termos equivalentes aos vernáculos da língua inglesa.

Por outro lado, esses significados citados já estavam presentes em 1970, no dicionário de inglês Barsa e, em 1961, no Michaelis, pelas datas das edições examinadas. Isso nos faz perceber que, antes que os primeiros artigos que a psicologia produziu sobre o tema da resiliência aparecessem, a palavra já era, com muita probabilidade, usada pelos falantes da língua inglesa, o que não acontecia com os falantes brasileiros do português. Vai ao encontro dessa ideia, o fato de o próprio dicionário Aurélio, citado mais acima, atribuir a origem da palavra à língua inglesa, ainda que aponte uma origem latina para o verbo “resilir”.

Sabemos que o fato de uma palavra constar em um dicionário não garante que ela seja usada realmente, mas serve como indicativo. Por outro lado, a palavra que não consta pode indicar seu pouco uso ou até sua inexistência na língua do dicionário.

Discutindo a origem física da resiliência e a escolha do termo para os estudos

Essas considerações a respeito da palavra “resiliência”, na língua portuguesa e na inglesa, e do conceito na disciplina da resistência dos materiais se prestam a questionar a ideia de que a noção de resiliência para a psicologia veio da física ou das ciências exatas. Começamos esse questionamento após a observação de que tal origem física só é relatada pela literatura brasileira e por alguns outros autores de língua latina, mas não é dito em nenhum momento pelos precursores das pesquisas (anglo-saxões) e pelos principais pesquisadores internacionais sobre o tema, como Michael Rutter, Norman Garmezy, Ann Masten, Emmy Werner e Ruth Smith, Michael Ungar, Edith Grotberg, Suniya Luthar, entre outros.

Pelo menos no Brasil, é interessante notar que isso começou a ser propagado de maneira maciça desde que Maria Ângela Mattar Yunes (Yunes, 2001, 2003, 2006; Yunes & Szymanski, 2001, 2005) começou a publicar os textos em que dá a entender que a noção para a psicologia viria da física, embora, nem sempre, afirme isso categoricamente. A autora fala do tema em relação à ciência exata, de sua origem e significado neste campo de conhecimento e das conceituações para a física, trazidas em dicionários. Em alguns textos, essa autora alerta para o risco na transposição do conceito da física para as ciências humanas (Yunes & Szymanski, 2001, 2005).

A partir dessas publicações, que se tornaram referenciais, quase todos os autores brasileiros interessados no tema passaram a reproduzir essas informações relacionadas ao campo das ciências exatas, citando Yunes, mas afirmando mais explicitamente que a resiliência da psicologia tem sua origem na física (Assis e cols., 2006; Balancieri, 2007; Couto-Oliveira, 2007; Junqueira & Deslandes, 2003; Poletto, 2007; Poletto & Koller, 2006, 2008; Souza & Cerveny, 2006a, 2006b; Yunes e cols., 2005; entre outros), ainda que alguns pesquisadores já problematizem a comparação das definições da física, quando aplicadas a fenômenos humanos. Os poucos textos sobre resiliência que existiam no país, antes dessas publicações de Yunes, não traziam esses dados, o que pode ser percebido na publicação Hutz, Koller e Bandeira (1996).

Mas se os pesquisadores de língua latina atribuem às ciências exatas o termo e/ou o conceito da resiliência, por outro lado, os autores de língua inglesa não se preocupam em explicar a origem do termo resiliência em seus trabalhos. Não atribuem à física o uso do termo, embora às vezes utilizem, para ilustrar suas ideias, símiles que usam a constituição física de algum material.

Um exemplo interessante da diferença na atribuição das origens do tema entre autores anglo-saxões e latinos aparece em um texto do pesquisador Michael Rutter. Esse autor, precursor dos estudos, referência importante para a psicologia e psiquiatria, publicou, em 1993 (Rutter, 1993a), no Journal of Adolescent Health, o texto Resilience: Some conceptual considerations, onde não disse que o termo resiliência teria vindo da física. No entanto, na versão em espanhol deste artigo (Rutter, 1993b) que é apresentada nesse mesmo número da revista, o tradutor acrescentou ao texto uma nota de rodapé que traz a definição da física para a resiliência e explica que ela é uma noção afim ao conceito psicológico e, por isso, o mesmo termo é usado nas duas situações. Mas Rutter não afirma isso em nenhum momento.

A partir do que foi apresentado, nos perguntamos: se os pesquisadores que começaram a estudar o fenômeno da resiliência e escolheram esse termo para nomeá-lo não atribuem uma origem física ao que estudam, por que os autores de língua latina o fazem?

Parece que o fato de a palavra “resiliência” não fazer parte do vocabulário brasileiro coloquial ou do vocabulário de falantes de outras línguas latinas gerou uma necessidade de entender e justificar então de onde ela teria vindo. Tendo sido encontrado o conceito da física e o termo não ser conhecido fora deste âmbito de conhecimento, pareceu plausível supor que a ideia de resiliência para a psicologia teria vindo da ciência exata. E, no Brasil, como tal origem foi divulgada por uma pesquisadora respeitada, ela passou a ser considerada um fato.

Mas para os precursores dos estudos da resiliência, falantes do inglês, a palavra já era conhecida – fora do âmbito da resistência dos materiais – e provavelmente foi escolhida por ser considerada adequada para designar os fenômenos que eram estudados e que abrangiam capacidade de resistência a pressões e estresses, processos de recuperação, regeneração, adaptação, características de personalidades flexíveis e moldáveis às circunstâncias.

A resiliência e o “espírito do tempo”: contingências históricas

Segundo nossa pesquisa, os estudos da resiliência começaram a emergir, em massa, em investigações de norte-americanos e ingleses, no final da década de 1970 e, principalmente, início da década de 1980, a partir de contingências históricas e sócio-culturais que provocaram uma convergência de interesses e objetos de pesquisa de diversas áreas da psicologia. Houve, então, uma mudança de paradigma na psicologia que se deu pela passagem da chamada abordagem ou enfoque de risco para o que depois foi chamado enfoque da resiliência.

Para Munist e cols. (1998), os dois enfoques são consequência da aplicação do método epidemiológico aos fenômenos sociais. Enquanto

o enfoque do risco centra-se na enfermidade, no sintoma e naquelas características que se associam a uma elevada probabilidade de dano biológico ou social, [o enfoque da resiliência] mostra que as forças negativas, expressas em termos de danos ou riscos, não encontram uma criança inerte na qual determinarão danos permanentes (Munist e cols., 1998, p. 10, tradução livre).

De acordo com Luthar e Zelazo (2003), a diferença básica dos dois enfoques é a natureza negativa ou positiva dos fatores que cada um focaliza. Na abordagem de risco, os resultados negativos do desenvolvimento e os fatores também negativos que nele interferem é que são focalizados, como a presença de distúrbios psicológicos e a doença mental de um dos pais. Já na abordagem da resiliência, dimensões tanto positivas quanto negativas são focalizadas nos resultados de um desenvolvimento e nos fatores que atuam sobre este.

Garmezy (1989), no prefácio do livro Vulnerable but invencible: A longitudinal study of resilient children and youth, de Werner e Smith, obra considerada por alguns um marco dos estudos da resiliência (Fantova, 2008; Garmezy, 1989; Infante, 2005; Melillo, 2005; Silva, Elsen, & Lacharité, 2003; Silveira, 2006), fala de se estar vivendo, em 1982, ano em que foi publicado originalmente o livro, no limiar de um Zeitgeist. Goethe (conforme citado por Brozek & Guerra, 2008, p. 10) define Zeitgeist como um “conjunto de opiniões que dominam um momento específico da história e que, sem nosso saber, ou inconscientemente, formam o pensamento de todos os que vivem em seu contexto”.

Garmezy (1989) notou uma mudança no Zeitgeist, na passagem dos anos de 1970 para os de 1980, a partir da observação da proliferação de estudos de estresse e coping, feitos por pesquisadores de áreas diversas como psiquiatria, biologia do desenvolvimento, psicologia do desenvolvimento, psicopatologia e sociologia. Além disso, segundo o autor, palavras e expressões como “resiliência”, “força do ego” (ego strenght), “resistência ao estresse”, etc. foram se tornando cada vez mais frequentes na linguagem científica. Para Garmezy, a obra pioneira de Werner e Smith (1989), da qual ele escrevia o prefácio, era parte dessa nova emergência na ciência, pois examinava crianças em risco, sua vulnerabilidade, avançava examinando coping e crescimento e apontando que sempre havia crianças resilientes e “invencíveis” entre aquelas de alto risco.

Quando se diz que as pesquisadoras examinavam crianças em risco, se está referindo a crianças expostas aos chamados fatores de risco, definidos como influências potenciais para dificultar o desenvolvimento normal de um indivíduo (Werner & Smith, 1992).

Já vulnerabilidade refere-se à “predisposição individual para o desenvolvimento de psicopatologias ou de comportamento ineficazes em situações de crise” (Hutz e cols., 1996, p. 80). Trombeta e Guzzo (2002, p. 32) esclarecem que “quanto mais proteção e menos risco, menor vulnerabilidade e quanto mais risco e menos proteção, maior vulnerabilidade”, sendo importante esclarecer que proteção ou fatores de proteção relacionam-se com aquilo que altera, modifica ou aperfeiçoa a resposta de uma pessoa a possíveis ameaças ao seu desenvolvimento (Rutter, 1985).

Coping, por sua vez, como explicam Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), “tem sido descrito como o conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressantes” (p. 273).

Voltando às origens dos estudos sobre a resiliência, podemos dizer que as ideias de Martineau (2001) são concordantes com as de Garmezy, pois a autora afirma que foi a partir dos mais de 1.040 estudos sobre coping e competência que as pesquisas sobre resiliência originaram-se, quando psicólogos infantis observaram a “anomalia” de crianças que aparentavam invulnerabilidade a traumas. Em sintonia com essas observações, Masten (2001), Masten e Coatsworth (1998), Masten e Powel (2007), Rutter (1985) e Waller (2001) também apontam que foi estudando crianças em risco de desenvolverem problemas psicopatológicos ou de comportamento, devido a circunstâncias genéticas ou ambientais que poderiam predispô-las a isso, que os pesquisadores começaram a perceber aquelas que estavam submetidas às mesmas condições de risco, mas se desenvolviam bem.

Werner e Smith (1989), por sua vez, afirmam que o advento de pesquisas longitudinais que acompanhavam populações desde o nascimento também pesou para que a psicologia pudesse olhar o desenvolvimento normal ou positivo das crianças, após anos de preocupação com patologias. Segundo as autoras, se os estudos retrospectivos feitos até então criavam a impressão de que determinados resultados negativos eram inevitáveis, os novos estudos provocaram um aumento da consciência sobre a capacidade de adaptação das crianças e suas habilidades de enfrentamento.

Isso porque os estudos retrospectivos tomavam sujeitos que já apresentavam problemas no desenvolvimento e buscavam em sua história o que poderia ter provocado tal resultado. Ou seja, apenas os riscos, a psicopatologia e o mau desenvolvimento eram focados. Já os estudos prospectivos e longitudinais tomavam para estudo sujeitos em situação de risco, que frequentemente “surpreendiam”, mostrando boa adaptação e bons resultados. A resiliência se mostrava nesses estudos que traziam essa “nova” metodologia.

Mas se o Zeitgeist ou “espírito do tempo” contribuiu para provocar, no fim dos anos de 1970, uma mudança de foco na psicologia e a emergência dos estudos da resiliência, o próprio Zeitgeist foi também formado a partir da conjuntura sócio-histórica do citado período. Dessa forma, devem-se procurar quais contingências históricas e socioculturais, atuantes principalmente nos países precursores dos estudos – Estados Unidos e Inglaterra –, teriam transformado o “espírito do tempo” em que começaram a surgir as pesquisas da resiliência.

Masten e Coatsworth (1998) situam a origem dos estudos sobre a resiliência em algumas condições sócio-históricas, que teriam emergido nos Estados Unidos, nos anos de 1970, e que ameaçavam o desenvolvimento infantil saudável. Segundo os autores, entre outras questões, o aumento de casos de divórcio, de gravidezes na adolescência, de abuso de crianças e de problemas como abuso de drogas e violência representava um pouco dos riscos aos quais as crianças estavam submetidas.

Os autores relacionaram tais condições sócio-históricas com o florescimento das pesquisas sobre resiliência, pois, segundo eles, foi investigando os riscos aos quais a infância estava submetida que o citado fenômeno foi observado. Isso porque se tornou particularmente importante entender como crianças ameaçadas em seu desenvolvimento poderiam alcançar sucesso ou demonstrar competência.

Como, para esses autores, estudar resiliência representa entender como crianças apresentam bom desenvolvimento após superar adversidades, neste momento histórico, em que a sociedade americana sentia que seu futuro estava ameaçado pelos riscos que sua infância corria, tornava-se importantíssimo entender como se poderia escapar às ameaças e aos riscos. E aí, os estudos da resiliência se multiplicaram.

A informação histórica, trazida por Masten e Coatsworth (1998) sobre os anos em que os estudos da resiliência iniciaram sua proliferação, está de acordo com a descrição que o historiador Eric Hobsbawm (1994/2001) faz do período em seu livro “Era dos Extremos: O breve século XX”: após uma “Era de Ouro”, acontecida no pós-guerra até mais ou menos 1975, o mundo vivenciou um período de crise em que houve desemprego em massa, a pobreza e as desigualdades sociais e econômicas se aguçaram. Por outro lado, havia menos inquietação social, porque os países capitalistas ricos proviam ao seu povo sistemas de previdência e seguridade social generosos.

Além disso, os tempos passaram a ser marcados pelo individualismo que substituiu paulatinamente a coletividade característica de uma era anterior em que a vida, o trabalho e os prazeres eram vivenciados em massa. Tal individualismo é consequência das profundas transformações sociais atreladas ao extraordinário crescimento econômico pelo qual passou o mundo na anterior “Era de Ouro”. É consequência, também, da tecnologia emergente acessível às massas, agora em melhor situação econômica, e da lógica do mercado. A televisão, o vídeo e o telefone são exemplos de novas tecnologias que fizeram com que o homem moderno deixasse de compartilhar a vida em público.

Por fim, ao longo dos anos de 1980, o mundo viu a Guerra Fria perder o sentido enquanto o bloco socialista, encabeçado pela URSS, ruía, pondo fim à utopia da coletividade altruísta que poderia prover as necessidades da humanidade por meio de uma divisão justa de riquezas. Com isso, as pessoas acabaram por perder as bases que sustentavam sua visão de mundo até então bipartido entre as forças do socialismo ou do capitalismo.

E nesse contexto de aumento de pobreza e riscos, de desmobilização social, de transformações de valores morais e de maior importância do indivíduo sobre a coletividade é que proliferaram os estudos da resiliência, entendida, nesse início, a partir de uma perspectiva bastante individualista.

Em diferentes linhas de pesquisa, profissionais de várias formações, observando crianças submetidas a outros fatores de risco, como alcoolismo, drogadição e doenças mentais de seus cuidadores, notaram aquelas que, contra todas as probabilidades, se desenvolviam satisfatoriamente.

Autores da época chamaram esses indivíduos de invulneráveis, invencíveis (Anthony & Cohler, 1987). Mas como esses não seriam os termos mais adequados para os fenômenos que se tornavam visíveis, “resiliência” passou a nomeá-los, e mais estudos sobre ela foram realizados.

Considerações finais

Neste artigo, apresentamos o que entendemos da história do conceito de resiliência e questionamos sua suposta origem física. Podemos fazer algumas considerações sobre a relação entre a forma como grupos de pesquisadores entendem as origens da resiliência e a concepção que adotam.

Vimos que pesquisadores “não anglo-saxões” atribuem uma origem na Física ao termo e/ou conceito “resiliência”, o que não é mencionado pelos pesquisadores referenciais de língua inglesa. E é possível perceber que os estudiosos anglo-saxões adotam uma concepção de resiliência diferente daquela adotada por estudiosos falantes de línguas latinas.

Para a maioria dos anglo-saxões, com a exceção de alguns autores (Flach, 1991; Grotberg, 2005; Murphy, 1987; Walsh, 1998/2005), a resiliência é um fenômeno relacionado à resistência ao estresse e, sendo assim, são escolhidos como sujeitos de pesquisa pessoas que não se abalaram em situações adversas e demonstram o que eles chamam de competência. A noção de adaptação, em sentido de ajustamento social, está inserida nessa concepção. Já para os pesquisadores brasileiros e outros de língua latina, os estudos de resiliência estão relacionados aos fenômenos de resistência ao estresse, mas também aos de recuperação e de superação. Em consequência dessa concepção ambivalente do conceito, nesses estudos não anglo-saxões, são escolhidos como sujeitos de pesquisa tanto pessoas que se abalaram e se recuperaram quanto aquelas que permaneceram bem todo o tempo. Assim, estudam-se fenômenos diferentes sob a mesma nomenclatura, dando o nome genérico de resiliência a todos ou a qualquer um dos fenômenos.

Perguntamo-nos: por que um grupo de pesquisadores não tem dúvida de que a resiliência que estudam é a resistência ao estresse e o outro estuda dois fenômenos como se fossem um só?

Consideramos que a resposta se relaciona com o fato de que os pesquisadores anglo-saxões e os outros iniciaram seus estudos sobre a resiliência em pontos de partida distintos. Os anglo-saxões estavam estudando justamente o fenômeno de resistência ao estresse, ao qual chamavam invulnerabilidade, quando mudaram a nomenclatura para resiliência. Chamava-lhes a atenção a existência das pessoas que tinham toda a probabilidade de apresentar mau desenvolvimento, mas apresentavam-se bem. Em seus estudos sobre invulnerabilidade e resiliência, não estavam procurando entender pessoas que se recuperavam de traumas ou que se abatiam em situações de risco, mas depois ficavam bem. Ao longo do tempo, em sua maioria, continuaram a estudar basicamente o mesmo tipo de fenômeno, embora tenham avançado muito em suas teorizações.

Os brasileiros e os pesquisadores de língua latina, por sua vez, começaram seus estudos sobre o tema cerca de 20 anos depois dos americanos e ingleses, e seu ponto de partida foi a literatura anglo-saxônica (como não poderia deixar de ser, pois era a única disponível). Sendo assim, começaram a estudar resiliência como resistência ao estresse. No entanto, posteriormente, começaram a trazer definições de resiliência que incluíam o sentido de superação e começaram a estudar o fenômeno de recuperação.

Concluímos que a busca pelas origens do termo “resiliência” nas ciências exatas, o que não se deu nas pesquisas dos anglo-saxões, tenha influenciado essa “mudança de foco” dos estudos. Isso porque, para a resistência dos materiais, como já foi dito, a noção de resiliência está ligada ao conceito de elasticidade dos materiais que se deformam sob pressão, mas depois voltam à sua forma original, demonstrando poder de recuperação. Dessa maneira, como os pesquisadores não anglo-saxões da psicologia e das ciências sociais foram buscar uma base para seus estudos nas ciências exatas, nas quais a resiliência tem esse sentido de recuperação, levantamos a hipótese de que a concepção de recuperação que a resiliência passou a ter possa ter vindo dali.

É importante considerar, no entanto, em relação à resiliência entendida como possibilidade de recuperação que, atualmente, autores nacionais e internacionais de renome avançaram muito nessa concepção e concebem que a capacidade de resiliência vai muito além de se recuperar de um dano, pois implica uma superação do que se era, bem como crescimento pessoal (Assis e cols., 2006; Junqueira & Deslandes, 2003; Silveira, 2006; Ungar, 2005; Walsh, 1998/2005, entre outros).

A diferença de concepções de resiliência traz consequências importantes para os projetos de intervenção social que utilizam o conceito. Os projetos advindos da concepção de resistência ao estresse objetivam proporcionar essa resistência ao máximo de pessoas possível e, para isso, potencializam os fatores de proteção e tentam minorar a ação dos fatores de risco. Esses projetos visam a conseguir um máximo de pessoas competentes e bem adaptadas que não se abalem diante das adversidades. Seus objetivos não estão voltados para os que já sucumbiram intentando recuperá-los. Por outro lado, projetos de resiliência baseados em concepções de recuperação e superação já se voltam aos que se mostram mais fragilizados diante de adversidades, com objetivos de fortalecê-los, recuperá-los e torná-los mais fortes.

Por tudo isso, consideramos fundamental que aqueles que estudam a resiliência entendam sobre a construção do conceito, considerando que essa se relaciona estreitamente com a concepção adotada.

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Juliana Mendanha Brandão é Professora do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte-MG.

Miguel Mahfoud é Professor Associado do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento é Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um pouco mais sobre o conceito de resiliência

As definições de resiliência são diversas e várias, dependendo não somente da visão teórica, mas também dos próprios autores dessas correntes. Apesar dessa diversidade e até mesmo da dificuldade de se definir resiliência, esse construto tem servido como modelo de estudo, como ferramenta e como prática para diversas ações no mundo afora. Nesse sentido, colocarei aqui apenas alguns pontos de vista sobre o conceito de resiliência e não necessariamente concordando com todos eles.

Pode-se afirmar, com Hauser & Allen, que resiliência pode se referir a três grandes classes de fenômenos na literatura psicológica.

1. Indivíduos em altos grupos de risco que se saíram melhor do que lhes era esperado. Histórias de percursos de vida inesperados são com frequência consistentes com as descobertas geradas por estudos baseados em variáveis de conseqüências específicas em crianças resilientes de alto risco. O estudo desse fenômeno busca por preditores de boas conseqüências, jogando luz sobre fatores de proteção que podem levar a tais conseqüências.

2. Uma boa adaptação individual apesar dos eventos adversos. Esta segunda conceitualização leva a uma aproximação com a trajetória de vida individual, em contraste com uma visão epidemiológica inerente na visão de risco.

3. Diferenças individuais na recuperação do trauma. Experiências traumáticas representam adversidades de grande severidade, com início agudo ou repetição crônica, indo bem além dos desafios enfrentados no desenvolvimento normal. Por sua natureza, é esperado que as experiências traumáticas reduzam a qualidade de vida do indivíduo (Hauser & Allen, 2006).

Para muitos autores, resiliência pode ser amplamente definida como o processo pelo qual consequências positivas são alcançadas num contexto de adversidade. Para satisfazer essa definição é essencial que os estudos foquem em amostras de alto risco, porque resiliência não é ajustamento positivo por si mesmo, mas sim nos contextos de grande adversidade.

A emergência da teoria da resiliência está associada a uma redução na ênfase em patologia e um aumento na ênfase nas fortalezas, havendo uma mudança de foco do déficit para a superação frente às adversidades. Ou seja, há um distanciamento do modelo patogênico dominante para um modelo salutogênico (Boyden & Cooper, 2007).

Meredith e col. (Meredith et all, s/d) afirmam que, conforme reviram documentos da literatura sobre resiliência, também trilharam por várias definições desse conceito. Em alguns casos, essas definições parecem ter sido originadas em documentos prévios e alguns documentos listam múltiplas definições. Eles classificaram as definições que foram encontrando em três tipos principais:

1- Basic: definições que descrevem resiliência como um processo ou capacidade que se desenvolve com o tempo.

2- Adaptação: definições que incorporam o conceito de “bouncing back”, adaptação ou retorno à situação anterior à experiência de adversidade ou trauma.

3- Crescimento: definições que adicionalmente envolvem crescimento após a experiência de adversidade ou trauma.

Michael Ungar (Ungar, 2004) cria uma abordagem construcionista da resiliência, refletindo uma interpretação pós-moderna desse constructo, definindo-o como as conseqüências de negociações entre indivíduos e seus meio-ambientes com relação aos recursos que podem defini-los como saudáveis em meio a condições vistas coletivamente como adversas. O autor aponta ainda pesquisas que suportam resiliência como uma construção social, afirmando que tem encontrado uma relação não sistêmica e não hierárquica entre risco e fatores de proteção, descrevendo o relacionamento entre esses fatores através de uma cultura ampla. Esse ponto de vista é contrário de interpretações ecológicas de resiliência que são propagadas pela cultura dominante, assim como difere do estruturalismo – que afirma que é o relacionamento entre os comportamentos e os fatos/eventos que compõem a vida dos indivíduos ou grupos o que constitui o objeto principal do conhecimento – e do ponto de vista fenomenológico, onde resiliência é descrita como sendo necessariamente alguma coisa a mais que um simples ajustamento ou simples adaptação à adversidade.

Rutter (citado por Yunes & Szymanski, 2001) aponta quatro mecanismos que protegem os indivíduos contra riscos psicológicos e adversidades: 1- aqueles que reduzem o impacto ao risco; 2- os que reduzem a possibilidade de uma resposta negativa em cadeia; 3- aqueles que promovem o estabelecimento e manutenção da auto-estima e auto-eficácia através da presença de relações de apego seguras e incondicionais e o cumprimento de tarefas com sucesso; e 4- aqueles que possibilitam a abertura para novas oportunidades, no sentido de um “ponto de virada”.

Alguns autores apontam os aspectos ideológicos do conceito de resiliência, mostrando que a maioria dos estudos em resiliência tem se debruçado em metodologias chamadas “cross-sectional”, investigando predominantemente americanos de origem européia e classe média, em vez de grupos com maior diversidade de etnia e condição sócio-econômica (Adriance, 2001), o que aponta que o conceito de resiliência (ou os estudos sobre ele) está envolto em ideologias relacionadas à noção de sucesso e de adaptação às normas sociais.

Por fim: “resiliência é um conceito fácil de entender, mas difícil de definir” (Rodriguez, 2002)

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domingo, 4 de setembro de 2011

RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA


A resiliência comunitária, essa capacidade sustentada de uma comunidade para suportar e superar as adversidades de todos os tipos, tem se tornado uma questão política fundamental nos últimos anos. No entanto, não existe muita clareza com relação a qual é o processo a ser percorrido pela comunidade para se tornar resiliente, ou seja, quais as ferramentas para ela se recuperar rapidamente de um desastre. Sabemos que comunidades pobres e mais vulneráveis tendem a se recuperar de forma lenta; no entanto, dependendo do seu acesso a recursos sociais, sua recuperação pode ser acelerada.

A expansão do conceito de resiliência do nível familiar para o nível da comunidade tem apresentado algumas dificuldades, pois esse desenvolvimento tem ocorrido bem recentemente e apresenta uma tendência de se ver a resiliência comunitária como somente o fato da comunidade estar promovendo a resiliência das famílias e dos indivíduos que a compõem.

Maior atenção foi sendo dada à comunidade como uma fonte de fatores protetores, conforme a teoria da resiliência evoluiu. Em particular, o suporte social tem sido bem explorado, pesquisado e documentado, sendo localizado fora dos limites da família imediata, ou seja, as pessoas tem buscado recurso na família estendida, nas comunidades religiosas, na comunidade local, na comunidade do trabalho, etc.

Dentro da comunidade, a função do apoio social é operar na redução do estresse, melhorando o ajuste entre a pessoa e o meio ambiente. Isso ocorre de duas maneiras principais: quando uma pessoa recebe incentivo para sua auto-confiança e suporte emocional ela consegue se adaptar melhor às agressões ambientais, experimentando menos estresse; e uma pessoa que tenha suporte de rede (e, portanto, um sentido de participação na tomada de decisões) está em melhor posição para assumir o controle do estresse e alterar o estressor ambiental. Ou seja, as pessoas que recebem suporte social são teoricamente mais capazes do que pessoas que não recebem para se adaptar e/ou modificar estressores ambientais, acomodando-se mais facilmente ao ambiente. Isso resulta em melhor ajuste e funcionamento psicossocial.

É preciso ter em conta que resiliência comunitária implica o contínuo desenvolvimento da capacidade da comunidade para compreender suas vulnerabilidades e refinar habilidades que a auxiliem para prevenir, suportar e mitigar o estresse de um incidente qualquer, recuperar-se de uma forma que retorne a um estágio de auto-suficiência e ao menos ao mesmo nível de funcionamento social de antes do incidente e usar o conhecimento de uma resposta anterior para fortalecer sua habilidade de suportar o próximo incidente.

A saúde física e psicológica da população são componentes-chave da resiliência comunitária que, se estiverem inadequadas, afetam diretamente a vulnerabilidade da comunidade antes do desastre e sua capacidade de recuperação. Outros componentes são: comunicação efetiva sobre o risco; nível de integração social de organizações governamentais e não governamentais em planejar, responder e se recuperar; e a conectividade social dos membros da comunidade (CHANDRA et all, 2011).

Nesse sentido, para desenvolver sua resiliência, a comunidade deve obter a participação ativa dos seus membros no planejamento das atividades em geral e, principalmente, nos eventos de prevenção, desenvolver redes sociais (incluindo um senso de pertencimento e envolvimento e integração com a vizinhança), criar planos e programas para encaminhar e suportar as necessidades funcionais de indivíduos em risco (incluindo crianças) e colocar em funcionamento planos que respondam efetivamente às necessidades de saúde física e psicológica dos membros da comunidade no pós-desastre (enfatizando a parceria entre as organizações, incluindo um plano de prevenção integrado, com exercícios e acordos).

A educação na oomunidade é um processo contínuo em que a comunidade adquire conhecimento sobre os papéis, responsabilidades e expectativas para a preparação individual, bem como as maneiras como os indivíduos podem trabalhar em conjunto com outros membros da comunidade para responder e se recuperar de um incidente qualquer.

Outras estratégias para a comunidade se comunicar eficazmente com seus membros em situação de risco incluem o seguinte:

• Trabalhar as normas e crenças individuais na elaboração de mensagens de comunicação de risco;

• Identificar fontes confiáveis de informação e incentivar a comunicação aberta durante uma crise;

• Identificar e treinar membros da comunidade e usá-los para transmitir mensagens de saúde pública durante uma crise;

• Construir a confiança antes de um desastre através de parcerias com a comunidade.

A resiliência de uma comunidade repousa sobre sua capacidade de aproveitar seus próprios recursos internos frente às adversidades, sendo também capaz de rapidamente restaurar um estado de auto-suficiência após uma crise. Tendo em conta estes atributos, o envolvimento do cidadão participativo na tomada de decisões para atividades de planejamento, resposta e recuperação é especificamente identificada como um tema-chave, implicando a participação ativa de moradores da comunidade na resposta e no planejamento dessa recuperação (CHANDRA et all, 2011).

Por fim, é preciso um olhar renovado das políticas públicas para as fortalezas existentes na comunidade, utilizando-se da resiliência comunitária para prepará-la para a prevenção e o enfrentamento de crises, propiciando uma saúde física e psicológica que previnam seu adoecimento.

BIBLIOGRAFIA

CHANDRA, A. et all. Building Community Resilience to Disasters A Way Forward to Enhance National Health Security, Randy Corporation, 2011;

VANBREDA, A. Resilience Theory: A Literature Review with special chapters on deployment resilience in military families. South African Military Health Service, Military Psychological Institute, Social Work Research & Development, October 2001.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

MEDICALIZAÇÃO DE CRIANÇAS

Abaixo texto traduzido por mim do livro "Nutrindo resiliência em nossos filhos" (no final está o texto original em inglês), que reflete sobre a necessidade de alguns pais quanto à medicalização de suas crianças.

QUESTÃO

Eu tenho um filho de nove anos de idade. Ele é hiperativo e muito sensível a desapontamentos e apresenta problemas com organização. Ele nunca fica pronto a tempo. Por causa desses seus comportamentos muitas crianças não querem brincar com ele. Ele está sempre sozinho e reclama que as pessoas não gostam dele. Está claro que ele está infeliz. Eu sei que há diferentes medicamentos para ajudar as crianças. Eles podem ajudar meu filho? Parece ser uma questão tola, mas como eu desejo ardentemente ajudar meu filho a ser resiliente, existe alguma medicação que possa ajudá-lo a ser resiliente?

RESPOSTA

Vamos começar primeiro com sua última questão. Tanto quanto sabemos não há atualmente medicamento no mercado ou pesquisas de medicamentos dirigidos para aumentar a resiliência. No entanto, para você não perder a esperança de seu filho aumentar suas perspectivas, podemos dizer que há medicamentos aprovados para melhorar certos problemas da infância, problemas que podem de fato reduzir a capacidade da criança para desenvolver uma mentalidade resiliente. A forte sensibilidade de seu filho a desapontamentos também reflete seu baixo limite emocional e alta intensidade de reação, típica de muitos jovens com um temperamento “difícil”. Problemas com hiperatividade e organização geralmente acompanham esse perfil. Crianças com esses comportamentos geralmente experimentam dificuldades para fazer e manter amizades a partir do momento em que suas habilidades interpessoais são afetadas adversamente por esses comportamentos. Alguns podem inicialmente procurar desesperadamente por amizades, mas quando se deparam com um fracasso, eles se recolhem para seus quartos, convencidos de que ninguém pode gostar deles. Não é de admirar que muitas crianças parecidas com seus filhos relatem estarem sozinhos e se sentirem solitários. Um garoto nos contou em lágrimas, “eu chamo outras crianças para brincar, mas elas estão sempre ocupadas e ninguém nunca me chama”.

Em ambientes clínicos, crianças com esse padrão também são frequentemente descritos como tendo problemas para manter a atenção, frequentemente levando a um diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Quando as crianças recebem esse diagnóstico, a questão sobre qual o papel que os medicamentos podem ter em seu plano de tratamento é rapidamente colocada. Mantenha em mente que nós acreditamos fortemente que pílulas não substituirão as habilidades. Uma pílula não é uma substituta para pais carinhosos e disponíveis, um grupo de amigos, um professor competente ou experiências de vida satisfatórias. Medicamentos estimulantes, em particular, são, no entanto, efetivos em reduzir os sintomas do TDAH e as consequências adversas apresentadas por essas crianças. O uso desses medicamentos para TDAH está bem demonstrado por cerca de quatrocentos estudos apontando melhora nos sintomas em curto prazo. Mas melhora dos sintomas não quer dizer mudanças em longo prazo. Assim, não existe um único estudo sequer sugerindo que quando crianças com TDAH tomam medicamentos eles se tornam melhor quando adultos que outras crianças que não fazem uso. Ao contrário, portanto, quando eles fazem uso de medicamentos que melhoram seu comportamento, é mais provável que seus professores e pais os apreciarão mais e gritarão menos com eles.

Estudos envolvendo milhares de crianças tratadas com medicamentos estimulantes tem demonstrado que eles são efetivos em mais do que setenta por cento do tempo. Outras classes de remédios, como antidepressivos, algumas vezes são efetivos, mas não tem provado serem tão efetivos quanto os estimulantes, incluindo metilfenidato (comercializado como Ritalin®, Concerta® e Mthylin®), sais mistos de sulfato de anfetamina (comercializado como Adderall®) e dexedrine (comercializado como Dextrostat®).

Pais frequentemente se preocupam que os medicamentos sedam seus filhos, mas esse não é o caso. Ao invés disso, quando usados adequadamente, esses medicamentos aumentam a capacidade da criança para o autocontrole. Estimulantes tem-se demonstrado aumentando o autocontrole em até mesmo crianças e adultos sem comportamentos alterados. Todavia, crianças que recebem o diagnóstico de TDAH se beneficiam em um grau muito maior. Esses remédios aumentam a capacidade para o pensar antes de agir, controlar impulsos e regular o comportamento. O mecanismo exato desses medicamentos não é compreendido, mas eles parecem estimular partes do cérebro que estão com baixa estimulação, em particular o córtex pré-frontal direito, gânglios de base e cerebelo. Os elos entre esses três órgãos no cérebro parecem ser criticamente importantes para o autocontrole. Esses medicamentos não mascaram os sintomas de TDAH, mas agem diretamente na causa do problema pelo ajuste da condição bioquímica com as capacidades das crianças para desenvolver e demonstrar autocontrole, evitando um comportamento impulsivo e atenção sustentada empobrecida.

Estima-se que mais de três milhões de crianças (EUA) recebem atualmente medicamento estimulante para TDAH. Não existe uma evidência conclusiva que esse tipo de tratamento leve à dependência ou adição. Ou nenhuma evidência que isso afete negativamente a elevação do potencial da criança ou cause mudanças de personalidade a longo prazo ou outras complicações mais sérias. O efeito negativo mais comum para as crianças é a perda do apetite e insônia conforme o medicamento perde o efeito.

Nós acreditamos que o uso desses medicamentos para tratar crianças com TDAH é importante em muitos casos. Mas de novo, tenha em mente que os remédios não ajustam magicamente o comportamento desafiador da criança ou problemas de aprendizagem, nem levarão magicamente a criança a desenvolver uma mente resiliente na ausência do cuidado e suporte dos pais. Ainda, a decisão de colocar a criança sob o efeito desses medicamentos deverá ser baseada numa aprofundada avaliação psicológica e neuropsicológica, incluindo a conclusão de uma lista, realizada por professores e pais, sobre os comportamentos da criança.

Queremos enfatizar que mesmo se uma criança se beneficie de medicamentos, eles não deverão ser utilizados como uma única abordagem de intervenção. Algumas crianças com sintomas de leves a moderados de TDAH geralmente respondem bem a um manejo coerente do comportamento, ou a uma abordagem de solução de problemas em casa e na escola; algumas dessas crianças podem não responder com sucesso à medicação. O programa de solução de problemas que advogamos é baseado em grande parte no trabalho de Myrna Shure, autora de Raising a Thinking Child e Raising a Thinking Pretten. Essa abordagem, na qual a criança é chamada para identificar seu problema, pensar as possíveis soluções e conseqüências e selecionar a solução que parecer a melhor possível de ter sucesso, é um programa que pode ser utilizado com ou sem a criança fazer uso de medicação.

Mais especificamente, no caso do seu filho, seria importante você discutir com ele o problema de ser organizado e estar pronto a tempo. Inicie com ele um diálogo sobre (a) os problemas que resultam dele não estar pronto a tempo, (b) o que interfere para estar pronto e (c) possíveis soluções. Por exemplo, nós trabalhamos com famílias nas quais as crianças selecionam na noite anterior as roupas que querem usar na manhã seguinte e tenham seus livros e trabalhos de escola colocados em suas mochilas antes de irem para cama. Tão simples como parece ser, quanto mais as coisas estão preparadas na noite anterior, menor a probabilidade de uma criança ficar procurando freneticamente coisas na manhã seguinte.

Outras famílias usarão uma lista elaborada pela criança e pais para lembrar à criança que necessidades precisam ser satisfeitas de manhã. Uma criança, preocupada se poderia esquecer o que estava na lista que foi colocada na porta de seu quarto, pediu para que essa lista fosse colocada também no quadro de recados da cozinha e na porta do banheiro. Essa criança apreciava suas dificuldades conseguindo se organizar e seguindo a rotina e entendendo que no momento ela precisava de tantos apoios visuais quanto possível. A partir do momento em que ela ajudou a criar esses apoios visuais, sentiu-se empoderada e, assim, relembrava de checar as listas. Muito importante, seu envolvimento em uma abordagem de solução de problemas nutriu uma mentalidade resiliente. Mas lembre-se que não toda intervenção será sucedida e muitas levarão tempo para serem abraçadas.

A presença desses tipos de abordagens comportamentais para aumentar o auto-controle e deixar mais satisfatórios os relacionamentos prontificou-nos para enfatizar um outro ponto. Muitos pais acreditam incorretamente que se as crianças com TDAH tomarem remédio por um número de anos, elas desenvolverão autocontrole mais rapidamente e que até certo ponto elas podem parar a medicação e continuarem bem. Infelizmente, o dia em que a medicação for retirada as crianças ficarão parecidas com o dia em que começaram a fazer uso. Portanto, tratar muitas crianças com TDHA com medicamentos é similar a tratar diabetes com insulina. Quando o remédio é tomado, o funcionamento melhora; removendo a medicação, o funcionamento regride, mesmo após um longo período de sucesso no tratamento. Assim, acreditamos piamente que junto com a medicação nós devemos continuar ajudando as crianças com atraso no desenvolvimento do autocontrole a acelerar suas habilidades para desenvolver autodisciplina e habilidades para solução de problemas (Nurturing resilience in our children, Robert Brooks & Sam Goldstein, 2003, p. 125).


QUESTION

I have a nine-year-old son. He is hyperactive and overly sensitive to disappointment and has trouble with organization. He is never ready on time. Because of these behaviors most children don´t want to play with him. He is often by himself and complains that people don´t like him. Clearly he is unhappy. I know there are different medications to help kids. Can medication help my son? This may also seem like a silly question but since I desperately want my son to be resilient, is there a medication that can help him to be resilient?

ANSWER

Let´s start with your last question first. As far as we are aware, there are no medications currently on the market or in research directed at improved resilience. However, lest you lose hope for your son improving his outlook, we can say there are medications approved to ameliorate certain childhood problems, problems that may in fact reduce a child´s capacity to develop a resilient mindset. Your son´s oversensitivity to disappointment likely reflects his low emotional threshold and high intensity of reaction, typical of many youngsters with a “difficult” temperament. Problems with hyperactivity and organization often accompany this profile. Children with these behaviors typically experience struggles making and keeping friendships since their interpersonal skills are adversely affected by these behaviors. Some may at first desperately seek friendships but when they met with failure, they may retreat to their rooms, convinced that no one will ever like them. It is little wonder that many children similar to your son report being all alone and lonely. One boy told us with tears, “I call other kids to ask them to play but they are always busy and no one ever calls me”.

In clinic settings, children with this pattern are also frequently described as having problems with sustained attention and impulsivity, frequently leading to a diagnosis of Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD). When children receive this diagnosis the question about the role medications may play as part of their treatment plan is quickly raised. Keep in mind that we believe strongly that pills will not substitute for skills. A pill is not a substitute for an available, caring parent, a set of friends, a competent teacher, or successful life experiences. Stimulant medications, in particular, however, are effective in reducing the symptoms and adverse consequences children with ADHD demonstrate. The use of these medications for ADHD is well established with nearly four hundred studies demonstrating short-term symptom relief. But symptom relief is not synonymous with changing long-term outcome. Thus, there is not a single study suggesting that when children with ADHD take medicine they turn out better as adults than those children who do not. In contrast, however, when they take medicine and it improves their behavior, it is more likely their teachers and parents will appreciate them more and yell at them less.

Studies involving thousands of children treated with stimulant medications have demonstrated that medication is effective more than 70 percent of the time. Other classes of medicines such as antidepressants sometimes are effective but have not proven to be as effective as the stimulants, including methylphenidate (marketed as Ritalin®, Concerta®, and Mthylin®), mixed salts of amphetamine sulfate (marketed as Adderall®), and dexedrine (marketed as Dextrostat®).

Parents often worry that medications sedate children but this is not the case. Instead when used appropriately, these medications increase children´s capacity for self-control. Stimulants have been demonstrated to increase self-control in even unaffected children and adults. However, children receiving the diagnosis of ADHD benefit to a much greater degree. These medicines increase the capacity to think before acting, control impulses, and regulate behavior. The exact mechanism of these medications is not well understood, but they appear to stimulate parts of the brain that are understimulated, in particular, the right prefrontal cortex, basal ganglia, and cerebellum. The pathways between these three organs in the brain appear critically important for self-control. These medications don´t mask the symptoms of ADHD but directly act on a cause of the problem by adjusting a biochemical condition that interferes with children´s capacity to develop and demonstrate self-control leading to impulsive behavior and poor sustained attention.

It is estimated that more than three million children now receive stimulant medication for ADHD. There is no conclusive evidence that treatment leads to chemical dependence or addiction. Nor is there any evidence that it negatively affects a child´s potential height or causes long-term personality change or other serious illness. The most common negative side effects for children are loss appetite and insomnia as the medicine wears off.

We believe that the use of these medications to treat children with ADHD is important in many cases. But again, keep in mind that the medicine will not magically fix poor classroom or defiant behavior or learning problems, nor will it magically lead children to develop a resilient mindset in the absence of parental care and support. Also, the decision to place a child on medication should be based on a thorough psychological and neuropsychological evaluation, including the completion of checklist about the child´s behavior from parents and teachers.

We want to emphasize that even if a child benefits from medication, it should not be used as the only intervention approach. Some children with more mild to moderate symptoms of ADHD often respond well to a consistent, behavior management or problem-solving approach at home and school; some of these children may not have responded successfully to medication. The problem-solving program we advocate is based in great part on the work of Myrna Shure, author of Raising a Thinking Child and Raising a Thinking Preteen. This approach, in which children are enlisted to identify the problem, think of possible solutions and their outcomes, and then select the solution that appears to have the best possible chance of success, is a program that can be utilized with or without a child taking medication.

More specifically, in terms of your son, it would be important to discuss with him the problem of being organized and getting ready on time. Engage him in a dialogue of (a) the problems resulting from not being ready on time, (b) what interferes with his getting ready, and (c) possible solutions. For example, we have worked with families in which children select the evening before what clothes to wear the next day, and they have their books and homework placed in their book bags before they go to bed. As simple as this might seem, the more that things are prepared the evening before, the less the likelihood of a child frantically running around looking for things the next morning.

Other households will use a list drawn up by the child and parents to remind the child what needs to be done in the morning. One child, concerned he would forget what was on the list that was placed on the door of his room, requested that the list also be placed on the bulletin board in the kitchen and on the door of bathroom. This child appreciated his difficulties getting organized and following a routine and realized that at present he required as many visual aids as possible. Since he helped to create these visual aids, he felt more empowered and, thus, remembered to check the lists. Very important, his involvement in a problem-solving approach nurtured a resilient mindset. But remember, not every intervention will be successful and many will take time before they take hold.

The presence of these kinds of behavioral approaches to increase self-control and hopefully, more satisfying peer relationships prompts us to emphasize another point. Many parents incorrectly believe that if children with ADHD take medicine for a number of years, they will develop self-control more rapidly and at some point they can stop the medication and continue functioning well. Unfortunately, the day medicine stopped for many children appears similar to the day before it was started. Thus, treating many children with ADHD with medication is similar to treating diabetics with insulin. When the medicine is taken, functioning improves. Remove the medication and functioning quickly regresses, even after a long period of successful treatment. Thus, we believe strongly that along with medication we must continue helping children with delayed development of self-control accelerate their abilities to develop self-discipline and problem-solving skills (Nurturing resilience in our children, Robert Brooks & Sam Goldstein, 2003, p. 125).