Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Resiliência e Espiritualidade

Fatores de risco e fatores de proteção

O ser humano está inserido em cotidianos que oferecem diversos tipos de riscos, que podem ser maiores ou menores levando-se em conta o gênero, a classe social, a escolaridade e a política do lugar onde vive. Para se opor a esses riscos podem-se apresentar a ele diversos tipos de fatores de proteção: individuais (competência social, habilidade para solução de problemas, autonomia, sentido de objetivo e de futuro, etc), familiares (valores, cuidado, comunicação, etc) e sociais (saúde, educação, emprego, segurança, etc) dos quais ele pode fazer uso para superar as adversidades. Como o ser humano está inserido num mundo de fenômenos sociais, biológicos, psicológicos e espirituais, a espiritualidade (e as consequências dela) também se oferece como um fator de proteção, fazendo frente a diversos fatores de risco.

O que é espiritualidade

A primeira coisa a deixar claro é que espiritualidade é diferente de religião; melhor dito, ela é composta pela religião, ou seja, a religião é somente uma manifestação possível da espiritualidade. Assim, a espiritualidade não deve ser confundida com religião de qualquer tipo, não sendo essa necessária ao exercício daquela.

A espiritualidade é composta por um sistema de compartilhamento de valores, crenças, normas, diretrizes, geralmente dando sentido aos eventos que ocorrem no mundo (compreensíveis e não compreensíveis), principalmente aos eventos desafiadores; em relação a estes, permite obter-se confiança e otimismo no seu enfrentamento. Espiritualidade também permite ao sujeito compreender quando não pode levar uma tarefa adiante, a desistir do que não consegue ter controle.

A espiritualidade pode ser explicitada através do discurso e de rituais, compondo manifestações de fé, comunhão, expressando os valores, propostas e objetivos de vida, inspirando visão de futuro e de superação. Essas manifestações são suportadas por tradições culturais e religiosas, por ídolos e figuras míticas da história de vida do sujeito (indivíduo, família e comunidade).

Quanto à religião, está integrada na cultura, fazendo parte do dia-a-dia das pessoas, se manifestando tanto no público quanto no privado (dependendo da cultura e do desenvolvimento econômico e político local). Essa integração na cultura faz com que a religião gere crenças pessoais (otimismo, auto-estima, direção ao futuro), familiares (normas, crenças e ritos e valores espirituais) e comunitárias (normas, ritos e mitos, valores), facilitando seu circular pelo mundo.

Função da espiritualidade

A espiritualidade faz com que o sujeito entenda que as coisas não acontecem ao acaso, que descubra sentido e coerência na vida e sentido de propósito de futuro. Tendo caráter multidimensional e sendo dependente de recursos internos do sujeito, pode ser exercida de forma coerente ou não, de forma mais ou menos racional, sendo benéfica ou prejudicial ao sujeito.

A espiritualidade pode dar um sentido profundo à vida, um sentido de pertencimento a um todo maior, uma esperança abrangente que prevalece sobre tudo, tendo como base uma segurança íntima a partir do contato com o transcendente. Ela permite apreender a realidade com maior profundidade (mesmo as que ultrapassam nossa experiência física imediata), dando outro sentido às coisas que nos acontecem e que acontecem no mundo. Enfim, esse sentido da vida e motivos para viver derivados da espiritualidade permite ao sujeito encarar a realidade com mais otimismo, força interna e saúde em geral.

Espiritualidade e resiliência

Podemos afirmar que crenças globais (crenças religiosas, otimismo, motivação para a tarefa) podem funcionar como fatores de proteção, diminuindo o estresse frente aos riscos e aumentando a efetividade de enfrentamento das situações desafiadoras. O estabelecimento de laços sociais, espirituais e culturais permite buscar suportes, quando necessário, nos momentos de adversidade. A simples crença no transcendente, fazer parte de uma comunidade de fé, em que todos se suportam nos momentos de adversidade, possibilita um enfrentamento mais saudável e não isolado da situações difíceis, permitindo ao sujeito (indivíduo, família, comunidade) momentos de resiliência. Sujeitos mais resilientes estão mais ligados à espiritualidade e se declaram mais vinculados a algum tipo de religião.

Quanto à inserção religiosa, fazer parte de um grupo religioso possibilita que o sujeito tenha ajuda material (alimentos, roupas, emprego, empréstimos financeiros), social (rede de relações, regras, normas e práticas), emocional (sentido positivo da vida, otimismo, coerência) e espiritual (sentido transcendente, estabilidade na fé e orientação de vida). O grupo religioso pode fazer parte de um ambiente facilitador (juntamente com recursos pessoais, habilidades sociais e aspectos familiares), favorecendo a possibilidade de o sujeito recuperar-se de uma adversidade de uma forma mais saudável.

Além do mais, a ligação com líderes religiosos podem promover uma base segura (normas, regras e valores) ou vínculo afetivo (apoio emocional e espiritual). Tanto a religião quantos os líderes religiosos clamam pela responsabilidade e solidariedade e esse cotidiano sócio-espiritual sustenta uma rede cultural e social ampla de valores, dando segurança e sentido de pertencimento e conexão com outras pessoas, famílias e comunidades. Como complemento, os rituais tradicionais (incluindo a presença de entidades supernaturais – ancestrais, por exemplo, permitindo uma identidade étnica) estão associados a uma maior resiliência.

Pesquisas

Muitas pesquisas foram realizadas apontando a importância da espiritualidade e da religião no sentido de permitir uma saúde geral para o sujeito e aumentando sua inserção social e cultural na comunidade. No entanto, pesquisas ainda precisam ser feitas, por exemplo, para indicar se a espiritualidade e seu exercício efetivamente protegem jovens contra delinquência e violência, se é possível desenvolver competência espiritual para se desenvolver resiliência e se a espiritualidade e a religião e o apoio da igreja realmente funcionam como promotores de resiliência.

domingo, 28 de novembro de 2010

As quatro ondas da pesquisa sobre resiliência

“Seguiram-se três ondas de investigação sobre a capacidade de resiliência no desenvolvimento humano, e uma quarta onda está agora em andamento. A primeira onda focava em descrição, com um investimento considerável em definir e medir a resiliência e na identificação das diferenças entre aqueles que se saíam bem e os que se saíam mal no contexto de adversidade ou risco de vários tipos. Essa primeira onda de investigação revelou um surpreendente grau de consistência nas qualidades pessoais, relacionamentos e recursos que previram resiliência, e estes potenciais fatores protetores mostraram forte poder de permanência em ondas posteriores da investigação.

A segunda onda mudou da descrição dos fatores ou variáveis associadas à capacidade de resiliência a um foco em processos, a perguntas tipo ´como´, com o objetivo de identificar e compreender processos específicos que podem levar à resiliência. Esse tipo de pesquisa continuou, embora com o aumento da atenção a múltiplos níveis de análise e processos neurobiológicos.

A terceira onda começou com esforços para testar idéias sobre processos de resiliência através de intervenção, mais notavelmente em experiências para promover a resiliência impulsionando processos de promoção ou de proteção, tais como parentalidade eficaz, engajamento escolar, e, mais recentemente, as habilidades de função executora.

A quarta onda dos estudos sobre resiliência é a integrativa, buscando englobar rápidos avanços no estudo dos genes, desenvolvimento neuro-comportamental e estatística para uma melhor compreensão dos complexos processos que levam à resiliência. Os estudos de quarta onda tem, por exemplo, explorado o papel dos polimorfismos genéticos como moderadores (vulnerabilidade ou influências protetoras) do risco ou da adversidade no desenvolvimento e o papel da plasticidade neural na resiliência.

Perspectivas de desenvolvimento desempenharam um papel central desde o início da investigação moderna sobre resiliência. A história da ciência da resiliência está intimamente ligada à história do surgimento da psicopatologia do desenvolvimento como uma estrutura para a compreensão e investigação dos problemas de comportamento humano ao longo da vida. Esses domínios inter-relacionados de atividades conceituais e empíricas compartilham muitas raízes e investigadores, bem como o foco principal no desenvolvimento. Estudiosos que estavam interessados na etiologia da psicopatologia (incluindo os pioneiros do estudo da resiliência) se interessavam em seguir o curso de desenvolvimento com relação à adaptação positiva e negativa. Muitos destes estudos, particularmente as investigações longitudinais, começaram na infância ou adolescência, épocas em que podem ocorrer mudanças rápidas, e ficou claro que uma perspectiva de desenvolvimento era útil e importante. Outra consequência desta história é que uma grande parte da pesquisa inicial sobre resiliência focalizava os anos mais precoces da existência do sujeito, embora alguns investigadores sempre focassem na adaptação positiva na vida adulta". (Ann S. Masten and Margaret O’Dougherty Wright, Resilience over the Lifespan, Developmental Perspectives on Resistance, Recovery, and Transformation, Handbook of Adult Resilience, ed. by John W. Reich, 2009 )

Abaixo o texto original

Three waves of research on resilience in human development followed, and a fourth wave is now under way (Masten, 2007; Wright & Masten, 2005). The first wave focused on description, with considerable investment in defining and measuring resilience, and in the identification of differences between those who did well and poorly in the context of adversity or risk of various kinds. This first wave of research revealed a surprising degree of consistency in qualities of people, relationships, and resources that predicted resilience, and these potential protective factors have shown robust staying power in later waves of research. The second wave moved beyond description of the factors or variables associated with resilience to a focus on processes, the “how” questions, aiming to identify and understand specific processes that might lead to resilience. This kind of research has continued, although with increasing attention to multiple levels of analysis and neurobiological processes (Cicchetti & Curtis, 2007). The third wave began with efforts to test ideas about resilience processes through intervention, most notably in experiments to promote resilience by boosting promotive or protective processes, such as effective parenting (e.g., Forgatch & DeGarmo, 1999; Wolchik et al., 2002), school engagement (e.g., Hawkins, Catalano, Kosterman, Abbott, & Hill, 1999), and more recently, executive function skills (Diamond, Barnett, Thomas, & Munro, 2007; Rueda, Rothbart, McCandless, Saccomanno, & Posner, 2005). The fourth wave of resilience studies is integrative, seeking to encompass rapid advances in the study of genes, neurobehavioral development, and statistics for a better understanding of the complex processes that lead to resilience (Masten, 2007). Fourth-wave studies, for example, have explored the role of genetic polymorphisms as moderators (vulnerability or protective influences) of risk or adversity in development (Kim-Cohen & Gold, 2009) and the role of neural plasticity in resilience (Cicchetti & Curtis, 2006, 2007).

Developmental perspectives played a central role from the outset of modern resilience research. The history of resilience science is closely linked to the history of the emergence of developmental psychopathology as a framework for understanding and investigating problems of human behavior over the life course (Cicchetti, 2006; Masten, 1989, 2006a). These interrelated domains of conceptual and empirical activity share many roots and investigators, as well as a core focus on development. Scholars who were interested in the etiology of psychopathology (including those who pioneered the study of resilience) were interested in following the course of development with respect to positive and negative adaptation. Many of these studies, particularly the longitudinal investigations, began in childhood or adolescence, when there is often rapid change, and it was clear that a developmental perspective was helpful and important. Another consequence of this history is that a large proportion of the initial research on resilience focused on the earlier part of the lifespan, although
some investigators always focused on positive adaptation in later life (e.g., Rowe & Kahn, 1987; Vaillant, 1977, 2002).

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O humor como fator de resiliência

Quando se analisa a resiliência (não necessariamente pessoas resilientes), pode se observar que ela é fruto de um multivariado sistema de crenças, atitudes, movimentos, memória, afetos (no sentido de afetar e ser afetado). Esse sistema, por sua vez, é fruto de fatores individuais (inteligência, bom humor, espiritualidade, competência, sociabilidade, auto-estima, etc) e sociais (família continente, escola acolhedora, rituais comunitários e religiosos, certa quantidade de amigos, perspectivas de futuro, etc). Essa junção de características individuais e sociais que se tornam fatores de proteção faz com que o sujeito consiga superar as adversidades com maior facilidade e, apesar de ser ferido por elas, consegue aprender e muitas vezes se sair melhor do que estava antes.

Dentre esses fatores de proteção o senso de humor pode representar um grande aliado com relação à perspectiva lançada sobre as adversidades. É uma perspectiva porque cada sujeito reage diferentemente a cada problema, e o mesmo sujeito poder reagir diferentemente ao mesmo problema em cada época e em cada contexto de sua vida. Essa forma de reagir é importante, pois ela dá o tom do enfrentamento (coping) que o sujeito realiza em relação à adversidade, aumentando sua chance de superação. Mas como o humor ajudaria nisso?

O humor é um procedimento defensivo, agindo como fator de proteção, uma espécie de ajustamento psíquico, ajudando na aceitação madura dos fatos da vida, perspectivando as adversidades, permitindo ao sujeito tomar distância dos problemas, observando-os com outro olhar e encontrando soluções adequadas para eles. Essa perspectiva permite que o problema seja encarado de forma não trágica, mas sim de forma dramática, enlaçando o sujeito e tornando-o ator da situação, ou seja, alguém que sofre, mas também pode atuar na sua solução. Trata-se de transformar uma percepção que machuca em representação que faz sorrir, segundo Cyrulnik, em encontrar aspectos positivos em situações que nem imaginávamos que pudessem existir.

Essa passagem da tragédia (algo determinado e sem solução aparente, que leva à paralisia operante) ao drama (ação e possibilidade de mudanças) pode ser tanto causa como consequência da resiliência (difícil definir quando é uma coisa e outra).

A possibilidade de usar o humor (ou seu sentido) como arrefecimento da desgraça, da dor, ocorre desde a infância e geralmente é grafada, “ensinada” pelos pais. A mãe que assopra o machucado da criança e diz que “já passou” transforma a dor (tragédia) em uma cena dramática carregada de outro sentido, o que alivia a sensação da criança, transformando a situação em algo mais suportável, positiva, marcada pelo afeto. Essas cenas são gravadas pela criança e usadas mais tarde como molde frente às situações difíceis, tornando-as risíveis e mais leves.

Ser bem humorado facilita os relacionamentos, atrai mais pessoas, mas também exige um gasto maior de energia. Enfrentar todas as situações de bom humor e conseguir reduzir as tensões das situações conflituosas não é para todos. Rir de sua própria desgraça é uma arte e quem consegue isso ganha uma força interior maior. Essa capacidade de usar o humor é bem vinda no mundo dos adultos, mas não é bem vista por todos. E há pessoas que usam o humor somente como defesa, de forma destrutiva, atacando os outros de forma irônica, tentando obter algum ganho com isso; não creio que esse tipo de humor seja o que leva a pessoa a se tornar resiliente: pode até reduzir suas tensões internas com essas atitudes, mas também estará afastando as pessoas de seu convívio.

Existem muitas teorias (psicológicas, sociológicas, filosóficas) que explicam o humor e sua função e algumas delas até podem “ensinar” as pessoas a serem bom humoradas, a usar o senso de humor a seu favor, mas creio que isso tem que vir desde criança mesmo. Um dia escrevo um pouco mais sobre essas teorias.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A resiliência dos mineiros chilenos

Como não poderia deixar de ser, tem muita gente comentando sobre a resiliência dos mineiros chilenos, a capacidade de superação que apresentaram em meio a tanta adversidade. Apesar de tudo, se mantiveram otimistas, cuidaram da saúde e acreditaram em algo superior a eles. Outro fator que deve ter contribuído bastante para terem suportado tanto tempo aquela situação foi a confiança em um líder, de quem acatavam as regras para a convivência e acreditavam que os conduziriam para fora daquele local.
O vídeo abaixo foi realizado no dia 26 de agosto, três dias depois de se descobrir que ainda estavam vivos.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Off Topic: Viagem a Buenos Aires – Apontamentos Pessoais

- Haviam me dito que há mais livrarias em Buenos Aires que no Brasil inteiro. O que observei é que há poucas livrarias grandes, com grande oferta de títulos. O que há são pequenas livrarias, muitas especializadas, e livrarias que são na verdade apenas papelarias. No entanto, gostei de duas grandes livrarias, onde encontrei títulos sobre resiliência em espanhol; uma delas tinha até uma estantezinha própria sobre esse tema, mas com pouca diversidade de títulos.
- Em Buenos Aires não há hipermercados, mas sim pequenos mercados, geralmente controlados por chineses, ofertando de tudo: produtos enlatados, verduras e legumes, bebidas, produtos de limpeza, etc. Há uma rede de mercado francesa presente, mas somente com lojas tipo express.
- Pelas minhas andanças vi apenas duas academias. E não se pode dizer que quem mora em BsAs esteja exatamente dentro do peso médio....
- Nos restaurantes não encontrei feijão; arroz também é coisa rara. Parece que o povo retira todo carbohidrato que precisa de batatas e trigo (pães e massas). Também senti o tempero (salsa) um tanto fraco, parece que falta sal.
- Em um restaurante pedi “sopa inglesa” pensando que seria uma sopa de legumes, mas o que veio foi um doce parecido com bolo. Não tinha reparado que estava na lista de postres (sobremesas).
- Buenos Aires não parece ser uma cidade envelhecida, vi pouca concentração de idosos. Com relação aos jovens, percebi que não usam muito jeans, não usam boné e nem gel no cabelo, comparados com os de São Paulo, é claro.
- Vi poucos negros em BsAs (resultado do “ar” europeu e da falta de tráfico de escravos negros para lá?).
- Apesar deles comerem pizza em qualquer lugar e em qualquer momento, não vi muita oferta de azeite nas mesas. Também não vi ketchup e mostarda.
- Cerveja os portenhos não tomam nas mesas em copo como nós. Eles compram uma garrafa grande e ficam bebendo do gargalho pelas ruas. Depois descartam a garrafa em qualquer lugar. As mesas foram feitas para o vinho e para o café. O primeiro bom e barato; o segundo, apenas bom.
- O refrigerante que reina é a coca-cola, com anúncios em todos os lugares. E é cara, cerca de 9 pesos (4,50 reais). Água engarrafada está quase o mesmo preço da coca.
- Os moradores de rua começam a aparecer à noite. Eu os vi mais no Centro da Cidade. Flanelinhas também vi alguns, principalmente próximos do Obelisco. Serão portenhos ou de países vizinhos?
- Os argentinos gostam muito de hóquei. Na semana passada estava sendo finalizado um campeonato mundial de hóquei na grama feminino.
- O trânsito é tranqüilo comparado com o de São Paulo. As avenidas são largas e arborizadas. O que notei foi que mesmo quando o farol fica verde para o pedestre ocorre conflito, pois também fica verde para os carros que vem da direita. No entanto, os motoristas dão preferência para quem está a pé para cruzar a via.
- Durante a semana senti a cidade meio vazia à noite, ao contrário do fim de semana, quando a cidade enche de dia e de noite.
- Quase não tem policiamento na rua... precisa? Vi relato de alguns crimes pela TV.
- Não vi postos de saúde e hospitais. Não sei como é o sistema de saúde em BsAs.
- A economia da Argentina tem certa dependência do Brasil. E eles estão contentes com o crescimento da economia brasileira, apesar de nesse momento mais importarem produtos do que exportarem para o Brasil.
- O transporte público é precário, a frota de ônibus é antiga e mal cuidada. Mas tem linhas para todos os pontos da cidade. Não andei de ônibus e nem mesmo de taxi. Preferi percorrer a cidade a pé. Andei um pouco de metrô, que também é antigo (primeira linha é de 1913!), que também está um tanto mal cuidado e com sujeira (a pior é a linha Retiro-Constitución). A passagem é barata (1,10 pesos = 55 centavos de real), parcialmente subsidiada pelo Estado).
- Há muitos cães em BsAs, mas poucos donos recolhem o cocô, que ficam pelas calçadas.
- Os homens se beijam no rosto para se cumprimentarem com uma tranqüilidade bem maior que a dos brasileiros.

sábado, 7 de agosto de 2010

RESILIÊNCIA E IDEOLOGIA

Quando pensamos no conceito de resiliência, ou mais exatamente em suas definições, devemos tomar cuidado com suas armadilhas, muitas vezes imperceptíveis, e que precisam ser clareadas e evitadas. Se bem que resiliência possa ser definida de diversas formas, dependendo da “corrente” que estuda e aplica esse conceito, da área em que é aplicada (nos campos comportamental, cognitivo, social e educacional da psicologia, psicologia positiva, psicologia do desenvolvimento, administração, teoria do trauma, teoria dos desastres, etologia, auto-ajuda e tantos outros), temos que estar atentos às formulações, e, portanto, nas suas aplicações que podem levar a uma estereotipia, à discriminação, a um “status quo”, que no seu conjunto poderíamos denominar de ideologia, seja a ideologia subjacente ao conceito, seja quanto à ideologia presente na avaliação de pessoas “resilientes” (como competentes e não competentes, adaptadas ou não adaptadas), seja na aplicação de projetos de adaptação de pessoas e comunidades ao pensamento corrente, ideologicamente bipartida, essa adaptação, em “vencedores” e “perdedores”.

Quanto à ideologia subjacente ao conceito de resiliência, o pensamento vulgar tende a intensificar a idéia de que resiliência é uma habilidade facilmente reconhecível (ou sua presença ou sua ausência), através de características na sua maior parte próprias do indivíduo (esquecendo o sujeito social e moral), por suas manifestações psicológicas, emocionais e sociais (inteligente, sociável, otimista, humorado, religioso, negociador, esforçado, etc), situados em um único ponto de sua vida (negando, além do contexto, a história de vida do sujeito). Extrair o indivíduo do seu meio e classificá-lo é um erro crasso, pois nos impede de enxergar suas habilidades “in loco”. Esse erro não é cometido somente por pessoas leigas, mas também por estudiosos que não avaliam essa questão de uma forma muito clara.

Também é afirmado que é possível desenvolver-se resiliência nos indivíduos (até mesmo em cursos que podem durar somente algumas horas!), apontando não só que esses indivíduos não são resilientes, mas também que precisam ser! Nesse caso, está claro que ser resiliente aqui é sinônimo de vencedor e competente e não resiliente quer dizer perdedor e não competente, reforçando essa bipolaridade em prol de um e em prejuízo do outro. Claro que é possível, e necessário, promover a resiliência, mas não se faz isso dizendo ao indivíduo sobre como ele deve agir, no que ele deve investir, e sim mostrando a ele como o ambiente em que vive (de trabalho, familiar, religioso, de lazer) e como alguns traços de sua personalidade influenciam na sua capacidade de enfrentar as adversidades, que esse ambiente deve mudar junto com ele, o que nem sempre é possível, e que sua resiliência é fruto de sua história de vida e da história social do meio onde vive e circula. Ou seja, que resiliente é menos o indivíduo e mais sua evolução e sua historização.

No que diz respeito à ideologia que aparece na avaliação de competências, o perigo aqui é o de novamente ser subestimado o ambiente em que o sujeito vive. Não é coerente comparar, nessa avaliação, um sujeito de um determinado contexto com outro de um contexto totalmente diferente. Por exemplo, comparar as habilidades de um adolescente pobre com um adolescente rico e dizer que aquele é menos resiliente que este é apontar uma ideologia de dominação que vige em nossa sociedade, de uma visão dos ricos sobre os pobres, do “norte sobre o sul”. É possível que aquele adolescente pobre com menos habilidades seja resiliente na sua comunidade e que o adolescente rico, mesmo com suas habilidades, seja considerado não resiliente no seu meio social. Se as qualidades que levam um indivíduo a ser caracterizado como resiliente são aquelas que se baseiam em seus comportamentos observáveis e que estão ou não de acordo com a ordem estabelecida socialmente, corremos sério risco de taxar de não resiliente aqueles que são rebeldes, questionam as ordens, as leis e as injustiças sociais, muitas dessas atitudes que não são aplaudidas pelo público e muitas vezes tecnicamente catalogadas de patológicas, refletindo uma visão do dominador sobre o dominado (o adolescente, pela sua dinâmica, corre seriamente esse risco!). E, talvez pior de tudo, que resiliente seria o indivíduo acomodado a essas diferentes condições de exploração, abuso, negligência e dominação na sociedade. Assim, dentro dessa visão, pode ocorrer um sério risco de o indivíduo que não estiver inserido dentro de um modelo de família vigente (heteronormativa, nuclear, etc), que não esteja de acordo com todos as crenças de sua comunidade ou que não estabeleça laços sociais considerados saudáveis ser taxado de não competente, não adaptado e não resiliente.

E não devemos esquecer que essas avaliações de competências (sociais, familiares, acadêmicas, emocionais, etc) geralmente são realizadas por profissionais que não deixam de repetir de certa forma a ideologia vigente na sociedade, ou seja, pode ocorrer aí um viés na maneira como enxergam o comportamento do indivíduo dentro da ótica das normas vigentes, podendo até mesmo aparecer uma visão deturpada daqueles que sucumbem como tendo alguma deficiência ou estando fragilizados, sendo seus fracassos na superação das adversidades atribuídos a uma fraca força de vontade ou pureza espiritual insuficientes. E é bom lembrar que uma avaliação do desenvolvimento do sujeito, dentro do chamado desenvolvimento normal, provém de pesquisas e escritos geralmente produzidos em sociedades desenvolvidas, com populações anglo-saxões, heteronormativas e dentro de determinadas culturas e que foram generalizadas para outras sociedades.

Outro mote ideológico na avaliação de resiliência é imaginar que os grupos focais para essa avaliação tenham que ser necessariamente aqueles grupos que supostamente possuem maiores riscos e se confrontam com maiores adversidade, e que, portanto, teriam um maior grau de sofrimento (e não raramente podendo ser vistos como uma ameaça para aquela sociedade onde se situam). Entre estes estariam os que vivem em comunidades pobres, os afro-descendentes ou de outras etnias que não a caucasiana, as chamadas famílias desestruturadas, os usuários de álcool e outras drogas e tantos outros grupos marginalizados. Não se pode dizer que os resilientes serão os mais fortes, os mais inteligentes, os mais bem nutridos e os melhores relacionados socialmente; essas qualidades podem não levar necessariamente à resiliência, enquanto que uma pessoa sem nenhum recurso pode ser obrigada a criar estratégias defensivas e buscar apoios nos mais diversos campos que a levam a se tornar resiliente. Nesse sentido, o espanto de leigos, e mesmo de pesquisadores, pelo número de pessoas resilientes que são encontradas nessas populações marginalizadas! E, em verdade, resiliência é algo muito comum, não se devendo imaginar que é resiliente quem somente tem todas as ferramentas, e as ideais, para superar as adversidades. Quando um sujeito não se torna resiliente, não quer dizer que ele é incompetente ou que se entrega aos seus problemas; quer dizer apenas que não encontrou em si mesmo e em seu ambiente as ferramentas para superar as adversidades de sua vida. A resiliência, assim, não é necessariamente o relato de sucesso, mas é a história do enfrentamento do sujeito com as adversidades que o confrontam. Resiliência não é estática, o sujeito não sendo resiliente o tempo todo e em todas as situações de adversidade. Portanto, é preciso reconhecer que mesmo os que sucumbem devem ter também suas qualidades reconhecidas e valorizadas.

O perigo maior parece estar na ideologia que carrega os projetos de aplicação de resiliência. Devemos, principalmente, ser cuidadosos para que o conceito de resiliência não seja usado para sustentar a ideologia vigente, usada meramente para a adaptação do sujeito (indivíduo ou comunidade) à sociedade, sem questionamentos quanto às iniqüidades que esse sujeito sofre, sem pensar também em mudar o meio social desse sujeito para diminuir sua vulnerabilidade e permitir que ele possa viver de forma mais saudável. Ou seja, a resiliência não deve ser usada como mais uma forma de legitimar a exploração capitalista e o aumento da desigualdade entre as pessoas. Ao se formular projetos de promoção de resiliência deve-se prestar atenção aos objetivos que procuram fomentar a equidade entre pessoas e comunidades, fortalecer os fatores de proteção, diminuir os riscos do sujeito e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Resta uma questão: qual a utilidade científica do conceito de resiliência, com todos esses senões, com todas as críticas teóricas e ideológicas que se faz contra ele? Mesmo com todos esses cuidados a tomar, a resiliência, na sua amplidão, pode ser usada de forma efetiva para teorizar, avaliar e promover as habilidades do sujeito no enfrentamento das adversidades. Mas como evitar essas armadilhas nesse processo?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Conceito simplificado de resiliência

Apesar de discordar de algumas partes dessa conceitualização de resiliência, pois está focada somente no indivíduo e carrega um tanto de ideologia, esse vídeo em forma de slides torna fácil entender o que vem a ser esse conceito.

sábado, 3 de julho de 2010

O traumatismo e sua representação

De modo que todo estudo sobre a resiliência deveria abordar três planos:

1- Aquisição de recursos internos impregnados no temperamento, já nos primeiros anos, no decorrer das interações precoces pré-verbais, explicará a maneira de reagir diante das agressões da existência, estabelecendo tutores de desenvolvimento mais ou menos sólidos.

2- A estrutura da agressão explica os estágios do primeiro golpe, o ferimento ou a falta. Mas o significado que esse golpe irá adquirir mais tarde na história do ferido e em seu contexto familiar e social é que irá explicar os efeitos devastadores do segundo golpe, aquele que produz o traumatismo.

3- finalmente, a possibilidade de encontrar lugares de afeto, de atividades e de palavras que a sociedade dispõe, às vezes, em torno do ferido oferece os tutores de resiliência que lhe permitirão retomar um desenvolvimento inflectido pelo ferimento.

Esse conjunto, constituído por um temperamento pessoal, um significado cultural e um apoio social, explica a surpreendente variabilidade dos traumatismos.

(Boris Cyrulnik, Os Patinhos Feios, Ed. Martins Fontes, SP, 2004, p. 7, trad. Monica Stahel)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

VISÕES SOBRE A RESILIÊNCIA


Durante todos esses anos de leitura, percebi que existem várias formas de se encarar a resiliência: como processo, como resultado, como conceito, como pesquisa, como enfoque, e muitos outros. Abaixo algumas dessas visões.
Resiliência como papel: o papel da resiliência é desenvolver a capacidade humana de enfrentar, vencer e sair fortalecido de situações adversas e transformado.
Resiliência como processo: a resiliência resulta da dinâmica entre os fatores de risco e os fatores de proteção
Resiliência como capacidade: resiliência força interna de superação das adversidades, numa relação constante entre o sujeito e seu meio.
Resiliência como conceito: resiliência como a capacidade de superação das adversidades.
Resiliência como estudo: pesquisa sobre o processo de superação em meio a adversidades.
Resiliência como promoção de processos: possibilidade de dispor para o sujeito fatores de proteção para que não sucumba em meio aos fatores de risco.
Resiliência como enfoque: nova forma de enxergar o sujeito em situação de risco, focando suas qualidades e potencialidades.
Resiliência como conduta: a forma como o sujeito supera as adversidades e se revigora com elas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Resiliência como processo

“A noção de processo permite entender a adaptação resiliente em função da interação dinâmica entre múltiplos fatores de risco e de resiliência, os quais podem ser familiares, bioquímicos, fisiológicos, cognitivos, afetivos, biográficos, socioeconômicos, sociais e/ou culturais. A noção de processo descarta definitivamente a concepção de resiliência como um atributo pessoal e incorpora a idéia de que a adaptação positiva não é uma tarefa apenas da criança, mas que família, escola, comunidade e sociedade devem prover recursos para que a criança possa se desenvolver mais plenamente”
(Francisca Infante, A resiliência como processo: uma revisão da literatura recente, in Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas, Aldo Melillo, Elbio Néstor Suárez Ojeda e Colaboradores, Ed. Artmed, Porto Alegre, 2005, p. 30, tradução de Valério Campos).

domingo, 25 de abril de 2010

Resiliência Familiar

As famílias de hoje e de amanhã são caracterizadas por uma crescente diversidade nos padrões de estrutura, sexo, orientação sexual, cultura, classe e ciclo de vida. Os debates sobre o futuro da família atingiram um ponto de ansiedade vulnerável quanto à vida contemporânea na era pós-moderna. As famílias estão lutando com perdas reais e simbólicas na medida em que os arranjos familiares se alteram e o mundo que as cerca se modifica. Muitas se sentem à deriva em seus próprios botes salva-vidas em um mar turbulento. Os mitos da família ideal aumentam a sensação de deficiência e fracasso das famílias em transição. Há uma sensação disseminada de desorganização e confusão sobre a própria estrutura e significado dos relacionamentos familiares – sobre o que é “normal” (isto é, típico e possível de ser esperado) na vida familiar e como construir famílias “saudáveis” (isto é, com um bom funcionamento). Desorientadas e inseguras, muitas lutam para se manter dentro dos padrões familiares e também questionam os modelos familiares idealizados do passado que não se ajustam a sua situação, necessidades e desafios atuais. No entanto, muitas famílias hoje estão mostrando uma notável resiliência, extraindo o melhor de suas situações e inventando novos modelos de conexão humana.
(WALSH, Froma, Fortalecendo a Resiliência Familiar, Ed. Roca, SP, 2005, p. 34)

terça-feira, 13 de abril de 2010

PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS COM FOCO NOS MECANISMOS DE PROTEÇÃO

Quando se realiza ações de prevenção às DST/aids geralmente se focaliza as falhas, as dificuldades e a falta de recursos da pessoa e da comunidade para conseguirem se proteger da possibilidade da infecção, ignorando os mecanismos que elas podem apresentar para potencializar essa proteção. A escuta é para os erros já cometidos, os riscos corridos, os abusos apresentados (uso de álcool e outras drogas, violência, múltiplas parcerias, pobreza, etc), ou seja, para os fatores de risco que são apresentados.

É preciso pensar que a aplicação dos fatores de risco nos projetos de prevenção muitas vezes leva à identificação, rotulagem e estigmatização das pessoas, suas famílias e suas comunidades, gerando culpa e hiper-responsabilização, por não terem conseguido enxergar ou fazer uso dos mecanismos de proteção a que têm acesso em todas as esferas em que eles podem ser encontrados.

Reconhecer e valorizar os esforços do sujeito (individual ou coletivo), mesmo que tenha falhado em alguns aspectos, pode ajudar a melhorar os seus próximos passos para se proteger. Ainda, realizar uma análise da resiliência desse sujeito para lidar com as adversidades da vida e sair fortalecido de situações difíceis pode indicar suas fortalezas e possibilidades de realizar prevenção para uma série de infecções. Assim, auto-estima adequada, bom humor, espiritualidade, autonomia, boa rede social, bom relacionamento familiar, inclusão social são potencialidades que podemos reconhecer no sujeito para protegê-los da infecções por DST/aids.

A seguir, algumas questões para se levar em conta nas três esferas onde se encontram os mecanismos de proteção de que o sujeito pode fazer uso.

1- Esfera individual
A- Informação: é preciso reconhecer as potencialidades do sujeito para buscar informação e fazer uso racional dela. Nesse sentido, não basta o sujeito acessar informação, mas perceber como ela pode se usada como proteção. Para se ler uma informação deve se levar em conta a capacidade cognitiva do sujeito, seus preconceitos, seu foco de vida no momento e a linguagem usada pelo informante. Por exemplo, o sujeito pode saber que a camisinha diminui os riscos da infecção pelo HIV, mas mesmo assim permitir que outras questões ou dificuldades impeçam seu uso (o tesão do momento, a vontade de transar sem, ceder ao apelo da parceria para o não uso, realizar penetração sem ter a camisinha disponível para não perder a oportunidade, etc). É preciso reconhecer e incentivar a capacidade do sujeito de buscar informação, degluti-la e fazer uso adequado dela, usando todas as tecnologias necessárias para isso.

B- Diálogo: pode-se incentivar o sujeito a melhorar a comunicação com a parceria, principalmente em relacionamentos fixos e/ou monogâmicos. O uso efetivo da comunicação permite que se reconheçam os desejos, limites e fortalezas do outro e que se possam negociar as regras do relacionamento, se ele será aberto ou fechado, com uso ou não do preservativo, com uso de métodos anticoncepcionais, com prática de fantasias eróticas, com enfrentamento de conflitos, etc. Fortalecer a escuta do sujeito para as demandas da parceria fará com que as crises do relacionamento sejam resolvidas com maior brevidade e que o casal cresça com essas situações, além de aumentar a possibilidade da prática de sexo mais seguro.

C- Saúde integral: é preciso reconhecer e incentivar no sujeito sua capacidade para o cuidado com sua saúde integral. Estimular a realização de papanicolao, mamografia e auto-exame das mamas é uma forma de fazer com que a mulher consiga prevenir uma série de doenças e também aprenda a conhecer melhor o seu corpo. Estimular o auto-exame dos mamilos e dos testículos e a realização de exame de próstata a partir da idade indicada permite ao homem prevenir cânceres que atingem esses órgãos. A ambos, principalmente aos adolescentes, é preciso incentivar uma higiene adequada dos órgãos genitais, com o objetivo de evitar inflamações e abertura de portas de entrada para agentes infecciosos.

2- Esfera social
A- Laços sociais: é preciso reconhecer e estimular no sujeito sua capacidade para estabelecer laços sociais, sua facilidade de fixar relações, sejam elas familiares, no trabalho, escola, igreja e na comunidade em geral. Isso fortalece suas chances de buscar recursos para se proteger quando estiver frente à possibilidade de contrair DST/aids e outra infecções, informando-se melhor sobre as formas de transmissão e proteção, retirando preservativos e buscando tratamento. Quanto à comunidade, estimular o contato com outras comunidades e com projetos bem sucedidos de prevenção, reconhecer lideranças e incentivar sua capacitação pode aumentar o laço social da comunidade consigo mesma e com o social ampliado.

B- Questões de gênero: pode-se aumentar no sujeito sua capacidade de compreensão da diferença cultural entre os sexos, percebendo como a questão de gênero pode interferir em seus relacionamentos, dificultando o acesso aos cuidados com a saúde integral. Mostrar-lhe ainda que discutir essa questão pode contribuir para a melhora do relacionamento conjugal, permitindo-lhe repensar as dificuldades na negociação do sexo seguro, na divisão da responsabilidade pela anticoncepção e reconhecer situações de violência que podem ocorrer no relacionamento

3- Esfera Governamental
A- Pensamento crítico: é preciso reconhecer e estimular no sujeito o uso do pensamento crítico, permitindo que perceba quais são as questões políticas envolvidas no seu cuidado com a saúde (que dificultam ou facilitam o acesso aos serviços de saúde) e qual sua contribuição enquanto cidadão para essa questão. Conhecer os serviços públicos de seu bairro, informar sua comunidade a respeito, participar de conselhos gestores é uma forma que possui de se apropriar das decisões que interferem diretamente no seu bem-estar, de sua família e de sua comunidade.
B- Proposição: conhecer, questionar e se mobilizar permite ao sujeito propor à esfera governamental projetos de prevenção às DST/AIDS e de saúde em geral na sua comunidade e lutar para que eles sejam executados.

Um sujeito resiliente não é apenas aquele que consegue superar suas dificuldades e aprender com elas, mas também aquele que consegue compartilhar seu aprendizado com outros sujeitos e formar uma rede de apoio. Isso importa muito para os projetos de prevenção que pretendem trabalhar com as fortalezas do sujeito, com o seu “dar a volta por cima” e não somente com sua possibilidade de queda.

domingo, 11 de abril de 2010

VOLTA POR CIMA
Paulo Vanzolini

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral
Não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CONSTRUÇÃO DE RESILIÊNCIA NO PROCESSO EDUCATIVO FORMAL

Educar não é uma tarefa das mais simples, principalmente quando a mensagem que se transmite para essa finalidade não é clara, sustentada e contextualizada. Paulo Freire mostrou muito bem isso no seu ensino. Nesse sentido, o educador precisa se despojar: de seus preconceitos, de sua sabedoria, de seus achismos, mesmo de seus cientificismos. Ele precisa se abrir para uma nova criatura que aporta com seu desejo de aprender e descobrir o mundo. Sim, o professor é um porto, com suas regras, suas formalidades; mas também é um mundo novo, servindo apenas de ancoragem, sabendo que o educando veio e também irá partir no momento oportuno.

Educar um jovem é tarefa ainda mais complicada, pois ele já possui algo firme e constituído, sua personalidade está a meio caminho de torná-lo que é ou quer ser, seu raciocínio é lógico e abstrato, ou seja, age, mas também reflete. Porque reflete, questiona, causando mal estar quando se opõe à autoridade instituída (à instituição escolar, ao diretor, ao professor, ao inspetor, às vezes a outros colegas). Sim, o jovem é bastante competente para se opor à autoridade, ao mesmo tempo em que pede um pouco de ordem. Como reagir da forma como ele deseja?

Mesmo criticando e questionando o saber que se lhe outorga, o jovem costuma aceitar desafios. Isso é importante, pois a partir desse ponto podemos desafiá-lo a construir algo positivo, a buscar seu próprio conhecimento, a estabelecer regras que se coadunem com as da autoridade, aprendendo a negociar, a se posicionar politicamente, a questionar de forma amadurecida.

Essa oportunidade de investimento deve ser oferecida a todos os jovens, independentemente de seu interesse, de seu grau de inteligência, de seu grau social, de sua referência de contexto. Assim, não se deve abandonar os jovens que não amadurecem de acordo com o pré-estabelecido, ou aqueles muito sofridos, que muitas vezes achamos que não renderá como queremos, pois negativamos algumas situações, como estado de pobreza, miséria afetiva, família desestruturada e adicções sem fim, dando o jovem por perdido.

Volto a reforçar a importância do professor como alguém que pode reconhecer as potencialidades dos jovens e focar sua atuação nesses pontos positivos, pois eles podem apontar para a capacidade desses jovens de superação de suas dificuldades, mostrando que eles possuem resiliência e que esta pode ser promovida no campo da educação formal. Nesse sentido, os professores podem se tornar tutores de resiliência, fomentadores de descobertas e ações que tornem seus educandos vencedores, não só na área da educação, mas também na afetiva, tornando-os aptos para a vida, adaptando-se em sua sociedade (limpando todo o ranço ideológico que podem conter as palavras “vencedor” e “adaptação”).

Sabemos o quanto pode ser complicado o professor ir além do papel de quem ensina, tornando-se um educador para a vida. Em muitos contextos ele pode se perder entre ser um representante da lei (com conhecimentos, regras, punições e controlador do tempo) e um elo entre o educando e a sociedade. Mas ser um educador, melhor ainda ser um tutor de resiliência, permite que entre em contato afetivo com esses jovens, perceba suas necessidades e suas potencialidades e seja uma ponte para o crescimento deles.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"Casita" da resiliência - veja texto abaixo


LA CASITA – MODELO DE PROMOÇÃO DE RESILIÊNCIA

Em 1995, o sociólogo e demógrafo Stefan Vanistendael, do BICE (Bureau International Catholique de l’ Enfance, uma ONG suíça que luta pelos direitos das crianças), formulou, a partir de pesquisas e experiências práticas, cinco elementos principais para a promoção da resiliência em crianças: redes de apoio social, busca pelo sentido da vida, aptidões e sentimento de controle da própria vida, auto-estima e senso de humor. Em 1996, para que fosse mais bem compreendido o tema, ele criou uma metáfora que chamou “la casita” (a casinha), termo que, sem ser traduzido, ficou internacionalmente conhecido.

Nessa “Casita” cada instância representa um campo de intervenção possível para os que querem contribuir para PROMOVER a resiliência. São sugestões que cada pessoa ou instituição deve levar em contar para cada situação concreta e, por conseguinte, atuar de acordo com as necessidades e as possibilidades que essa situação oferece.

Em primeiro lugar está o alicerce, a base sobre a qual a “casa” será construída. Trata-se aqui das necessidades materiais básicas (comida, saúde, casa, sono, vestuário, etc). No subsolo (incluindo o porão) estão as redes de relações sociais (família, escola, clubes, a comunidade e outros) e no coração dessas redes se situa a aceitação profunda da pessoa (aceitação por si e pelo outro).

No térreo (primeiro piso) encontramos uma capacidade fundamental, o sentimento de estar vivo e qual o sentido da vida, questão que pode ser colocada através de uma filosofia que consiste em apreciar plenamente a existência e encontrar coerência para nosso viver. Este nível é o dos projetos pessoais concretos, que devemos encontrar para cada pessoa. O descobrimento do sentido não é uma tarefa individual da criança, podendo ser ativado pelos adultos.

No segundo piso encontramos três cômodos: a autoestima, as competências e atitudes e o humor. Igual a uma casa, os cômodos possuem comunicação entre eles, os campos estão interligados. Assim, a autoestima está em estreita relação com outros elementos, como a aceitação do outro, por exemplo.

No telhado (incluindo o sótão) se encontra a abertura a novas experiências, a capacidade de se entregar a sentimentos profundos e o aprofundamento do sentido da existência pessoal.

O desenho de cada casita é dinâmico e varia conforme as culturas e as realidades pessoais e coletivas. Pode aplicar-se à análise de um determinado grupo religioso, auxiliando a discernir em que domínio, ou peça da casa, seria importante incentivar os esforços, o que permitiria enxergar tanto os elementos que podem ser construídos quanto visualizar os elementos da casita que foram fragilizados ou destruídos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Veja abaixo clipe da nova versão de "We Are the World"

da Folha Online
Cantores, rappers e atores famosos gravaram uma nova versão de "We Are the World", em prol das vítimas do terremoto no Haiti, 25 anos após a mesma canção servir de alerta para o mundo sobre fome na África. O clipe, lançado oficialmente nesta sexta-feira (12), pode ser visto a seguir.

Nomes como Barbra Streisand, Tony Bennett, Nicole Scherzinger (Pussycat Dolls), Miley Cyrus e Celine Dion, além dos rappers Kanye West, Snoop Dogg, Drake, LL Cool J e Will.i.am (Black Eyed Peas), participam da produção, que não contou com nenhum dos participantes da versão anterior. No entanto, o estúdio em Hollywood foi o mesmo, assim como a direção artística de Quincy Jones e Lionel Richie, um dos autores da música.

We are the world - nova versão

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Resiliência da Nação Haitiana


ESTAR PREPARADO SEMPRE!!! Esse deveria ser o lema de indivíduos e comunidades que reconhecem seus riscos, que conseguem avaliar sua intensidade e que possuem ou constroem fatores de proteção adequados e suficientes ao seu redor para se protegerem e se recuperarem dos efeitos das adversidades durante sua vida. Estar preparado é uma necessidade vital e evita ou minimiza o confronto com situações catastróficas e traumáticas, sejam elas naturais (que nem sempre são tão naturais assim) ou construídas pelo homem. No nível individual, o principal é CONHECER, tornar-se sabedor; no nível comunitário, ou enquanto nação, o importante é a ELABORAÇÃO e APROVAÇÃO de políticas públicas.

O sujeito pode realizar periodicamente avaliações de seu risco e tomar precauções necessárias para evitá-los. Mesmo assim, conhecer não quer dizer se proteger. Mas, convenhamos, para a maioria das pessoas o mais saudável é sim evitar o risco tomando medidas necessárias para se afastar deles.

A comunidade geralmente toma conhecimento dos riscos quando eles ocorrem e, na maioria das vezes, mas nem sempre, toma as devidas precauções para que eles não voltem a se repetir. Nem sempre se tem condições de fugir do risco, pois no nível individual podem não haver possibilidades para isso (os recursos individuais nem sempre dão conta de superar as adversidades do meio social). Muitas vezes a comunidade sozinha consegue promover situações para evitar novos riscos, mas não raramente ela tem que recorrer a outras comunidades ou aos governos locais e nacionais para isso.

Nesse sentido, algumas coisas são necessárias, como as seguintes.

No nível individual: ter pessoas ao seu lado em quem você confie e que te auxiliem quando está doente ou em perigo; ser uma pessoa querida e amada pelos outros; estar satisfeito por fazer coisas boas para os outros; ser respeitoso consigo mesmo e com os outros; ter certeza de que as coisas vão dar certo; consiga conversar com as pessoas sobre coisas que te amedrontam e te incomodam; consiga encontrar formas de resolver os problemas que aparecem; etc.

No nível comunitário: que a comunidade construa um bom suporte social, atendendo as necessidades de todos os indivíduos; que estabeleça redes comunitárias internas e externas a ela; que mantenha seus ritos e costumes; que tenha regras claras sobre convivência; que eleja representantes que lhe dêem retorno quanto a suas necessidades; etc.

E ENQUANTO NAÇÃO?

“O que é uma nação? Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional” (ver o termo na wikipedia). No entanto, essas características por si só podem não constituir uma nação, sendo sua mais forte característica o vínculo que as pessoas mantêm entre si, seu sentido de coletivo, sua consciência de nacionalidade.

O sentido de uma nação deve estar o tempo todo sendo constituída e reconstituída. Constituída através de sua cultura, de seus ritos e costumes, de suas leis; reconstituída a cada vez que sua identidade é destruída ou abalada, como em guerras, grandes catástrofes naturais, epidemias, etc. Essa reconstituição se dá tanto pelas ações do poder instituído (tanto local quanto nacional e internacional) quanto pelas ações do próprio povo. Podemos dizer que essa identidade, esse sentir-se como uma nação, essa capacidade de reconstituir-se mesmo depois de grandes adversidades é o que chamamos de resiliência, podendo esse conceito ser aplicado a um coletivo, a um país, a uma nação.

Pensando na resiliência (capacidade de recuperar-se de grandes adversidades e até mesmo sair-se fortalecido depois de superá-las) de uma nação frente a catástrofes naturais, é possível estabelecer um antes e um depois.

O antes se compõe do conhecimento, da medida da possibilidade dessa catástrofe ocorrer. Quanto maior o conhecimento, seja ele histórico, tecnológico, seu grau de previsibilidade (e com quanto tempo de antecedência), seu grau de destruição, mais fácil será a preparação para sua ocorrência (já que, por ser natural, é inevitável; o que é possível é diminuir seu grau de destruição). Outras ações que podem ser realizadas antes: preparar a população para a ocorrência do fenômeno, seja evacuando locais, seja ensaiando as pessoas para buscar a melhor forma de se proteger; e construir edificações que resistam ao impacto do fenômeno.

Pensando no Haiti e pensando no terremoto ocorrido no dia 12 de janeiro de 2010, podemos afirmar que a nação haitiana não estava preparada para absorver o impacto (físico, social, moral) de um terremoto com tal grau de magnitude. Não estava preparada tecnologicamente, politicamente, economicamente, estruturalmente e mesmo moralmente. Inicialmente, façamos uma comparação com o Japão. Não é uma comparação muito razoável, já que o Japão tem outra estrutura política, econômica e cultural, mas basta para entendermos o que é estar preparado.

Em 2002 a cidade de Yokohama lançou seu Manual de Prevenção de Desastres para os Estrangeiros de Yokohama (pode ser acessado pelo link www.city.yokohama.jp/me/anzen/kikikanri/foreigners/manual_p.html). Na parte sobre terremotos, é assumido que o Japão é um “país propenso a terremotos”, há uma explicação científica para esse fato e uma contextualização histórica de suas ocorrências. Por fim, admite-se a necessidade de um preparo constante, pois novos terremotos com certeza irão ocorrer.

Crianças do ensino elementar também participaram da simulação. Essa sumulação tem o objetivo de conscientizar e preparar a população em casa ou outros locais para agir adequadamente nas situações de emergências que a ocorrência de um terremoto provoca, tais como pessoas entrando em pânico e se pisoteando, dificultando a evacuação de um local de risco, engarrafamentos, etc.

A população é orientada a sempre manter um estoque de comida e água para toda a família por pelo menos três dias; outros objetos também serão úteis caso seja preciso ficar vários dias em um abrigo. A mala com esses objetos, assim como os alimentos, deve ficar em lugar visível e de fácil acesso. Uma lista de ações também é repassada para a população, com questões tais como qual é o lugar mais seguro em casa, qual é o melhor caminho para evacuação, quem cuidará de crianças e idosos, etc. Além de treinamentos, o Japão investe em engenharia moderna para prevenir tragédias (como prédios inteligentes que conseguem resistir ao impacto de terremotos e continuar em pé).

E quanto ao Haiti?

Em relação ao conhecimento da probabilidade de ocorrência de terremotos na ilha, o governo haitiano recebia relatórios de estações meteorológicas americanas com certa freqüência e a mídia, de alguma forma, repassava essa informação à população. Na verdade, o país já sofreu em várias ocasiões terremotos de baixa e média intensidade na escala Richter, mas nunca foi elaborado um plano de prevenção e de fuga para quando ocorresse um fenômeno de alta intensidade.

Um dos fatores que podem explicar essa despreparo é a situação política e econômica irregular com a qual o Haiti sempre conviveu, desde 1957 quando foi eleito para presidente François Duvalier (Papa Doc), depois sucedido por seu filho Jean-Claude Duvalier (Baby Doc) até 1988; os dois governaram o país como ditadores e usurparam sua economia e sua liberdade política. A partir da deposição de Baby Doc o pais tentou viver, sem muito sucesso, uma onda de democracia. Os últimos acontecimentos políticos tiveram início em 2004, quando o presidente em exercício pediu auxílio às Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF), liderada pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento e continua no Haiti até hoje.

Com uma economia sempre degradada e fragilizada, o governo haitiano nunca conseguiu investir de forma adequada na estrutura do país e na educação e saúde da população, principalmente no preparo para a ocorrência de catástrofes. Nesse sentido, as construções são antigas e sem nenhuma possibilidade de resistir a tremores (ocorrem quedas dessas construções, com soterramento de pessoas, mesmo sem a ocorrência de terremotos!), não existem normas rígidas de ocupação do solo, o povo nunca foi treinado para agir nessas situações (nem antes e nem depois de uma grande catástrofe) e a saúde não se preparou para evitar epidemias de doenças depois dessas ocorrências; ou seja, ações que podem reduzir a vulnerabilidade dos grandes aglomerados populacionais nunca foram verdadeiramente efetivadas.

Pela sua história, pela pouca capacidade de reagir e superar suas dificuldades, pela repetição de problemas em diversas áreas, pode-se dizer que a nação haitiana possui pouca resiliência. Para aumentar essa resiliência, a partir da recuperação necessária em função desse último terremoto ocorrido, intervenções importantes precisam ocorrer, com os esforços sendo direcionados não apenas para a redução de conseqüências negativas ou mau ajustamento entre os grupos atingidos, mas também para a promoção de dimensões de adaptação positiva ou competência; as intervenções devem ser desenhadas para reduzir influências negativas (fatores de vulnerabilidade) e para capitalizar recursos específicos com populações particulares; os esforços de intervenção devem ter como objetivo estimular serviços que eventualmente possam se tornar auto-sustentáveis, podendo, assim, dar sustentabilidade e poder de resistência ao Haiti.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Construindo Famílias Resilientes

O texto abaixo foi escrito por uma instituição de saúde canadense e traduzido por mim (posto o original em inglês no final da tradução). Apesar de não considerá-lo um texto muito bom sobre resiliência, pois carrega um tanto de ideologia e "moralismo", é um exemplo de como se deve pensar a promoção da resiliência familiar. Todo comentário será bem-vindo.


CONSTRUINDO FAMÍLIAS RESILIENTES


ALBERTA HEALTH SERVICE

“A informalidade da vida familiar… que nos permite tornar nosso melhor enquanto observamos nosso pior” (Marge Kennedy)

As pessoas que mais impactam nossa vida e formam o que somos são nossa família. Famílias saudáveis provêm segurança, suporte, amor e experiências positivas de vida, que possuem um papel vital em como aprendemos, crescemos e respondemos às mudanças. Nós aprendemos de nossas famílias a respeito dos relacionamentos e das habilidades para lidar (to cope) com a vida.

Uma família pode ser ‘tradicional’, com uma mãe, um pai e filhos. Famílias podem incluir filhos biológicos, adotados ou de diferentes etnias. Os cuidadores primários em uma família geralmente incluem avós e outros parentes, pais solteiros, pais do mesmo sexo, padrastos, pais de criação e amigos próximos. As famílias possuem seus próprios padrões, rituais, culturas e regras.

Idealmente uma família é qualquer grupo ou indivíduo que provê um ambiente seguro e de confiança, que alimenta a aprendizagem e um desenvolvimento saudável. No entanto, nenhuma família está imune ao conflito, à mudança, ao estresse e, infortunadamente, nem todas as famílias nutrem confiança e desenvolvimento saudável. A maioria das pessoas não cresce em famílias “ideais”, mas os laços formados nas famílias são importantes. Até mesmo famílias em meio a conflitos e adversidades podem ensinar a estimular e promover saúde mental e bem-estar tanto dos indivíduos quanto do sistema familiar.

O bom enfrentamento das famílias e sua boa adaptação durante situações de estresse e nos momentos difíceis são chamados resiliência familiar. A resiliência familiar permite o sucesso, prosperidade, coesão e suporte mesmo em tempos difíceis e de crise e pode ser desenvolvida e estimulada a qualquer tempo no ciclo vital familiar. Em geral, a resiliência familiar pode ser descrita como características, dimensões e propriedades das famílias que as ajudam a se recuperar das rupturas e/ou mudarem e se adaptarem frente às situações de crise.

Relacionamentos positivos dentro das famílias é o mais importante fator que leva à resiliência. Famílias que são resilientes são capazes de juntas enxergarem desafios e crises com confiança e como oportunidades de crescimento, cura e fortalecimento dos seus relacionamentos. Pesquisas tem encontrado que famílias resilientes e saudáveis possuem dez traços comuns que as ajuda a prosperar. São os seguintes:

- Perspectiva positiva
- Espiritualidade
- Harmonia entre os membros da família
- Flexibilidade
- Comunicação
- Gestão financeira
- Passar o tempo juntos
- Interesses recreativos mútuos
- Rotinas e rituais
- Suporte social

Uma perspectiva positiva: no coração da resiliência se encontra uma abordagem otimista e confiante dos desafios da vida. Afeto e humor ajudam a lidar com muitas situações. Famílias que se oferecem soluções positivas e estão dispostas a aceitar sugestões têm mais probabilidade de serem resilientes. Famílias que lidam bem (cope well) também são capazes de afirmar suas força e possibilidades, mantendo sua coragem e sua esperança no futuro.

Espiritualidade: espiritualidade pode ou não ser baseada na religião. Espiritualidade é uma sensação de que a vida tem sentido e propósito. Ela pode vir de crenças e valores compartilhados no interior das famílias. A espiritualidade é benéfica para estimular uma atitude otimista, contribui para a busca de propósito e provê às famílias habilidade para se manter unida, ter compreensão e superar os desafios da vida.

Harmonia entre os membros da família: as famílias funcionam melhor quando seus membros se sentem bem em relação a um e outro, suas necessidades são satisfeitas e seus relacionamentos são positivos. A habilidade familiar para se manter unida e dar suporte aos seus membros em tempos de crise é vital para a resiliência. Uma forte coesão familiar reforça a confiança da família para lidar com os problemas, porque os problemas são mais frequentemente vistos como compreensíveis, manejáveis e com significados. Esse sentido de coesão contribui para a habilidade familiar de se reagrupar e se reajustar após o fim de uma crise. Uma forte harmonia familiar ajuda seus membros a lidar um com o outro de forma respeitosa e amorosa.

Flexibilidade: uma família flexível é aquela que pode manter seu senso de continuidade enquanto se recupera de uma crise e/ou da solução de problemas que a estão desafiando. Isto é, seus membros voltam à rotina e à familiaridade e têm a sensação de que “a vida continua”.

As famílias se saem bem quando elas apresentam um equilíbrio saudável entre estrutura e flexibilidade. Por exemplo, uma família pode ter em sua estrutura de rotina se reunir à noite para o jantar e ter a flexibilidade para incluir os colegas de brinquedos de seus filhos nesse momento, ou ir comer fora juntos. Famílias com um equilíbrio saudável:

- são democráticas (por exemplo, todos os membros têm fala nas decisões familiares importantes);
- dividem a liderança (por exemplo, cada membro na família pode revezar-se na escolha do filme que a família irá assistir junto);
- têm papéis estáveis e dividem papéis (por exemplo, o pai usualmente prepara a ceia e as crianças põem a mesa); e
- possuem regras familiares rígidas e podem negociar com cada um de seus membros.

Famílias flexíveis lidam com as mudanças de forma otimista e quando se confrontam com desafios e/ou adversidades, elas reorganizam seus papéis a fim de obter um novo equilíbrio. Por exemplo, quando o filho mais velho vai morar fora de casa, algumas responsabilidades dos membros restantes da família aumentam, e decisões devem ser tomadas sobre quem vai dormir no quarto vazio deixado por ele.

Comunicação familiar: um sentido compartilhado de significados, estratégias de enfrentamento (coping) e a habilidade para manter o equilíbrio familiar são criadas através de uma comunicação aberta e harmoniosa. Uma comunicação familiar forte tem três elementos:
- Clareza (mensagens claras e consistentes);
- Expressão emocional aberta (comportamento, tom de voz, palavras, disponibilidade e estilo de comunicação);
- Solução compartilhada dos problemas (habilidade para resolver e compartilhar os problemas enquanto família).

A comunicação é mais efetiva quando as diferenças familiares são aceitas e tratadas com compaixão e compreensão. O bom funcionamento familiar tende a evitar isolamento, crítica e culpa e torna possível a reconciliação e a reconexão, mantendo o conforto, segurança e equilíbrio.

Gerenciamento das finanças: o bem-estar familiar está intimamente associado com a forma como as finanças são gerenciadas. Em tempos de dificuldades financeiras, famílias resilientes provêm altos níveis de calor humano, afeto, suporte emocional para cada um dos seus membros, e a sensação de um futuro melhor. Pressões financeiras podem levar a uma tensão e estresse familiar e podem afetar o bem-estar emocional e os relacionamentos interpessoais em todos os níveis da família (por exemplo, a emoção de cada indivíduo, interações entre os casais e o ambiente de cuidado dos filhos).

A combinação do ônus psicológico, social e econômico pode colocar as famílias em alto risco pelos múltiplos problemas e crises fora de seu controle (por exemplo: desemprego, casa mal conservada, ausência de cuidados de saúde, crime, violência e abuso de substâncias químicas). Famílias resilientes têm maior probabilidade de conseguir um planejamento ou um equilíbrio no seu orçamento.

Tempo familiar: gastar o tempo juntos é vital para uma família e promove continuidade e uma vida familiar estável. Passar juntos o tempo pode ir desde fazer as refeições e as tarefas em conjunto, fazer tarefas na rua (running errands) e se divertir.

Compartilhar o tempo familiar tem sido mostrado como redutor de chances dos filhos se envolverem com drogas, cigarro e iniciar atividade sexual precoce, que podem colocar sua saúde física e mental em risco, particularmente na adolescência. Infelizmente, o tempo familiar parece estar encolhendo devido ao aumento da demanda dos pais, responsabilidades e a pressão do tempo {time strain} (um fenômeno que inclui a falta de espontaneidade para responder às necessidades dos filhos, fadiga e inabilidade para se desligar do trabalho).

Formas efetivas de reduzir a pressão do tempo e aumentar o tempo familiar incluem: atividades domésticas utilizando o tempo comum para se manter uma comunicação significativa, discutir planos futuros e participando de atividades lúdicas educativas.

Diversão compartilhada: uma boa saúde familiar pode ser atribuída aos múltiplos benefícios de se dividir a diversão e o lazer. Benefícios do lazer incluem: estabelecer apegos saudáveis, satisfação interna, felicidade, aprendizagem, humor e o prazer de dividir experiências.

Dentro da família, a recreação pode ocorrer de duas formas e ambos os tipos de atividades são importantes para estimular adaptabilidade e coesão: 1) nucleares ou de rotina e atividades como jogos de tabuleiros e de cartas; ou 2) atividades novas como boliche ou fazer um picnic familiar.

Rotinas e rituais: pesquisas têm mostrado que famílias que seguem rotinas e rituais são mais estáveis e os filhos apresentam melhores resultados. As rotinas são compromissos momentâneos e requerem pouco pensamento consciente e elas provêm um sentido de conforto e estabilidade, especialmente para as crianças.

As rotinas são geralmente deixadas de lado durante uma crise familiar como adoecimento ou separação do casal, e isso pode ser difícil e inquietante para as crianças. No meio da crise ou do desafio, manter a rotina o quanto for possível proverá à família previsibilidade, coesão e conforto. Os rituais são simbólicos em sua natureza, afetando e perpassando as gerações de uma família.

Os rituais são formas de celebrar e manter os valores e as tradições familiares através das gerações. Por exemplo, talvez sua família passe todas as ceias de Natal na casa de sua avó e passe as férias familiares sempre no mesmo local. Rotinas e rituais são importantes para a promoção da resiliência familiar por promover relacionamentos familiares mais íntimos, socialização da criança e amenizar os efeitos de eventos estressantes.

Suporte social: estar conectado à sua comunidade familiar e ao sistema de suporte social é importante e provê um sentido de pertencimento e coesão. Suportes comunitários e sociais podem incluir jogos familiares em grupo, associações comunitárias, organizações de voluntários e ligas de recreação e de esportes.

Redes comunitárias têm impacto sobre a resiliência. Famílias resilientes não somente recebem suporte social de suas comunidades, mas também tendem a retribuir para a comunidade. A família ampliada e a comunidade oferecem às famílias: rede social, interação mútua e formas de oferecer informações uns aos outros sobre os serviços/programas, folgas e opções de contribuir para o bem-estar da comunidade e companhia.

Desenvolvendo a resiliência familiar

O desenvolvimento da resiliência pode ser feito em qualquer momento do ciclo de vida da família. Portanto, não importa se você tem uma família com duas crianças pequenas ou uma família estendida com filhos maduros que estão começando suas próprias famílias; desenvolver a resiliência familiar é possível e vale à pena. As estratégias a seguir são úteis para desenvolver resiliência nas famílias:

Planeje adiante: priorizar metas de vida, atividades e compromissos é importante. Um planejamento eficaz precisa ser temporal e priorizado de forma intencional. Determine que coisas são mais importantes para focar energia e tenha semanalmente reuniões familiares para discutir a semana seguinte e quaisquer desafios ou conflitos que podem surgir. Um planejamento futuro deveria levar em conta coisas como: criar tempo familiar, determinar o tempo de lazer individual (por exemplo, data dos jogos com outras crianças/amigos), manter uma nutrição adequada e níveis de exercícios, despesas no orçamento familiar e geralmente priorizar semanalmente ou mensalmente eventos e atividades do mais importante para o menos importante. Planejar antecipadamente absorve e compromete todos os membros da família.

Funcionamento conjunto: as famílias devem trabalhar conjuntamente para funcionar efetivamente. Encoraje a cooperação, contribuição positiva, autoconfiança, comunicação aberta e honesta e o perdão dentro da família. Trabalhar conjuntamente significa que cada membro da família tem um papel importante e prático dentro dela. Famílias que trabalham junto e suportam cada um de seus membros são mais equilibradas e apresentam um melhor bem-estar geral.

Aprender com as experiências: quando uma crise ou um desafio surge, é importante aprender com essas experiências. Proporcione a cada membro da família segurança e suporte evita a repetição de dor e sofrimento emocional desnecessários. Evite a repetição de experiências negativas pela promoção de uma comunicação aberta, honesta e sem julgamento, planejando um desenvolvimento realístico (individualmente), desenvolvendo metas familiares que requerem trabalho em equipe e, se uma falha ou decepção ocorrer, dê suporte a cada um para se obter sucesso.

Divertir-se juntos: apreciar uns aos outros, encontrarem humor em suas vidas e sorrir para aliviar o stress! Diversão familiar conjunta é melhor quando está baseada na qualidade do tempo e da interação. As atividades familiares não precisam ser caras – caminhar no parque mais próximo, jogar ou simplesmente sentar e conversar! Encontrar prazer e felicidade em sua família é um importante meio para desenvolver, aumentar e sustentar a resiliência durante a vida.

Dicas e atividades para a construção da resiliência familiar

Acima de tudo, o tempo familiar que é positivo, reflexivo, saudável, divertido e construtivo é vital para promover e desenvolver resiliência. Com a atual incerteza econômica no nível local e no nível global, estar conectado e focado nas nossas famílias é importante e positivo para nossa saúde e bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. As dicas e idéias a seguir podem te ajudar a estar conectado a sua família, promover saúde e bem-estar e desenvolver a resiliência familiar!

Seja ativo, recreativo e sem pressa

Ser ativo enquanto família não é somente saudável, mas também divertido e agradável. Para se manter ativo, recreativo e despreocupado tente:
- Levar a família para passear no parque no verão. Jogar bola, brincar de frisbee, nadar ou simplesmente sentar na grama. Sair e apreciar o dia em um parque ajudará a clarear sua mente, queimar alguma energia e promover a qualidade do tempo familiar de uma forma barata.
- No inverno, saia e se divirta na neve! Construa uma cabana de neve ou um homem de neve, faça anjos de neve, brinque no tobogã ou no trenó ou faça um passeio agradável numa noite amena de inverno. Não deixe que o inverno impeça as saídas da família. Seja ativo no inverno, então faça chocolate quente com marshmallows para a família toda apreciar!
- Confira seu ginásio ou centro comunitário local para ver que tipos de programas ou atividades são oferecidos para famílias. Noites para nadar juntos, ginástica livre e artesanato e aulas de atividades são grandes maneiras de apreciar o tempo juntos em um ambiente divertido e relaxado. Esse tipo de saída também te mantém conectado com a sua comunidade.
- Planeje um picnic familiar. Escolha um destino, perto ou longe, embrulhe alguma comida e bebidas (especialmente água se estiver quente!) e vá para um picnic familiar. Picnics são uma boa maneira de se manter ativo e nutritivamente consciente, enquanto desfruta dos benefícios de saúde mental de gastar o tempo junto a pessoas que você ama.

Fique conectado com sua casa!

- Separe uma ou duas noites por semana para cozinhar enquanto família. Isso é bastante divertido e mantém a família unida ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Tente diferentes receitas ou escolha um tema para a refeição de cada noite (por exemplo, noite da cozinha grega ou noite das pizzas bizarras) e que cada um assuma um papel na preparação da comida e da refeição.
- Coma juntos! Comer juntos é umas das melhores formas para os membros da família se manterem conectados. Refeições conjuntas permitem uma comunicação familiar aberta e a chance de dividir o que tem acontecido a cada um em um ambiente centrado no social e no familiar.
- Realize reuniões familiares para planejar o fim semana juntos. É importante conhecer a agenda de cada um e oferecer suporte para ajudar a cada um se conflitos ou discussões familiares surgirem. As reuniões familiares são uma boa forma de promover a democracia familiar, dividir liderança e desenvolver habilidades de negociação para resolver conflitos.
- Brinquem junto! Jogos de tabuleiro e de cartas são uma boa diversão para toda a família e podem ser facilmente adaptados às idades e aos níveis de habilidades dos membros da família. Jogos podem ser realizados em times ou individualmente e são uma grande forma de promover trabalho em grupo e honestidade. Os jogos ajudam também a desenvolver autoconfiança e habilidades sociais importantes como seguir regras e ser capaz de aceitar derrotas tão bem quanto vitórias.

Mantenha-se conectado com a sua comunidade!

- Dê retorno à sua comunidade. Isso é uma grande forma de aumentar a conexão individual e familiar com o lugar em que você vive. Voluntariar-se para treinar ou organizar o time de esportes de seus filhos é uma boa maneira para se encontrar e interagir com famílias locais e uma forma de construir amizades e ligações duradouras com sua comunidade local.
- Apreciem juntos uma livraria. As livrarias são familiares, educativas, divertidas e sem custo. Famílias com crianças pequenas podem participar de momentos de contação de histórias; crianças mais velhas podem se divertir lendo em grupos. Idas a livrarias podem promover o amor à leitura e ajudar às crianças a aprender como usar a livraria para realizar trabalhos escolares e para diversão!
- Explore os museus locais, galerias de arte e centros de ciências. Eles geralmente oferecem pacotes familiares que os podem tornar mais acessíveis como um passeio em família. Se disponíveis, aproveite esses descontos e eduque sua família sobre história, arte e cultura.


Building Resilient Families

ALBERTA HEALTH SERVICES

“The informality of family life…allows us to become our best while looking our worst”. ~Marge Kennedy

The people who most impact our lives and shape who we become are our family. Healthy families provide security, support, love, and positive life experiences that play a vital role in how we learn, grow and respond to challenges. We learn about relationships and the skills to cope with life from our families.

A family can be ‘traditional’ with a mom, dad, and children. Families can include children who are biological, adopted or of different ethnicity. Primary care providers in a family might also include grandparents and other relatives, single-parents, same-sex parents, step-and foster-parents or close friends. Families have their own unique patterns, rituals, culture and rules.

Ideally a family is any group or individual who provides a safe and trusting environment that fosters learning and healthy development. However, no family is immune to conflict, challenge, or stress, and unfortunately, not all families foster a safe and healthy environment. Most people don’t grow up in ‘ideal’ families, but the bonds formed in families are important. Even families with conflict and adversity can learn to foster and promote mental health and well-being as individuals and within the family system.

How well families cope and adapt during stressful or difficult times is called family resilience. Family resilience enables success, flourishing, cohesion and support even in
times of trouble and crisis and can be developed and fostered at any time in the family life cycle. In general, family resilience can be described as characteristics, dimensions, and properties of families which help them to rebound from disruption and/or change and to adapt in the face of crisis situations.

Positive relationships within the family are the most important factor that leads to resilience. Families who are resilient are able together to view challenges and crises with confidence and to view challenges as opportunities to grow, heal and strengthen their relationships. Research has found that resilient, healthy families have 10 common traits that help them flourish. They are:
• a positive outlook
• spirituality
• family member accord
• flexibility
• communication
• financial management
• time together
• mutual recreational interests
• routines and rituals
• social support

Positive Outlook: At the heart of resilience is an optimistic, confident approach to life’s challenges. Affection and humor help to deal with many situations. Families who offer each other positive solutions, and are willing to accept suggestions are likely to be more resilient. Families who cope well are also able to affirm their strengths and possibilities, maintain courage, and sustain hope for the future.

Spirituality: Spirituality may or may not be religion based. Spirituality is a sense that life has meaning and purpose. It can come from shared beliefs and values within families. Spirituality provides connection not only to family, but to the community and the universe. Spirituality is beneficial to fostering an optimistic attitude, contributes to seeking purpose, and provides families with the ability to unite, understand, and overcome life’s challenges.

Family Member Accord: Families function best when they feel good about each other, their needs are met, and their relationships are positive. A family’s ability to pull together and support each other in times of crisis is vital to resilience. Strong family cohesion enhances a family’s confidence in dealing with problems because problems are more often seen as comprehensible, manageable and meaningful. This sense of cohesion contributes to a family’s ability to regroup and adjust after a crisis has passed. Strong family accord helps family members deal with each other in respectful, loving ways.

Flexibility: A flexible family is one that can maintain their sense of continuity while rebounding from a crisis and/or sorting out issues that are challenging. That is, they get back to routines and familiarity and have a sense that ‘life will go on’.

Families do well when they have a healthy balance between structure and flexibility. For example, a family might have routine structured time together at their evening meal, and have the flexibility to include their children’s playmates on occasion, or go out together for a meal. Families with a healthy balance:

• are democratic (for example, all family members have a say in important family decisions);
• share leadership (for example, each member of the family can take turns picking the movie the family will watch together);
• have stable roles and shared roles (for example, Dad usually makes supper, and children set the table); and,
• have strong family rules, and can negotiate with each other.

Flexible families deal with change optimistically, and when faced with challenge and/or adversity, they reorganize their roles in order to build a new balance. For example, when the eldest child moves away from home, some responsibilities of the remaining family members may increase, and decisions might be made about who gets to sleep in the eldest child’s empty bedroom.

Family Communication: A shared sense of meaning, coping strategies, and the ability to maintain family balance is created through open, harmonious communication. Strong family communication has three elements:

• Clarity (clear and consistent messaging)
• Open emotional expression (behavior, tone, words, availability, and communication style)
• Shared problem solving (the ability to solve and share problems as a family)

Communication is most effective when family differences are accepted and dealt with using compassion and understanding. Well functioning families tend to avoid withdrawal, criticism and blame, and are able to reconcile and reconnect, maintaining comfort, security and balance.

Financial Management: Family well-being is closely associated with how well finances
are handled. In times of financial hardship, resilient families provide reciprocal high levels of warmth, affection, emotional support for each other, and a sense of promise for a brighter future. Financial pressures can lead to family tension and stress and can affect emotional well-being and interpersonal relationships at all levels in the family (e.g., individual emotional lives, marital interactions between adults, and the caretaking environment of the children).

The combination of psychological, social and economic burden can put families at higher risk for multiple problems and crises beyond their control (for example: unemployment, substandard housing, lack of health care, crime, violence, and substance abuse). Resilient families are likely to have a plan or a budget for balancing expenses with income.

Family Time: Spending time together is vital for a family and promotes continuity and a stable family life. Time spent together can range from having family meals, doing chores together, running errands, and having fun.

Sharing family time together has been shown to reduce the chances that children will get involved in substance abuse, smoking and early sexual activity that can put their mental and physical health at risk, particularly in adolescence. Unfortunately, family time appears to be dwindling due to increased parental demands, responsibilities and time strain (a phenomenon that includes the lack of spontaneity to respond to children’s needs, fatigue, and inability to disconnect feelings from work).

Effective ways to reduce time strain and increase family time include: family housekeeping activities, utilizing commute time to have meaningful communication, discussing future plans, or participating in fun learning activities.

Shared Recreation: Good family health can be attributed to the multiple benefits of sharing recreation and leisure time together. Benefits of family recreation/leisure include: forming healthy attachments, internal satisfaction, happiness, learning, humor, and the pleasure of shared experiences.

Within the family, recreation can occur two ways and both types of activities are important in fostering family adaptability and cohesion: 1) core, or routine and common activities like board and card games; or 2) or novel activities like bowling or having a family picnic.

Routines and Rituals: Research has shown that families who have routines and rituals are more stable and have better child outcomes. Routines are momentary in time commitment and require little conscious thought and they provide a sense of comfort and stability, especially for children.

Routines are often dismissed during a family crisis like illness or marital separation, and this can be hard and unsettling for children. In the midst of crisis or challenge, maintaining routines as much as possible will provide a family with predictability, cohesion, and comfort. Rituals are symbolic in nature and endure, affect and cross family generations.

Rituals are ways to celebrate and maintain family values and traditions through the
generations. For example, maybe your family goes to your Grandmother’s house every
Christmas Eve, or you take an annual family vacation to the same destination. Both
routines and rituals are important to promoting family resilience in that they promote close family relationships, child socialization, and ease the effects of stressful events.

Social Support: Being connected to your family’s community and social support system is important and provides a sense of belonging and cohesion. Community and social supports can include family play groups, community associations, volunteer organizations or recreational/sports leagues.

Community networks impact resilience. Resilient families not only receive social support from their communities, but tend to give back to their communities as well. Extended kin and community offer families: social networks, mutual interaction, and ways to provide information to each other on services/programs, respite, avenues to contribute to the welfare of the community, and companionship.

Developing Family Resilience

Developing family resilience can be done at any time in the family life cycle. So, no matter if you have a family with two young children or an extended family with mature children who are starting their own families, developing resilience is possible and worthwhile. The following strategies are useful in developing resilience in families:

Plan Ahead: Prioritizing life goals, activities and schedules is important. Effective planning needs to be time and priority conscious. Determine what things are most important to focus energy on and have weekly family meetings to discuss the week ahead and any challenges or conflicts that may arise. Planning ahead should take into account things like: creating family time, determining individual leisure time (e.g., play dates with other children/friends), maintaining proper nutrition and exercise levels, budgeting family expenses, and generally prioritizing weekly or monthly events and activities from most important to least important. Planning ahead takes input and commitment from the whole family.

Work together: Families must work together to function effectively. Encourage cooperation, positive contribution, self-reliance, open and honest communication and forgiveness within your family. Working together means each family member knows they have an important and feasible role within the family. Families that work together and support each other are more balanced and have better overall family well-being.

Learn from Experience: When a crisis or challenge arises, it is important to learn from
those experiences. Provide each other with safety and support so that repeating unnecessary emotional hurt and pain can be avoided. Avoid a repeat of negative experiences by promoting open, honest and non-judgmental family communication, planning for realistic improvement (individually), developing family goals that require teamwork, and if failure or disappointment does occur, support each other to become successful.

Enjoy Time Together: Enjoy each other, find humor in your lives, and laugh to relieve stress! Family fun times are best when they are based on quality time and interaction. Family activities don’t need to be expensive - go for a walk to the nearest park, play a game, or just sit around and talk! Finding joy and happiness in your family is a very important way to develop, increase and sustain resilience through a lifetime.

Tips and Activities for Building Family Resilience

Above all, family time that is positive, reflective, healthy, fun and constructive is vital to promoting and developing resilience. With today’s economic uncertainty both in our own communities and globally, staying connected and focused on our families is important and positive for our mental, physical, emotional, spiritual health and well-being. The following tips and ideas can help you stay connected to your family, promote health and well-being and develop family resilience!

Get Active, Recreational, and Leisurely!

Being active as a family is not only healthy, but fun and enjoyable. To get active,
recreational and leisurely try:
• Taking a family walk to the park in the summer. Throw a ball, play Frisbee, swing
or just sit on the grass. Getting out and enjoying a day in the park will help clear your mind, burn some energy, and promote quality family time that is inexpensive!
• In the winter get out and enjoy the snow! Build a snow hut or snowman, make snow angels, go tobogganing or sledding or even just for a nice walk on a mild winter evening. Don’t let the winter put a stop to family time outside. Be active in the winter weather then go inside and make some hot chocolate with marshmallows for the whole family to enjoy!
• Check out your local community centre or gym facility to see what types of programs or activities are offered for families. Family swim nights, open gym or craft and activity classes are great ways to enjoy some time together in a fun, relaxed environment. This type of outing also keeps you connected to your community!
• Plan a family picnic. Pick a destination, near or far, pack some food and drinks (especially water if it’s hot!) and go for a family picnic. Picnics are a great way to be active and nutritionally conscious while enjoying the mental health benefits of spending time together with your loved ones.

Stay connected at home!

• Set aside 1 – 2 nights a week in which you cook as a family. It’s great fun and gets the family together at the same time in the same location. Try different cuisines, or have a theme night for your meal (e.g., Greek food night, or weird pizza night) and have all members of the family play a role in the food and meal preparation.
• Eat together! Eating together is one of the best ways for families to stay connected to each other. Meals together allow for open family communication and the chance to share what has been going on with each other in a social, family centered environment.
• Have family meetings to plan your weeks together. It is important to know each others schedules and to offer support and help to each other if any conflicts or issues arise. Family meetings are a great way to promote family democracy, share leadership, and develop negotiation skills to resolve conflicts.
• Play together! Board games and card games are great fun for the whole family and
can be easily tailored to the age and skill levels in the family. Games can be played in teams or as individuals and are great for promoting teamwork and honesty. Games also help to develop self-confidence, and important social skills such as following rules, and being able to win and lose well.

Stay Connected to Your Community!

• Give back to your community. It is a great way to increase both individual and family connection to the place in which you live. Volunteering to coach or manage your son or daughter’s sports team is a great way to meet and interact with local families and is a way to build friendships and lasting connections to your local community.
• Enjoy the library together. Libraries are family friendly, educational, fun and inexpensive. Families with young children can participate in library story time; older children can join reading groups. Trips to the library can promote a love of reading, and help your children learn how to use the library for both homework and fun!
• Explore your local museums, art galleries, and science centres. They often have family rates that can make it more affordable as a family outing. If available, take advantage of discounts and educate your family about history, art, and culture!

Available Resources
For additional information on resources in your area, check out the links below.

Within Alberta:
• Health Link Alberta – 1.800.408.5465 or
www.healthlinkalberta.ca
• Alberta Health Services
www.albertahealthservices.ca
• Canadian Mental Health Association Alberta Division
http://www.alberta.cmha.ca/
Nationally:
• Public Health Agency of Canada
http://www.phac-aspc.gc.ca/index-eng.php
• Canadian Mental Health Association http://www.cmha.ca/bins/index.asp

Sources:
Black, K., & Lobo, M. (2008). A Conceptual Review of Family Resilience Factors. Journal of Family Nursing, 14(1), 33-55.
Matthews, D.W. (2003). Family Resilience. North Carolina Cooperative Extension Service.
McCubbin, H.I., & McCubbin, M. A. (1988). Typologies of resilient families: Emerging roles of social class and ethnicity. Family relations, 37(3), 247-254. Iowa State University (1995). Family Resiliency, Building Strengths to Meet Life’s Challenges.