1- O que é
resiliência? É a capacidade para enfrentar, recuperar-se e aprender com situações
adversas. Pode ser conceituada para pessoas, famílias, comunidades ou nações.
Para sua avaliação devem-se levar em conta aspectos psicológicos, sociais,
culturais e econômicos, bem como recursos públicos disponíveis em todos os
níveis.
2- O que é
uma comunidade? Éum grupo de pessoas ou famílias unidas por laços ou interesses
de diversos tipos em comum, tais como idioma, costumes, local de moradia,
trabalho, etc. É um grupo que possui uma identidade em comum, regido por
códigos, valores e condutas, rígidas ou não; pode ser um grupo aberto ou
fechado culturalmente.
3- Definição
de desastre: é qualquer evento causado pela natureza ou causado pelo homem que
sobrepassa a capacidade de enfrentamento da comunidade, levando a perdas
humanas e materiais. Exemplo: com a intensificação do fenômeno pluvial em áreas urbanas
aumentaram os episódios de inundações que tendem a atingir grande parte da
população, mas de forma mais grave a de baixa renda, moradores de áreas vulneráveis,
geralmente em margens de córregos e em morros.
4- Resiliência
comunitária: diz da capacidade que a comunidade apresenta para enfrentar e se
recuperar de forma efetiva dos desastres e catástrofes que ocorrem em seu
interior ou em seu entorno. A resiliência pode ser construída na própria
comunidade, por seus moradores organizados. O objetivo é que a comunidade
resiliente seja autosuficiente para reconhecer os riscos em seu meio ambiente e
possa estabelecer processos de mitigação desses riscos. Comunidades resilientes
costumam experienciar menos danos e tendem a absorvê-los se recuperar deles com
estratégias eficientes e de forma mais rápida.
O que a
comunidade deve saber para o enfrentamento dos desastres e se tornar mais
resiliente
1-Reconhecer seus problemas e
suas fortalezas: os componentes da comunidade devem reconhecer suas fraquezas e
fortalezas, a fim de utilizar essas últimas como ferramentas para mitigar os
primeiros. Exemplos de problemas: morar em encosta, com riscos de deslizamento
de terra; morar próximo a córregos, com risco de transbordamento e enchentes;
morar próximo a represas de água, com risco de rompimento das barreiras.
Exemplos de fortalezas: contar com uma política pública séria de prevenção de
desastres; contar com sistema de alerta eficiente de ocorrência de desastres;
contar com uma equipe local preparada para uma resposta rápida e eficiente caso
o desastre ocorra, etc.
2- Ter listado todos os recuros
humanos, físicos e sociais da comunidade: a comunidade precisa saber com quem
contar para realizar a prevenção, o enfrentamento e a recuperação caso ocorra
um desastre. Por exemplo, para a prevenção é preciso conhecer as políticas
públicas (defesa civil, saúde, educação, assistência social, habitação), a quem
pode recorrer para realizar avaliação de risco e resolver os problemas que o
causam (canalizar o córrego, reforçar uma encosta, localizar área mais segura
para morar, entre outras ações). Para se preparar para a ocorrência do desastre
pode-se contar com simulações realizadas por órgãos públicos, com a criação de
um sistema de alerta efetivo e uma rota de fuga adequada. É interessante também
listar locais que possam servir como abrigo para aqueles que perderam suas casas,
tais como igrejas, templos, escolas, associações comunitárias, etc.
3- Cobrar os recursos
governamentais: a comunidade precisa estar ciente dos recursos governamentais
(nos três níveis de governo: municipal, estadual e federal) para prevenção, enfrentamento
e recuperação dos desastres, como ter acesso a esses recursos e cobrar das
autoridades a sua utilização adequada. Por exemplo: recursos para instalação de
hidrômetros, para construção de encostas, bolsa aluguel, etc. Muitas vezes
não é possível diminuir os riscos do local e é preciso considerar a remoção da
população para outra área mais segura, pois essa ação pode ser até mais barata que
o custo das obras de engenharia para manter as pessoas em suas moradias (isso
pode ser feito com um planejamento sustentável, de acordo com o meio ambiente e
a participação da comunidade).
Como a comunidade
pode se organizar para se tornar mais resiliente contra desastres
O conceito de Redução de Risco na Comunidade está se provando
ser inestimável em resposta a emergências e desastres. Para uma comunidade se
tornar resiliente e conseguir dar conta dos seus riscos é necessário um
trabalho integrado envolvendo decisões políticas, gerenciamento de projetos, de
profissionais e de comunidades vulneráveis. Algumas premissas para a redução de
riscos de desastres são: avaliação séria dos riscos na comunidade para a
ocorrrência de desastres, um sistema de comunicação eficiente e o envolvimento
da comunidade na prevenção, preparação, enfrentamento e recuperação.
1-
A comunidade pode se organizar, buscando
conhecer os riscos que existem onde está localizada e promovendo soluções para
os problemas, com participação ativa de seus membros. Oficializar uma
associação de moradores é um passo interessante para uma maior proximidade com
todos os moradores e com os órgãos governamentais e as políticas públicas. Exemplo:
organizar-se como NUDEC.
2-
Realizar avaliações de risco
sistemáticas e com ferramentas adequadas é uma forma de manter a comunidadem
alerta e promover atividades de prevenção e de preparação para a possibilidade
de ocorrência de desastres. Essas avaliações podem ser realizadas por órgãos
públicos ou por empresas privadas, contratadas pelos moradores. É preciso
que se elabore uma carta de riscos, traçada pelos órgãos competentes, e manter
intensa fiscalização sobre regiões vulneráveis. A Lei 12.608, criada em abril
de 2012, que torna obrigatória a cartografia geotécnica no plano diretor e nos
novos parcelamentos de terrenos nas cidades é um importante avanço para a
prevenção de desastres naturais no Brasil, mas precisa ser efetivamente usada.
3-
A comunidade precisa listar os locais de
moradia de populações mais vulneráveis, como idosos, pessoas com deficiência
física ou mental e elaborar um plano mais refinado de prevenção ou
enfrentamento de desastres para essas populações.
4-
A comunidade pode propor simulações para
seus moradores, coordenadas pela Defesa Civil ou pelo Corpo de Bombeiros.
Quando a comunidade conhece seus riscos, a forma como o desastre pode ocorrer e
como ela pode realizar seu enfrentamento, ela se torna mais resiliente.
5-
A comunidade pode propor que o tema
sobre desastres seja tratado na escola, em aulas como ciências, português,
matemática, etc, proporcionando que os alunos conheçam o tema sob diversos
aspectos e leve essas informações para seus familiares e para a comunidade. A
elas também podem ser fornecidas informações sobre como reagir na hora do
desastre e realizar o enfrentamento de seu impacto. A iniciativa na escola pode servir
como um estímulo para que toda a comunidade seja envolvida na ação.
Como realizar o
enfrentamento e a recuperação frente ao desastre
1-
Sistema de alerta: qual é o sistema de
alerta com o qual a comunidade conta? Qual a forma de comunicação mais eficaz? É
preciso haver pelo menos um sistema de alerta eficaz caso a possibilidade de
desastre exista. Pode ser um hidrômetro, uma sirene. Os moradores (ou um grupo
representante) podem também ter o recurso de receber um SMS no seu celular
avisando do risco iminente.
2-
Primeiro socorro: quem realmente realiza
o primeiro socorro na comunidade são os próprios moradores, nos primeiros
minutos antes dos bombeiros e defesa civil chegarem (se estiverem organizados
em um NUDEC, terão maior capacidade de ajuda). Para isso, seria interessante
que já houvesse uma equipe local treinada para ajudar as pessoas que estão em
condições de se locomover, mostrando a elas uma rota de fuga e onde podem se
abrigar. Essa equipe pode também indicar aos serviços de resgate onde se
encontram as pessoas mais vulneráveis, onde podem ter pessoas soterradas, e
outras informações úteis.
3- Abrigos:
os abrigos escolhidos para comportar as pessoas que perderam suas casas devem
ter a possilidade de colocar famílias juntas (com as coisas materiais que
conseguiram salvar), respeitando as questões de gênero, de orientação sexual,
entre outras. É preciso lembrar que o local que servirá como abrigo pode ter
que voltar com seu funcionamento normal (escolas, igrejas) mesmo com os
moradores ocupando seu espaço.
4-
Outro
tipo de ajuda: a comunidade afetada pelo desastre necessita também de ajuda
psicossocial, por isso é importante que as políticas públicas possam
disponibilizar assistentes sociais, psicólogos, educadores, e outros, para
auxiliar com questões como reconhecimentos de cadáveres, realizar velório e
sepultamente, trabalhar com crises de ansiedade e depressão, organizar as
pessoas nos abrigos, etc. Por exemplo, o psicólogo pode ajudar os afetados pelo desastre por
meio da escuta atenta, com entrevistas de apoio, fornecendo informações básicas
e precisas que possam ajudar as pessoas no meio da situação estressante; pode
também colaborar na gestão dos abrigos, reconhecendo as dificuldades e propondo
soluções junto com as pessoas que estão abrigadas. Por fim, é preciso
ainda organizar os voluntários de diversas áreas de fora da comunidade que se
prontificam a ajudar no enfrentamento e na recuperação da comunidade.
O que são os NUPDEC
Os NUPDEC
(Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil) são formados na comunidade, reunidos em
um grupo de moradores, em uma igreja, em uma escola, associação comunitária, etc,
com a finalidade de desenvolver um processo de orientação permanente junto à
população, objetivando a prevenção e minimização dos riscos e desastres nas
áreas de maior vulnerabilidade. Ele pode promover a interação entre a Defesa
Civil e a comunidade, possibilitando um planejamento participativo, estimulando
a participação da população na construção de uma cultura voltada à prevenção de
riscos e permitindo a socialização de experiências desenvolvidas pela Defesa
Civil.
A forma como
a comunidade pode se constituir em NUPDEC é através dos COMPDEC, que são
responsáveis pelas ações de Defesa Civil nos municípios. Nesse sentido, é
preciso procurar a Defesa Civil da cidade onde o NUPDEC será formado para se
obter informações sobre funcionamento e aspectos burocráticos de sua formação.
Vale lembrar que o trabalho nos NUPDEC é voluntário e o núcleo não recebe
qualquer espécie de investimento em dinheiro.