Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Entrevista em inglês sobre resiliência

O que é Resiliência - parte 1

O que se tem visto nos estudos de psicologia, principalmente em psicologia do desenvolvimento, é uma atenção quase que exclusiva à patologização do sujeito, sendo encarados somente seus problemas e seus atrasos desenvolvimentais. Essa visão tem mostrado que o foco nos potenciais efeitos patológicos da vivência traumática contribui para se desenvolver uma “cultura da vitimologia”, que tem enviesado de forma ampla a investigação e a teoria psicológica e tem levado a se assumir uma visão pessimista da natureza humana. Duas perigosas admissões perduram nessa cultura da vitimologia (Poseck, Baquero & Jiménez, 2006): 1- Que o trauma sempre tem como conseqüência um grande prejuízo; 2- Que o prejuízo sempre reflete a presença do trauma.
Segundo a fonte citada, “no campo da saúde mental é habitual a presença de idéias esquemáticas sobre a resposta do ser humano ante a adversidade; idéias preconcebidas acerca de como reagem as pessoas em determinadas situações, baseadas geralmente em prejuízos e estereótipos e não em fatos comprovados”. Um estudo pioneiro de Wortman e Silver (citado por Poseck, Baquero & Jiménez, 2006) reúne dados empíricos que demonstram que tais suposições não são corretas: a maioria das pessoas que sofrem uma perda irreparável não se deprime, as reações intensas de luto e sofrimento não são inevitáveis e sua ausência não significa necessariamente que existe ou vá existir um transtorno. E sim que as pessoas podem resistir com uma força insuspeitável aos conflitos da vida, e, inclusive, perante as adversidades extremas há um elevado percentual de pessoas que mostram uma grande resistência e que saem psicologicamente imunes ou com danos mínimos do conflito.
Diversos autores vêm criticando o posicionamento de se estudar somente o que está errado no ser humano e propondo novas abordagens do desenvolvimento (Werner & Smith, 1998; Trombeta & Guzzo, 2002; Walsh, 2005; Assis, Pesce & Avanci, 2006; Dell´aglio, Koller & Yunes, 2006). Seus estudos demonstram que as pessoas e grupos que conseguem enfrentar adversidades com sucesso propõem, de alguma maneira, um desafio aos paradigmas tradicionais quanto à forma de abordar os problemas e sofrimentos humanos. Enquanto o olhar tradicional enfocou o trauma, os danos, os problemas, as limitações, as carências e os ´desvios´, elaborando diagnósticos cada vez mais complexos, no afã de encontrar causas e conseqüências previsíveis, assim como metodologias de correção do desvio ou do ´sintoma´, a proposta desses autores é enfocar e enfatizar os recursos das pessoas e grupos sociais para ´ir em frente´, procurando entender onde essas pessoas encontram forças para continuar e quais são os fatores que as mantém saudáveis, física e psicologicamente, num contexto pouco promissor.
A essa capacidade de superação das adversidades com pouca ou nenhuma conseqüência negativa dá-se o nome de resiliência. Assim, a resiliência é vista não pela ausência ou presença de determinado distúrbio ou comportamento, e sim pela presença de atributos que auxiliam o enfrentamento de problemas, como a competência nas relações sociais, a capacidade de resolução de problemas, a conquista da autonomia e o sentido ou propósito para a vida e o futuro. Ela se refere a um processo dinâmico circundando a adaptação positiva dentro de um contexto de adversidade significativa. Implícita a essa noção existem duas condições críticas: 1- exposição a ameaças significativas e adversidade severa; 2- o alcance de adaptação positiva apesar de grandes agressões ao processo de desenvolvimento (Luthar & Ciccetti & Becker, 2000). A resiliência pode ser definida como a capacidade de se sair fortalecido da adversidade e com mais recursos, sendo um processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio. Ela é promovida quando a dificuldade, a tragédia, o fracasso ou o desapontamento também podem ser vistos como instrutivos e servir como um impulso para a mudança e o crescimento (Walsh, 2005).
Quando uma depressão física ou psicológica ocorre em resposta a uma adversidade, ela tem pelo menos quatro potenciais conseqüências: 1- Uma das possibilidades é um contínuo desmoronamento no qual o efeito maléfico inicial é misturado (combinado) e o sujeito eventualmente sucumbe; 2- Uma segunda conseqüência possível é uma versão enfraquecida disso: a pessoa sobrevive, mas é diminuída ou arruinada em alguns aspectos; 3- Uma terceira conseqüência possível é um retorno ao nível de funcionamento anterior à adversidade, um retorno que pode ser tanto rápido quanto de forma gradual. 4- A quarta possibilidade é que a pessoa pode não somente retornar ao estado anterior à adversidade, mas pode superá-lo de alguma maneira, sair da situação melhor do que estava anteriormente (Carver, 1988.
Rutter (citado por Garcia, 2001) faz uma analogia com a imunização médica. Afirma que a resiliência é o produto final de um processo de imunização que não elimina o risco, mas encoraja o indivíduo a enfrentá-lo efetivamente. Como na vacina, a exposição a pequenas e sucessivas doses do agente patológico ajudam a desenvolver mecanismos que lutam contra a doença, potencializando sua imunidade. Ou seja, a resiliência refere-se aos processos que operam na presença de risco para produzir conseqüências boas ou melhores do que aquelas obtidas na ausência de risco. “A resiliência traduzir-se-ia, por conseguinte, numa capacidade pessoal para enfrentar a adversidade, de modo não só a resistir-lhe ou a ultrapassá-la com êxito, mas a extrair daí uma maior resistência a condições negativas subseqüentes, tornando-se os sujeitos mais complexos e menos vulneráveis em função daquilo em que se modificaram após terem sido submetidos a esse tipo de experiência” (Ralha-Simões, 2001.
A partir da resiliência pode se supor sujeitos resilientes, grupos resilientes, uma sociedade resiliente, etc. Essa qualidade não leva em conta somente os atributos individuais do sujeito, mas também o seu entorno, como se conforma sua comunidade, os recursos governamentais que tem à disposição; não representa um traço de personalidade ou um atributo do sujeito, mas tem uma construção bi-dimensional que implica estar exposto à adversidade e a manifestação de conseqüências positivas de ajustamento. “Os cientistas fariam bem ao evitar o uso do termo “resiliente” como um adjetivo para caracterizar crianças em seus relatórios, e aplicá-lo, em vez disso, a perfis ou trajetórias de adaptação” (Luthar & Ciccetti, 2000). Nesse sentido, a concepção de resiliência já descarta de antemão a noção de que os atributos resilientes são de ordem pessoal e incorpora a idéia de que a adaptação positiva não é uma tarefa apenas da criança ou do adolescente, mas que família, escola, comunidade e sociedade devem prover recursos para que a criança possa se desenvolver de forma plena (Glantz, on line).
Assim, a resiliência pode ser vista como um conjunto de processos sociais e psicológicos, ocorrendo em determinado período, somando certas combinações benéficas de atributos da criança, de sua família, do ambiente social e cultural (Kotliarenco & Dueñas, 1994). O sujeito não é mais ou menos resiliente, como se tivesse uma lista de qualidades: inteligência, resistência ao negativo ou humor permanente. Ao contrário, a resiliência é um processo, uma transformação da criança que, de ato em ato e de palavra em palavra, inscreve seu desenvolvimento num meio e escreve sua história numa cultura. Portanto, quem é resiliente é menos a criança e mais sua evolução e sua historização (Cyrulnik, 2004). Não é de estranhar que a contribuição latino-americana ao conceito de resiliência seja maior quanto ao enfoque coletivo e que esteja enraizada na epidemiologia social muito mais do que nos enfoques clássicos que explicam o processo saúde-doença, baseando-se na observação de casos individuais (Ojeda, 2005.

BIBLIOGRAFIA
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CYRULNIK, B., Os Patinhos Feios, Martins Fontes, São Paulo, 2004;
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LUTHAR, S., CICCHETTI, D, BECKER, B., The Construct of Resilience: A Critical Evaluation and Guidelines for Future Work, in Child Dev.71(3): 543–562. 2000;
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POSECK, B.V., BAQUERO, B.C., JIMÉNEZ, M.L.V., La Experiencia Traumática Desde La Psicología Positiva: Resiliencia y Crecimento Postraumático, in Papeles del Psicólogo, Enero, número 1 vol-27, Espanha, 2006;
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TROMBETA, L.H., GUZZO, R.S., Enfrentando o Cotidiano Adverso, Alínea Editora, Campinas, 2002;
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WERNER, E, SMITH, R, Vulnerable but Invencible, Adams, Bannister, Cox, New York, 1998, 3rd Edition.