Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um pouco mais sobre o conceito de resiliência

As definições de resiliência são diversas e várias, dependendo não somente da visão teórica, mas também dos próprios autores dessas correntes. Apesar dessa diversidade e até mesmo da dificuldade de se definir resiliência, esse construto tem servido como modelo de estudo, como ferramenta e como prática para diversas ações no mundo afora. Nesse sentido, colocarei aqui apenas alguns pontos de vista sobre o conceito de resiliência e não necessariamente concordando com todos eles.

Pode-se afirmar, com Hauser & Allen, que resiliência pode se referir a três grandes classes de fenômenos na literatura psicológica.

1. Indivíduos em altos grupos de risco que se saíram melhor do que lhes era esperado. Histórias de percursos de vida inesperados são com frequência consistentes com as descobertas geradas por estudos baseados em variáveis de conseqüências específicas em crianças resilientes de alto risco. O estudo desse fenômeno busca por preditores de boas conseqüências, jogando luz sobre fatores de proteção que podem levar a tais conseqüências.

2. Uma boa adaptação individual apesar dos eventos adversos. Esta segunda conceitualização leva a uma aproximação com a trajetória de vida individual, em contraste com uma visão epidemiológica inerente na visão de risco.

3. Diferenças individuais na recuperação do trauma. Experiências traumáticas representam adversidades de grande severidade, com início agudo ou repetição crônica, indo bem além dos desafios enfrentados no desenvolvimento normal. Por sua natureza, é esperado que as experiências traumáticas reduzam a qualidade de vida do indivíduo (Hauser & Allen, 2006).

Para muitos autores, resiliência pode ser amplamente definida como o processo pelo qual consequências positivas são alcançadas num contexto de adversidade. Para satisfazer essa definição é essencial que os estudos foquem em amostras de alto risco, porque resiliência não é ajustamento positivo por si mesmo, mas sim nos contextos de grande adversidade.

A emergência da teoria da resiliência está associada a uma redução na ênfase em patologia e um aumento na ênfase nas fortalezas, havendo uma mudança de foco do déficit para a superação frente às adversidades. Ou seja, há um distanciamento do modelo patogênico dominante para um modelo salutogênico (Boyden & Cooper, 2007).

Meredith e col. (Meredith et all, s/d) afirmam que, conforme reviram documentos da literatura sobre resiliência, também trilharam por várias definições desse conceito. Em alguns casos, essas definições parecem ter sido originadas em documentos prévios e alguns documentos listam múltiplas definições. Eles classificaram as definições que foram encontrando em três tipos principais:

1- Basic: definições que descrevem resiliência como um processo ou capacidade que se desenvolve com o tempo.

2- Adaptação: definições que incorporam o conceito de “bouncing back”, adaptação ou retorno à situação anterior à experiência de adversidade ou trauma.

3- Crescimento: definições que adicionalmente envolvem crescimento após a experiência de adversidade ou trauma.

Michael Ungar (Ungar, 2004) cria uma abordagem construcionista da resiliência, refletindo uma interpretação pós-moderna desse constructo, definindo-o como as conseqüências de negociações entre indivíduos e seus meio-ambientes com relação aos recursos que podem defini-los como saudáveis em meio a condições vistas coletivamente como adversas. O autor aponta ainda pesquisas que suportam resiliência como uma construção social, afirmando que tem encontrado uma relação não sistêmica e não hierárquica entre risco e fatores de proteção, descrevendo o relacionamento entre esses fatores através de uma cultura ampla. Esse ponto de vista é contrário de interpretações ecológicas de resiliência que são propagadas pela cultura dominante, assim como difere do estruturalismo – que afirma que é o relacionamento entre os comportamentos e os fatos/eventos que compõem a vida dos indivíduos ou grupos o que constitui o objeto principal do conhecimento – e do ponto de vista fenomenológico, onde resiliência é descrita como sendo necessariamente alguma coisa a mais que um simples ajustamento ou simples adaptação à adversidade.

Rutter (citado por Yunes & Szymanski, 2001) aponta quatro mecanismos que protegem os indivíduos contra riscos psicológicos e adversidades: 1- aqueles que reduzem o impacto ao risco; 2- os que reduzem a possibilidade de uma resposta negativa em cadeia; 3- aqueles que promovem o estabelecimento e manutenção da auto-estima e auto-eficácia através da presença de relações de apego seguras e incondicionais e o cumprimento de tarefas com sucesso; e 4- aqueles que possibilitam a abertura para novas oportunidades, no sentido de um “ponto de virada”.

Alguns autores apontam os aspectos ideológicos do conceito de resiliência, mostrando que a maioria dos estudos em resiliência tem se debruçado em metodologias chamadas “cross-sectional”, investigando predominantemente americanos de origem européia e classe média, em vez de grupos com maior diversidade de etnia e condição sócio-econômica (Adriance, 2001), o que aponta que o conceito de resiliência (ou os estudos sobre ele) está envolto em ideologias relacionadas à noção de sucesso e de adaptação às normas sociais.

Por fim: “resiliência é um conceito fácil de entender, mas difícil de definir” (Rodriguez, 2002)

BIBLIOGRAFIA

ADRIANCE, E. Protective factors and the development of resilience among boys from low-income families. McGill University, 2001;

BOYDEN, j, COOPER, E. Questioning the power of resilience: are children up to the task of disrupting the transmission of poverty? April 2007;

HAUSER, s, ALLEN, J. Overcoming adversity in adolescence: narratives ofrResilience. Psychoanalytic Inquiry, volume: 26, issue: 4, Publisher: Analytic Press, 2006;

MEREDITH, L. et all. Promoting psychological resilience in the U.S. Military. Randy Corporation, 2007;

PINHEIRO, D. A resiliência em discussão. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 1, p. 67-75, 2004;

RODRIGUEZ, D. El humor como indicador de resiliencia. In Melillo & A., Ojeda, E. (Orgs.): Resiliencia: descobriendo las propias fortalezas (pp.185-196). Buenos Aires: Paidós, 2002;

UNGAR, M. A constructionist discourse on resilience: multiple contexts, multiple realities among at-risk children and youth. YOUTH & SOCIETY, Vol. 35 No. 3, March, p. 341-365. 2004;

YUNES, M, SZYMANSKI, H. A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa renda. Tese de Doutorado - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.

domingo, 4 de setembro de 2011

RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA


A resiliência comunitária, essa capacidade sustentada de uma comunidade para suportar e superar as adversidades de todos os tipos, tem se tornado uma questão política fundamental nos últimos anos. No entanto, não existe muita clareza com relação a qual é o processo a ser percorrido pela comunidade para se tornar resiliente, ou seja, quais as ferramentas para ela se recuperar rapidamente de um desastre. Sabemos que comunidades pobres e mais vulneráveis tendem a se recuperar de forma lenta; no entanto, dependendo do seu acesso a recursos sociais, sua recuperação pode ser acelerada.

A expansão do conceito de resiliência do nível familiar para o nível da comunidade tem apresentado algumas dificuldades, pois esse desenvolvimento tem ocorrido bem recentemente e apresenta uma tendência de se ver a resiliência comunitária como somente o fato da comunidade estar promovendo a resiliência das famílias e dos indivíduos que a compõem.

Maior atenção foi sendo dada à comunidade como uma fonte de fatores protetores, conforme a teoria da resiliência evoluiu. Em particular, o suporte social tem sido bem explorado, pesquisado e documentado, sendo localizado fora dos limites da família imediata, ou seja, as pessoas tem buscado recurso na família estendida, nas comunidades religiosas, na comunidade local, na comunidade do trabalho, etc.

Dentro da comunidade, a função do apoio social é operar na redução do estresse, melhorando o ajuste entre a pessoa e o meio ambiente. Isso ocorre de duas maneiras principais: quando uma pessoa recebe incentivo para sua auto-confiança e suporte emocional ela consegue se adaptar melhor às agressões ambientais, experimentando menos estresse; e uma pessoa que tenha suporte de rede (e, portanto, um sentido de participação na tomada de decisões) está em melhor posição para assumir o controle do estresse e alterar o estressor ambiental. Ou seja, as pessoas que recebem suporte social são teoricamente mais capazes do que pessoas que não recebem para se adaptar e/ou modificar estressores ambientais, acomodando-se mais facilmente ao ambiente. Isso resulta em melhor ajuste e funcionamento psicossocial.

É preciso ter em conta que resiliência comunitária implica o contínuo desenvolvimento da capacidade da comunidade para compreender suas vulnerabilidades e refinar habilidades que a auxiliem para prevenir, suportar e mitigar o estresse de um incidente qualquer, recuperar-se de uma forma que retorne a um estágio de auto-suficiência e ao menos ao mesmo nível de funcionamento social de antes do incidente e usar o conhecimento de uma resposta anterior para fortalecer sua habilidade de suportar o próximo incidente.

A saúde física e psicológica da população são componentes-chave da resiliência comunitária que, se estiverem inadequadas, afetam diretamente a vulnerabilidade da comunidade antes do desastre e sua capacidade de recuperação. Outros componentes são: comunicação efetiva sobre o risco; nível de integração social de organizações governamentais e não governamentais em planejar, responder e se recuperar; e a conectividade social dos membros da comunidade (CHANDRA et all, 2011).

Nesse sentido, para desenvolver sua resiliência, a comunidade deve obter a participação ativa dos seus membros no planejamento das atividades em geral e, principalmente, nos eventos de prevenção, desenvolver redes sociais (incluindo um senso de pertencimento e envolvimento e integração com a vizinhança), criar planos e programas para encaminhar e suportar as necessidades funcionais de indivíduos em risco (incluindo crianças) e colocar em funcionamento planos que respondam efetivamente às necessidades de saúde física e psicológica dos membros da comunidade no pós-desastre (enfatizando a parceria entre as organizações, incluindo um plano de prevenção integrado, com exercícios e acordos).

A educação na oomunidade é um processo contínuo em que a comunidade adquire conhecimento sobre os papéis, responsabilidades e expectativas para a preparação individual, bem como as maneiras como os indivíduos podem trabalhar em conjunto com outros membros da comunidade para responder e se recuperar de um incidente qualquer.

Outras estratégias para a comunidade se comunicar eficazmente com seus membros em situação de risco incluem o seguinte:

• Trabalhar as normas e crenças individuais na elaboração de mensagens de comunicação de risco;

• Identificar fontes confiáveis de informação e incentivar a comunicação aberta durante uma crise;

• Identificar e treinar membros da comunidade e usá-los para transmitir mensagens de saúde pública durante uma crise;

• Construir a confiança antes de um desastre através de parcerias com a comunidade.

A resiliência de uma comunidade repousa sobre sua capacidade de aproveitar seus próprios recursos internos frente às adversidades, sendo também capaz de rapidamente restaurar um estado de auto-suficiência após uma crise. Tendo em conta estes atributos, o envolvimento do cidadão participativo na tomada de decisões para atividades de planejamento, resposta e recuperação é especificamente identificada como um tema-chave, implicando a participação ativa de moradores da comunidade na resposta e no planejamento dessa recuperação (CHANDRA et all, 2011).

Por fim, é preciso um olhar renovado das políticas públicas para as fortalezas existentes na comunidade, utilizando-se da resiliência comunitária para prepará-la para a prevenção e o enfrentamento de crises, propiciando uma saúde física e psicológica que previnam seu adoecimento.

BIBLIOGRAFIA

CHANDRA, A. et all. Building Community Resilience to Disasters A Way Forward to Enhance National Health Security, Randy Corporation, 2011;

VANBREDA, A. Resilience Theory: A Literature Review with special chapters on deployment resilience in military families. South African Military Health Service, Military Psychological Institute, Social Work Research & Development, October 2001.