Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

terça-feira, 29 de março de 2011

Influências genéticas no processo de resiliência individual


Reginaldo Branco da Silva

Nos últimos anos estudos sobre resiliência que tem levado em conta a análise de condições multifatoriais para chegar a conclusões do por que algumas pessoas sucumbem a situações de adversidade, e outras não, mostram o equívoco de análises que se baseiam somente em características individuais como fatores de enfrentamento e superação de situações de tensão. Levar em conta também os fatores comunitários, culturais, ambientais e genéticos facilita a abordagem nos estudos sobre resiliência, bem como a intervenção como promoção de possibilidades de enfrentamento (coping), tirando das costas do indivíduo a responsabilidade única pelo sucesso ou insucesso na superação das situações de adversidade.

Este texto é sobre a defesa da participação dos aspectos biológicos no processo de resiliência, mais ainda, sobre como a plasticidade cerebral influencia, e é influenciada, pelos aspectos sociais, culturais, espirituais e psicológicos do indivíduo; ou seja, como o cérebro muda e pode ser mudado pelas experiências do dia a dia. Essa plasticidade tem, comprovadamente, um componente genético importante na sua construção e é vista como um dinâmico processo do sisterma nervoso central (CNC) que orquestra constantemente alterações neuroquímicas, estruturais e funcionais em resposta à experiência. De fato, tem sido sugerido que a plasticidade do cérebro humano é um dos mecanismos centrais que definem o sucesso evolutivo da espécie humana.

O progresso continuado das pesquisas sobre as experiências de enfrentamento que os indivíduos realizam e como os componentes biológicos, mormente a genética, atuam facilitando ou dificultando essas experiências permitem que se tenha uma imagem mais abrangente e sofisticada do processo de resiliência. No entanto, é preciso ter claro que essa perspectiva não deve ser interpretada erroneamente como se a resiliência fosse um fruto somente da biologia. Além disso, a inclusão de medidas biológicas da pesquisa em resiliência não deve dar ouvidos a cientistas que pensam que isso seria voltar para o momento em que alguns defendiam a ideia de que havia crianças ´invulneráveis´ (CHICHETTI & BLENDER, 2006, p. 250). Por tudo isso, tem havido cientistas que tem fechado os olhos à importância da genética e não incorporado esse componente em seus estudos sobre os determinantes da resiliência, não levando em conta que o conhecimento da variação genética pode auxiliar na identificação de quais indivíduos seriam mais vulneráveis aos efeitos adversos e quais as função protetoras por genes estariam presentes, através da investigação da interação gene × meio ambiente (G × E). Essa negação pode aumentar a possibilidade de serem apontados fatores emocionais em determinados casos de resiliência que na verdade são obtidos por fatores genéticos (Rutter, 2007, p. 497).

A participação dos componentes biológicos como determinantes do processo de resiliência é evidenciada na função do sistema neural e neuroendócrino em relação ao enfrentamento da adversidade, e pesquisas sobre genética molecular podem revelar os elementos genéticos que servem como proteção para os indivíduos que experimentam tensões significativas, tais como crianças que sofrem maus tratos familiares, abandono, violência sexual, etc. Além disso, uma poderosa ferramenta para a identificação dos genes da vulnerabilidade e da proteção poderá ser em breve utilizada, que é o mapa de haplótipos humanos, “o que permitirá fornecer informações valiosas sobre a variação genética individual que, em interação com experiências ambientais específicas, podem levar a distúrbio mental ou resiliência, respectivamente” (CHICHETTI & BLENDER, 2006, p. 250).

A análise múltifatorial enfatiza a importância fundamental das inter-relações de diversos fatores em seus estudos, não relegando os resultados a um único fator, o biológico ou psicológico, por exemplo, nas pesquisas sobre resiliência. Assim como a expressão do gene altera o comportamento social, as experiências psicossociais alteram a expressão do gene. Exemplo são os maus tratos a crianças, que exercem transformações no desenvolvimento do cérebro, modificando sua expressão gênica, sua estrutura e seu funcionamento, assim como alterações na expressão gênica induzidas pelo aprendizado e pelas experiências sociais e psicológicas produzem mudanças nos padrões de conexões neuronais e sinápticas e na função das células nervosas. “Tais modificações neuronal e sináptica não só exercem um papel proeminente em iníciar e manter as mudanças de comportamento que são provocadas pela experiência, mas também contribuem para as bases biológicas da individualidade, assim como evidenciam indivíduos que estão sendo diferentemente afetados por experiências semelhantes, independentemente da sua valência” (CHICHETTI & BLENDER, 2006, p. 251). No entanto, nada é determinístico, pois é provável que a experiência de abuso e negligência de crianças possa exercer efeitos diferentes sobre a estrutura, função e organização neurobiológicas em crianças maltratadas que deram a volta por cima e superaram essa dificuldade, do que em crianças maltratadas que não se recuperaram psicologicamente.

Há pequeno, mas crescente, corpo de resultados de estudos genéticos moleculares em que as variações genéticas particulares foram encontradas associadas com acentuadas diferenças na suscetibilidade a determinados fatores de risco. Como exemplos dessa interação gene-meio ambiente (GxE) estão os resultados da investigação de Caspi (CASPI et. alli, 2002, p. 851), sugerindo que essa interação ajuda a explicar porque algumas crianças maltratadas, mas não outras, desenvolvem comportamentos anti-sociais através do efeito que essas experiências de adversidade exercem sobre o desenvolvimento do sistema neurotransmissor. Esses achados permitem explicar parcialmente porque nem todas as vítimas de maus tratos repetem esses maus tratos quando crescem e produzem evidências epidemiológicas de que os genótipos podem moderar a sensibilidade das crianças para as agressões do meio ambiente. Estudos sobre essas associações são citados por Rutter (RUTTER, 2007 p. 492), sobre transmissão genética do uso de álcool e outras drogas e por Chichetti e Blender (CHICHETTI & BLENDER, 2004, p. 17.326), em que a resposta de um indivíduo às agressões ambientais é moderada pela sua composição genética.

Essas investigações de análises de múltiplos níveis podem revelar os elementos genéticos que estão probabilisticamente associados às conseqüências do mau desenvolvimento e da psicopatologia, e, alternativamente, os genes que servem como função de proteção para os indivíduos que experimentam adversidade significativa (CHICHETTI & BLENDER, 2004, p. 17.325). As evidências surgidas sobre a influência dos fatores genéticos servem para destacar a importância de se considerar a ampla variedade de possíveis mecanismos de mediação e moderação na resiliência. Será essencial distinguir com vistas ao entendimento da resiliência quais indivíduos, por causa do seu genótipo, podem responder de forma mais competente e vantajosa às adversidades em condições ótimas de desenvolvimento.

Rutter (RUTTER, 2007 p. 494) aponta que os genes não operam em apenas um caminho, situando quatro pontos dessa questão: primeiro, os genes que afetam E (meio ambiente) podem não ser os mesmos que fornecem o principal efeito sobre o transtorno principal; e o G (fatores genéticos) que carrega o risco de P (fenótipo psicológico) pode não ser o mesmo G que cria a susceptibilidade para E (meio ambiente); segundo, o efeito precisa estar somente (ou principalmente) no ambiente de criação; terceiro, existem algumas circunstâncias em que pode haver transmissão intergeracional de experiências adversas maternas, um efeito que servirá para simular a transmissão genética; e quarto, assume-se que a interação gene-meio ambiente passiva (considerada puramente genética) envolve riscos ambientais que afetam todas as crianças da mesma forma.

Futuras pesquisas sobre resiliência com bases biológicas terão o desafio de tentar relacionar a plasticidade neural a fenômenos particulares de comportamento, tentando encontrar associações entre comportamentos e alterações específicas nos processos neurais, provocadas por fosforilação e expressão de genes. Para isso, é de suma importância que as investigações sobre os correlatos e determinantes

de adaptação resiliente comecem a incorporar métodos de genética molecular e neurobiológicos em suas ferramentas de medição predominantemente psicológicas. Por exemplo, postular se algumas das dificuldades apresentadas por pessoas que sofreram adversidades significativas em suas vidas são irreversíveis, ou se existem períodos sensíveis particulares, quando é mais provável que a plasticidade neural e comportamental ocorra. Embora o debate continue em torno da veracidade dos modelos da intereção gene-meio ambiente, e futuros estudos são necessários antes que essas hipóteses possam ser definitivamente confirmadas, existem fortes indicações de uma associação direta entre variações genéticas e consequências na saúde mental (KIM-COHEN & GOLD, on line, p. 4).

Do ponto de vista da intervenção, três conclusões inter-relacionadas que derivam da visão geral dos efeitos GxE são importantes: 1- É evidente que alguns riscos podem ser geneticamente determinados, porém, exercem seus efeitos através de diversos mediadores ambientais; 2- De forma análoga, alguns mediadores ou moderadores podem parecer moldados pelo ambiente, quando na realidade são em grande parte influenciados geneticamente; e 3- É uma ressalva importante para o segundo, isto é, mesmo atributos sujeitos a fortes influências genéticas não são necessariamente fixos ou imutáveis para as intervenções (efeitos genéticos são probabilísticos, não deterministas ...) (RUTTER, 2007, p. 502).

Por fim, é necessário lembrar que não há garantias de que mesmo crianças de lares amorosos irão desenvolver resiliência de forma tranqüila. Certas crianças podem nascer com uma grande capacidade para resiliência, em oposição a outros jovens que, mesmo quando providos de amor, uma boa educação e atividades comunitárias, podem debater-se com situações típicas de adversidade. Por exemplo, crianças defrontadas com problemas como depressão, ansiedade e dificuldades para aprendizagem, todos com uma forte base biológica (genética), travarão uma grande luta para se tornarem resilientes. Não é que biologia seja destino, mas ela tem uma grande influência no desenvolvimento da criança.



BIBLIOGRAFIA

BROOKS, R., GOLDSTEIN, S. Nurturing resiliente in our children, McGraw Hill, NY, 2003;

CASPI, A. et alli. Role of Genotype in the Cycle of Violence in Maltreated Children, Science, vol 297 2 August 2002;

CICCHETTI, D., BENDER, J. A multiple-levels-of-analysis approach to the study of developmental processes inmaltreated children, PNAS December 14, 2004 vol. 101 no. 50;

CICCHETTI, D., BENDER, J. A Multiple-Levels-of-Analysis Perspective on Resilience Implications for the Developing Brain, Neural Plasticity, and Preventive Interventions, Ann. N.Y. Acad. Sci. 1094: 248–258 (2006). C 2006 New York Academy of Sciences.doi: 10.1196/annals.1376.029;

KIM-COHEN, J., GOLD, A. Gene–Environment Interactions and Resilience, disponível em www.psychologicalscience.org/journals/cd/18_3_inpress/kim-cohen.pdf, acessado em 20 de março de 2011;

RUTTER, M. Genetic Influences on risk and protection, implications for understanding resilience, in LUTHAR, S. (editor), RESILIENCE AND VULNERABILITY, adaptation in the context of childhood adversities, Cambidge University Press, New York, 2007.



domingo, 20 de março de 2011

A resiliência do povo japonês

After a Disaster, What Defines a Country's Resilience?
By Dr. Sheri Fink Wednesday, Mar. 16, 2011

The unfolding crisis in Japan is marked by uncertainty, but seasoned emergency responders have a clear mission: to promote resilience in survivors. Resilience, in this sense, is a metaphor for the quality of an elastic object that springs back into shape after being deformed. Resilient people and communities are those that recover readily from trauma.

In the acute phase of a disaster, fostering resilience has more to do with social than psychological assistance. Not long ago, it was common to find therapists rushing to a disaster zone, engaging survivors in a discussion about the trauma they had just experienced, and sometimes indiscriminately dispensing sedatives. So-called "critical incident stress debriefing," which still has its adherents, has fallen out of vogue. It's "been found to be ineffective," says Dr. Leslie Snider, a psychiatrist and senior technical adviser for the War Trauma Foundation in the Netherlands. What about Japan's psychological scars?

Research and experience have led experts to focus instead on promoting social interventions that decrease stress and restore a sense of control, safety and normality whenever possible. That includes ensuring that survivors have social support and access to information about the emergency. It also means arming people with practical knowledge about how to help themselves and those around them, a sort of emotional first aid that anyone can offer to a neighbor, friend or loved one. Helping others "is good for the people being helped as well as the people providing that help," says Dr. Irwin Redlener, director of the National Center for Disaster Preparedness at Columbia University's Mailman School of Public Health. "The more people know what they're supposed to do and what they can expect, the more capable they will be in responding to a disaster."

By the measure of self-help, the Japanese have already shown great signs of resilience, which benefits from good disaster preparedness. The government is working with private companies such as supermarkets to increase food aid to disaster survivors. Hundreds of disaster medical teams have been deployed, and many localities are drawing upon pre-existing agreements to aid each other in times of need. Many regular citizens have also stepped forward to assist, including offering private buildings to shelter the displaced.

With an estimated 15,000 people still missing, reuniting family members with surviving relatives as quickly as possible, and bringing those without families into social networks, is also important for recovery, particularly among children. "Having a buffering adult who's protective, who's reassuring and is confident, can help children get through the most traumatic situations relatively unscathed," Redlener says.

The United Nations estimates that about half a million people have moved to evacuation centers in Japan, almost half of them from areas around nuclear plants. Aid workers from the nonprofit organization Save the Children USA have set up a play area in one center in Sendai and are planning for more. "The most simple interventions really change lives," says Deb Barry, global director for child protection at the organization.

Save the Children trains disaster-affected volunteers to staff these "child friendly spaces" in emergencies. The idea is to give children a safe place to be kids. Barry says she has seen "children who just literally don't speak, who are really afraid of things, even the sound of a truck going by because it reminds them of an earthquake. All the sudden, [they] get this confidence back where they can really express themselves."

Quickly restarting school may be an even stronger way to promote resilience in children. "In Japan, children's lives are very structured," Barry says. "We're already getting a sense children want to be back in school."

Cultural insights like that are important for responders from overseas. The Japanese government has officially accepted assistance from 14 countries, and hundreds of international relief and search and rescue workers have already arrived. In particular, acts of mourning and recovery often draw on specific religious and spiritual practices and beliefs; in Japan, naming and identifying those who have died will be particularly important. When it comes to offering counseling, Japanese nationals are the best ones to provide it, says Yukie Osa, a professor of sociology at Rikkyo University in Tokyo and board chair of the Association for Aid and Relief, Japan. "It will be difficult for foreigners," she says. "The culture will be very different."

Osa, whose organization is assisting survivors in Japan after having provided emergency relief around the world, including in war-ravaged Afghanistan and after the 2004 tsunami in Indonesia, says Japanese people are used to giving overseas disaster aid, not getting it. "It's our first time to be helped," she says, but with such a vast area of devastation, ongoing displacement, harsh weather, and some places yet to be reached, the help is welcome. "I think people are ready to receive foreign assistance." She adds: "It's not only the goods, but also the people that are a help."

A recent newscast showed Pakistani residents of Japan cooking boiled rice for displaced people in a school. "The Pakistani person interviewed said, 'Since we were helped by Japanese people five years ago when the earthquake hit [Pakistan], now it is our turn to help Japanese people,'" Osa says. A child eating food in the gymnasium said that the curry was spicy, but delicious. "She was smiling," Osa says. "It was a very touching scene."

Psychiatrist Snider says that profound events lead not only to losses, but also to unexpected gains, including new knowledge and skills. "Our lives are all about how we make meaning of events," she says. "How we pull the thread of our life's story through a very tragic or significant event is particularly important, because [the event] becomes a part of that life story." Promoting resilience, she said, is about helping survivors search for and find their own meaning.

Dr. Fink is a Pulitzer Prize-winning investigative journalist, author of War Hospital: A True Story of Surgery and Survival, and a Senior Fellow at the New America Foundation and at the Harvard Humanitarian Initiative. She has worked with humanitarian aid organizations in more than a half dozen emergencies in the U.S. and overseas.


 








quinta-feira, 17 de março de 2011

Resiliência em crianças

QUESTÃO

Eu tenho um filho de dez anos de idade e observando-o eu poderia dizer que ele é resiliente. Se ele perde um jogo, ele treina duas vezes mais na semana seguinte. Se ele não se sai bem em um teste, ele gastará tempo extra estudando para o próximo. Mas eu também noto que ele às vezes rebaixa seus colegas de equipe quando eles cometem algum erro. Uma vez ele comentou o quanto era estúpida uma garota de sua classe, pois ela tirava somente C nas provas. Se por um lado ele parece resiliente, eu não entendo por que ele faz troça dos outros.

RESPOSTA

Você levantou um ponto interessante. Nós acreditamos que se as crianças são resilientes, elas não tem a necessidade de rebaixar seus colegas. Ser resiliente não significa sentir-se superior ou melhor do que os outros. Na verdade, a nosso ver, resiliência está associada com uma grande empatia, cuidado e compaixão. Resiliência não equivale à insensibilidade. As crianças que enfrentam e superam as adversidades não deixam de ser afetadas por suas experiências; na verdade, são bastante afetadas. Todavia, possuindo uma mentalidade resiliente e, em particular, tendo certos suportes à sua disposição durante os tempos de adversidade, elas serão capazes de transformar essas experiências negativas em conseqüências positivas, momentos em que geralmente serão mais compreensivos e tolerantes com seus colegas.

Baseado na sua descrição, seu filho parece possuir muitas qualidades resilientes. Ele enxerga os erros como desafios e aceita que se ele não se sair bem em algo é sua responsabilidade trabalhar de forma mais intensa para ter sucesso na próxima vez. Nós suspeitamos, ainda, que seu filho desenvolveu uma razoável auto-disciplina e ilhas de competência. Devido às poucas informações que temos sobre ele, não estamos certos se suas auto-expectativas são muito altas, dando lugar para que coloque muita pressão sobre si mesmo para alcançar o sucesso. Contudo, o que parece mais aparente é que, qualquer seja o motivo, seu filho não está demonstrando um componente essencial da mentalidade resiliente, algo que desejamos que você possa ajudá-lo a desenvolver, que é a empatia. Indivíduos empáticos são capazes de “se colocar no lugar do outro” (walk in the shoes of others). Eles se identificam com os sentimentos, pensamentos e atitudes dos outros e não diriam para seus colegas o que não desejariam que fosse dito a eles. Devido aos sucessos que ele tem vivenciado, nós acreditamos que seu foco enquanto mãe deveria ser nutrir empatia em seu filho.

Qual a melhor maneira de se fazer isso? Começando por tentar entender e refletir a partir da perspectiva de seu filho. Não confundir empatia com desistência, estrago ou indecisão. Poderia parecer que neste ponto seu filho está puxando alguém para o seu padrão: se ele comete um erro ou não se sai bem, ele se dedica mais para um melhor desempenho. Isso é bom se ele não colocar muita pressão sobre si mesmo para vencer. Se este é o caso, você poderia ajudá-lo a desenvolver expectativas mais realistas e descobrir que todo mundo comete erros e a melhor maneira de aprender a partir deles é não se sentir humilhado ou intimidado pelos outros. De uma forma não acusatória, você pode se perguntar como que uma colega de equipe que comete um erro ou uma colega de classe que só tira nota C se sente e o que seu filho diria a eles como forma de encorajamento.

Muitas vezes quando nos engajamos nesse tipo de conversa nossos filhos irão responder que é o caso particular de um colega de classe que sempre faz tudo errado e é incapaz de melhorar. Novamente, a empatia deveria ser nossa linha mestra, tentando ajudar seu filho a entender que embora ele possua as habilidades para aprender a partir de suas performances mal sucedidas e atingir altos escores, outros não conseguem. Lembre-se que ensinar empatia leva tempo, semelhante a reforçar qualquer um dos componentes de uma mentalidade resiliente (Tradução livre de Nurturing resilience in our children, Robert Brooks & Sam Goldstein, 2003, p. 9-11).

segunda-feira, 7 de março de 2011

Resiliência e mecanismos de proteção da criança e do adolescente

Viver num mundo em que as demandas são cada vez mais intensas e as adversidades exigem respostas prontas e diferentes pode ser demasiado para a maioria das pessoas. Essas situações acabam gerando tensão, rebaixamento da imunidade e, conseqüentemente, adoecimento físico. Dependendo da estrutura do sujeito, esses enfrentamentos cotidianos podem causar algum tipo de transtorno psíquico (leves e passageiros ou graves e duradouros), exigindo tratamento adequado.

As crianças e os adolescentes, além de sofrerem tensão indireta, através da tensão dos adultos, levando-as também a algum tipo de adoecimento, sofrem também das demandas dos adultos sobre elas, possuem suas próprias exigências e tentam se adaptar a essas situações. A intensidade da tensão sobre elas e a forma como reagem e tentam responder ao ambiente em que vivem vai depender da constituição desse mesmo ambiente, de como ele cobra, mas apóia, de como ele impõe um viver, mas também o ensina, de como oprime, mas ao mesmo tempo alivia.

A sociedade muda o tempo todo, mas ao mesmo tempo tenta se conservar. Novos aspectos sociais, culturais, econômicos, jurídicos são introduzidos no cotidiano das pessoas; no entanto, parte da sociedade luta para manter velhos hábitos, velhas regras, antigas visões de como as pessoas devem se comportar, causando um embate acalorado, e algumas vezes violento, entre os grupos inovadores e os grupos conservadores.

Dentro do campo das idéias inovadoras está o conceito de resiliência, demonstrando que adaptar-se à realidade não é ceder totalmente a ela, submeter-se, usar somente respostas prontas e universais, acreditar no que a maioria impõe como crença: é sim encontrar seu próprio caminho em meio às turbulências pessoais e sociais, construindo suas próprias respostas e mantendo-se vivo, em todos os sentidos.

A resiliência mostra ainda que o foco nas potencialidades é a melhor maneira de promover enfrentamentos saudáveis e adequados às adversidades do dia-a-dia e da vida como um todo; as pessoas possuem fraquezas e às vezes ficam presas a elas, sem enxergarem, e não permitindo que se enxerguem nelas, suas fortalezas e como fazer uso adequado delas. Esse novo jeito de olhar, surgido a partir dos anos 80, permite visualizar que, independentemente da adversidade presente em algumas situações, existem mecanismos protetores que logram proteger os sujeitos, criando neles a possibilidade de ser tanto vulneráveis aos efeitos da adversidade quanto resistir e construir positivamente a partir dela, revertendo seu caráter de negatividade.

Os estudos de resiliência em geral, portanto também com crianças e adolescentes, apontam sempre para uma dualidade que movimenta a vida do sujeito, balançando ora para o saudável, ora para o adoecimento. Essa dualidade gira entre o que se considera risco e o seu oposto, proteção. Afirma que existem fatores de risco e sua contraposição, fatores de proteção, atuando sempre na vida do sujeito. Mostra ainda que esses fatores são flutuantes, não atuam por si mesmos, mas necessitam estar intrincados e contextualizados, levando-se em conta a cultura, o tempo e a estrutura da comunidade em que o sujeito vive. Ou seja, que um risco não é em si mesmo, mas é dentro de certas prerrogativas; que a proteção não é em si mesma, mas sempre focada. Ambos possuem uma construção social, variando de época e de cultura.

O que o conceito de risco indica é que existem fatores que podem predispor o sujeito para o adoecimento; o que o conceito de proteção indica é que existem influências que modificam e melhoram a resposta de uma pessoa a uma situação de adversidade e operam em pontos críticos durante a vida do sujeito (no caso dos fatores de proteção, não significa necessariamente que eles representem somente experiências agradáveis; eles modificam de forma positiva a resposta do sujeito, mas não necessariamente diminuindo seu sofrimento). Nesse cenário, a resiliência é considerada como o resultado final de mecanismos de proteção que não eliminam os riscos experimentados, mas encorajam o indivíduo a lidar efetivamente com a situação e a sair fortalecido da mesma.

O que as pesquisas mostram é que diferentes fatores interagem entre si ao longo do tempo, alterando a trajetória do sujeito. Nesse sentido, opta-se por utilizar os termos mecanismos de risco e mecanismos de proteção, mecanismo tendo essa idéia de algo que está sempre em movimento, em ebulição, dando voltas, fixando-se, confluindo-se e mobilizando-se. São esses mecanismos que vão apontar se determinados fatores em um determinado sujeito (indivíduo, família ou comunidade), com sua cultura, no seu tempo, serão considerados ou não como risco; se numa determinada família, para uma determinada criança, se alguns fatores podem ser considerados de proteção ou não.

Mecanismos são processos que ligam determinado risco às suas conseqüências, possibilitando sua compreensão mesmo quando as conseqüências variam, permitindo essa visão de duas maneiras: como mediadores (nesse caso os mecanismos são dinâmicos e não diretamente observáveis) ou moderadores (amplificando, reduzindo ou mudando a direção da correlação entre riscos e respostas). Nem sempre isso é claro para o observador, pois os mecanismos de risco envolvem uma rede complexa de acontecimentos anteriores e posteriores ao evento-chave (por exemplo, uma tentativa de suicídio do adolescente e todos os fatores que o levaram a esse momento).

Considera-se importante identificar os mecanismos de risco e mecanismos de proteção como forma de antecipar resultados negativos ou positivos no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente, não se esquecendo de levar em conta os fatores culturais e comunitários com relação a que tipo de variável se considera risco ou proteção. Talvez o mais adequado fosse investigar os mecanismos situacionais e do desenvolvimento que possam indicar o modo como os fatores de risco e de proteção funcionam, pois esses fatores atuam em momentos e em situações pontuais da existência do sujeito, exigindo dele uma resposta que geralmente não é contextualizada, mas fruto de suas experiências com situações de adversidade anteriores, pois tanto a vulnerabilidade quanto a proteção são processos interativos que se relacionam com momentos específicos da vida de cada pessoa, assim como acontece com a resiliência. A resiliência e a vulnerabilidade são, portanto, resultados de combinações entre os variados processos de risco e de proteção que interagem em contextos específicos da vida de cada um.

Apesar dessas considerações colocadas pelos estudiosos de resiliência, podem-se apontar alguns mecanismos de risco e mecanismos de proteção que podem ser gerais, aceitos em todas as comunidades e em todas as culturas, e girando em torno das crianças e dos adolescentes. Mecanismos familiares, da escola, da comunidade proximal são os mais citados.

Nesse sentido, pode-se afirmar o seguinte: mesmo em meio a adversidades constantes, as crianças e adolescentes que se desenvolvem adequadamente são aquelas que contam com laços afetivos positivos com pelo menos um cuidador familiar (um dos pais, um irmão, avós ou pais substitutos); experienciam poucos e curtos distanciamentos de seu cuidador primário, principalmente durante o primeiro ano de vida; encontram apoio emocional na comunidade, geralmente de um professor, de amigos íntimos ou de um pastor ou padre; possuem atributos individuais, como flexibilidade, confiança e capacidade para buscar apoio na família ou na comunidade; e possuem sentido de humor e de criatividade. Os fatores individuais e os familiares ou comunitários sem complementam, pois nada adianta uma criança ter habilidades pessoais se não consegue respostas positivas no ambiente em que vive.

Dinamicamente isso representa os cuidados constantes dirigidos às crianças e aos adolescentes por seus responsáveis (em todos os níveis de sua sociabilidade), as expectativas positivas neles depositadas, suas relações de apego seguro, a coesão entre os membros da família, a existência de pelo menos um tutor de resiliência interessado no cuidado da criança e do adolescente, capaz de substituir, momentânea ou permanentemente, os seus responsáveis diretos.

Podemos citar ainda alguns fatores de risco familiares, tais como comunicação crítica exagerada e falta de respeito, indução de sentimentos de culpa como forma de controle, supervisão deficiente por parte dos pais, falta de limites ou limites não claros, etc; e seus opostos, funcionando como fatores de proteção, como paternidade democrática, adultos sempre acessíveis, responsáveis e atentos às necessidades das crianças e dos adolescentes, regras claras e realistas, expectativas altas, porém apropriadas à idade, fortalecimento do autocontrole, da competência social e da auto-estima, etc.

Por fim, pensando em medidas de prevenção de adoecimento de crianças e adolescentes, uma intervenção psicossocial deve considerar os fatores proximais de uma forma integral, ou seja, visualizar não somente os atributos do indivíduo, mas também da família, da escola e da comunidade como um todo.

O papel da comunidade e da sociedade deve sempre ser levado em conta e ser cobrado, pois essas medidas preventivas para serem exitosas dependem que o desenvolvimento da criança e do adolescente se dê em um ambiente em que eles possam experimentar, calculando os riscos e ao mesmo tempo sendo protegidos pelo seu entorno.

Para promover a resiliência em crianças e adolescentes é possível de se identificar quatro mecanismos gerais de proteção que podem ser fortalecidos por meio de intervenções: 1-reduzir os mecanismos de risco; 2-reduzir as reações em cadeia que aumentam a possibilidade de outras crises; 3-fortalecer os mecanismos protetores e reduzir as vulnerabilidades; 4-encorajar a estima e a eficácia familiares e individuais com o enfrentamento bem sucedido do problema.

Podemos citar como características da criança e do adolescente resiliente a capacidade de enfrentar de forma pró-ativa os problemas cotidianos, controle adequado das emoções em situações difíceis, demonstrando otimismo e persistência frente ao fracasso, habilidade para manejar de maneira construtiva a dor, a frustração e outros sentimentos perturbadores, habilidade para obter apoio dos demais e para estabelecer amizades duradouras no cuidado e apoio mútuos, competência nas áreas social, escolar e cognitiva, que lhes permitem enfrentar criativamente os problemas, uma maior autonomia e capacidade de observação e sentido de humor.

QUEM DESEJAR A BIBLIOGRAFIA UTILIZADA PARA A TECITURA DESTE TEXTO É SÓ ME PEDIR