Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

domingo, 25 de abril de 2010

Resiliência Familiar

As famílias de hoje e de amanhã são caracterizadas por uma crescente diversidade nos padrões de estrutura, sexo, orientação sexual, cultura, classe e ciclo de vida. Os debates sobre o futuro da família atingiram um ponto de ansiedade vulnerável quanto à vida contemporânea na era pós-moderna. As famílias estão lutando com perdas reais e simbólicas na medida em que os arranjos familiares se alteram e o mundo que as cerca se modifica. Muitas se sentem à deriva em seus próprios botes salva-vidas em um mar turbulento. Os mitos da família ideal aumentam a sensação de deficiência e fracasso das famílias em transição. Há uma sensação disseminada de desorganização e confusão sobre a própria estrutura e significado dos relacionamentos familiares – sobre o que é “normal” (isto é, típico e possível de ser esperado) na vida familiar e como construir famílias “saudáveis” (isto é, com um bom funcionamento). Desorientadas e inseguras, muitas lutam para se manter dentro dos padrões familiares e também questionam os modelos familiares idealizados do passado que não se ajustam a sua situação, necessidades e desafios atuais. No entanto, muitas famílias hoje estão mostrando uma notável resiliência, extraindo o melhor de suas situações e inventando novos modelos de conexão humana.
(WALSH, Froma, Fortalecendo a Resiliência Familiar, Ed. Roca, SP, 2005, p. 34)

terça-feira, 13 de abril de 2010

PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS COM FOCO NOS MECANISMOS DE PROTEÇÃO

Quando se realiza ações de prevenção às DST/aids geralmente se focaliza as falhas, as dificuldades e a falta de recursos da pessoa e da comunidade para conseguirem se proteger da possibilidade da infecção, ignorando os mecanismos que elas podem apresentar para potencializar essa proteção. A escuta é para os erros já cometidos, os riscos corridos, os abusos apresentados (uso de álcool e outras drogas, violência, múltiplas parcerias, pobreza, etc), ou seja, para os fatores de risco que são apresentados.

É preciso pensar que a aplicação dos fatores de risco nos projetos de prevenção muitas vezes leva à identificação, rotulagem e estigmatização das pessoas, suas famílias e suas comunidades, gerando culpa e hiper-responsabilização, por não terem conseguido enxergar ou fazer uso dos mecanismos de proteção a que têm acesso em todas as esferas em que eles podem ser encontrados.

Reconhecer e valorizar os esforços do sujeito (individual ou coletivo), mesmo que tenha falhado em alguns aspectos, pode ajudar a melhorar os seus próximos passos para se proteger. Ainda, realizar uma análise da resiliência desse sujeito para lidar com as adversidades da vida e sair fortalecido de situações difíceis pode indicar suas fortalezas e possibilidades de realizar prevenção para uma série de infecções. Assim, auto-estima adequada, bom humor, espiritualidade, autonomia, boa rede social, bom relacionamento familiar, inclusão social são potencialidades que podemos reconhecer no sujeito para protegê-los da infecções por DST/aids.

A seguir, algumas questões para se levar em conta nas três esferas onde se encontram os mecanismos de proteção de que o sujeito pode fazer uso.

1- Esfera individual
A- Informação: é preciso reconhecer as potencialidades do sujeito para buscar informação e fazer uso racional dela. Nesse sentido, não basta o sujeito acessar informação, mas perceber como ela pode se usada como proteção. Para se ler uma informação deve se levar em conta a capacidade cognitiva do sujeito, seus preconceitos, seu foco de vida no momento e a linguagem usada pelo informante. Por exemplo, o sujeito pode saber que a camisinha diminui os riscos da infecção pelo HIV, mas mesmo assim permitir que outras questões ou dificuldades impeçam seu uso (o tesão do momento, a vontade de transar sem, ceder ao apelo da parceria para o não uso, realizar penetração sem ter a camisinha disponível para não perder a oportunidade, etc). É preciso reconhecer e incentivar a capacidade do sujeito de buscar informação, degluti-la e fazer uso adequado dela, usando todas as tecnologias necessárias para isso.

B- Diálogo: pode-se incentivar o sujeito a melhorar a comunicação com a parceria, principalmente em relacionamentos fixos e/ou monogâmicos. O uso efetivo da comunicação permite que se reconheçam os desejos, limites e fortalezas do outro e que se possam negociar as regras do relacionamento, se ele será aberto ou fechado, com uso ou não do preservativo, com uso de métodos anticoncepcionais, com prática de fantasias eróticas, com enfrentamento de conflitos, etc. Fortalecer a escuta do sujeito para as demandas da parceria fará com que as crises do relacionamento sejam resolvidas com maior brevidade e que o casal cresça com essas situações, além de aumentar a possibilidade da prática de sexo mais seguro.

C- Saúde integral: é preciso reconhecer e incentivar no sujeito sua capacidade para o cuidado com sua saúde integral. Estimular a realização de papanicolao, mamografia e auto-exame das mamas é uma forma de fazer com que a mulher consiga prevenir uma série de doenças e também aprenda a conhecer melhor o seu corpo. Estimular o auto-exame dos mamilos e dos testículos e a realização de exame de próstata a partir da idade indicada permite ao homem prevenir cânceres que atingem esses órgãos. A ambos, principalmente aos adolescentes, é preciso incentivar uma higiene adequada dos órgãos genitais, com o objetivo de evitar inflamações e abertura de portas de entrada para agentes infecciosos.

2- Esfera social
A- Laços sociais: é preciso reconhecer e estimular no sujeito sua capacidade para estabelecer laços sociais, sua facilidade de fixar relações, sejam elas familiares, no trabalho, escola, igreja e na comunidade em geral. Isso fortalece suas chances de buscar recursos para se proteger quando estiver frente à possibilidade de contrair DST/aids e outra infecções, informando-se melhor sobre as formas de transmissão e proteção, retirando preservativos e buscando tratamento. Quanto à comunidade, estimular o contato com outras comunidades e com projetos bem sucedidos de prevenção, reconhecer lideranças e incentivar sua capacitação pode aumentar o laço social da comunidade consigo mesma e com o social ampliado.

B- Questões de gênero: pode-se aumentar no sujeito sua capacidade de compreensão da diferença cultural entre os sexos, percebendo como a questão de gênero pode interferir em seus relacionamentos, dificultando o acesso aos cuidados com a saúde integral. Mostrar-lhe ainda que discutir essa questão pode contribuir para a melhora do relacionamento conjugal, permitindo-lhe repensar as dificuldades na negociação do sexo seguro, na divisão da responsabilidade pela anticoncepção e reconhecer situações de violência que podem ocorrer no relacionamento

3- Esfera Governamental
A- Pensamento crítico: é preciso reconhecer e estimular no sujeito o uso do pensamento crítico, permitindo que perceba quais são as questões políticas envolvidas no seu cuidado com a saúde (que dificultam ou facilitam o acesso aos serviços de saúde) e qual sua contribuição enquanto cidadão para essa questão. Conhecer os serviços públicos de seu bairro, informar sua comunidade a respeito, participar de conselhos gestores é uma forma que possui de se apropriar das decisões que interferem diretamente no seu bem-estar, de sua família e de sua comunidade.
B- Proposição: conhecer, questionar e se mobilizar permite ao sujeito propor à esfera governamental projetos de prevenção às DST/AIDS e de saúde em geral na sua comunidade e lutar para que eles sejam executados.

Um sujeito resiliente não é apenas aquele que consegue superar suas dificuldades e aprender com elas, mas também aquele que consegue compartilhar seu aprendizado com outros sujeitos e formar uma rede de apoio. Isso importa muito para os projetos de prevenção que pretendem trabalhar com as fortalezas do sujeito, com o seu “dar a volta por cima” e não somente com sua possibilidade de queda.

domingo, 11 de abril de 2010

VOLTA POR CIMA
Paulo Vanzolini

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral
Não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CONSTRUÇÃO DE RESILIÊNCIA NO PROCESSO EDUCATIVO FORMAL

Educar não é uma tarefa das mais simples, principalmente quando a mensagem que se transmite para essa finalidade não é clara, sustentada e contextualizada. Paulo Freire mostrou muito bem isso no seu ensino. Nesse sentido, o educador precisa se despojar: de seus preconceitos, de sua sabedoria, de seus achismos, mesmo de seus cientificismos. Ele precisa se abrir para uma nova criatura que aporta com seu desejo de aprender e descobrir o mundo. Sim, o professor é um porto, com suas regras, suas formalidades; mas também é um mundo novo, servindo apenas de ancoragem, sabendo que o educando veio e também irá partir no momento oportuno.

Educar um jovem é tarefa ainda mais complicada, pois ele já possui algo firme e constituído, sua personalidade está a meio caminho de torná-lo que é ou quer ser, seu raciocínio é lógico e abstrato, ou seja, age, mas também reflete. Porque reflete, questiona, causando mal estar quando se opõe à autoridade instituída (à instituição escolar, ao diretor, ao professor, ao inspetor, às vezes a outros colegas). Sim, o jovem é bastante competente para se opor à autoridade, ao mesmo tempo em que pede um pouco de ordem. Como reagir da forma como ele deseja?

Mesmo criticando e questionando o saber que se lhe outorga, o jovem costuma aceitar desafios. Isso é importante, pois a partir desse ponto podemos desafiá-lo a construir algo positivo, a buscar seu próprio conhecimento, a estabelecer regras que se coadunem com as da autoridade, aprendendo a negociar, a se posicionar politicamente, a questionar de forma amadurecida.

Essa oportunidade de investimento deve ser oferecida a todos os jovens, independentemente de seu interesse, de seu grau de inteligência, de seu grau social, de sua referência de contexto. Assim, não se deve abandonar os jovens que não amadurecem de acordo com o pré-estabelecido, ou aqueles muito sofridos, que muitas vezes achamos que não renderá como queremos, pois negativamos algumas situações, como estado de pobreza, miséria afetiva, família desestruturada e adicções sem fim, dando o jovem por perdido.

Volto a reforçar a importância do professor como alguém que pode reconhecer as potencialidades dos jovens e focar sua atuação nesses pontos positivos, pois eles podem apontar para a capacidade desses jovens de superação de suas dificuldades, mostrando que eles possuem resiliência e que esta pode ser promovida no campo da educação formal. Nesse sentido, os professores podem se tornar tutores de resiliência, fomentadores de descobertas e ações que tornem seus educandos vencedores, não só na área da educação, mas também na afetiva, tornando-os aptos para a vida, adaptando-se em sua sociedade (limpando todo o ranço ideológico que podem conter as palavras “vencedor” e “adaptação”).

Sabemos o quanto pode ser complicado o professor ir além do papel de quem ensina, tornando-se um educador para a vida. Em muitos contextos ele pode se perder entre ser um representante da lei (com conhecimentos, regras, punições e controlador do tempo) e um elo entre o educando e a sociedade. Mas ser um educador, melhor ainda ser um tutor de resiliência, permite que entre em contato afetivo com esses jovens, perceba suas necessidades e suas potencialidades e seja uma ponte para o crescimento deles.