Definition of resilience

"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

País é 58º no ranking de resiliência a mudanças globais

Bruno Deiro | Agência Estado

Um ranking elaborado pelo Instituto de Adaptação Global (Gain, na sigla em inglês) com 176 países coloca o Brasil na 58.ª posição em termos de resiliência, ou capacidade de reação, às mudanças climáticas e globais projetadas para os próximos anos. A falta de infraestrutura está entre os principais desafios para deixar o País menos vulnerável.
À frente dos chamados Brics (bloco de emergentes que tem ainda Rússia, África do Sul, Índia e China), o País ficou atrás de Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai na América do Sul. "O Brasil está indo melhor do que a maioria de seus vizinhos. Mas muitas pessoas ainda carecem de mais educação básica e assim seguem mal preparadas para enfrentar as mudanças climáticas", diz Ian Noble, que coordenou o estudo.
Dinamarca e Suíça lideram o ranking geral, que desde 1995 analisa duas questões separadamente: a vulnerabilidade e a prontidão das nações. Nessas listas, o Brasil ficou na 47.ª e na 71.ª posições, respectivamente.

Em termos de vulnerabilidade, segundo o instituto, o Brasil é beneficiado pela abundância de recursos naturais e a estabilidade política nas últimas décadas, mas terá de lidar melhor com o crescimento econômico. "Agora o desafio é para aqueles responsáveis por guiar o Brasil e gerenciar seus recursos para observar de maneira mais aprofundada os detalhes para descobrir por que e onde eles devem se concentrar", afirma Noble. "É preciso direcionar para problemas urbanos e de alimentação, dois indicadores que mostram flutuação na lista da Gain e são provavelmente as questões com as quais os brasileiros se deparam diariamente."
No item prontidão, o governo brasileiro é criticado pela falta de políticas claras frente à possibilidade de alterações climáticas nos próximos anos. A avaliação final da pesquisa, porém, é de que o País tem boas condições de se adaptar rapidamente. "O Brasil tem tido crescimento em quase todos os indicadores, com melhora constante nos últimos anos e provável aumento nos próximos rankings", diz Noble. "Mas essa lista não permite que nenhum país relaxe em seus méritos: todos devem manter seus esforços e adotar cada vez mais as melhores práticas."
Riqueza
Nos 18 anos em que o ranking é divulgado, o Brasil nunca passou da 57.ª colocação e teve sua pior performance em 2007, quando foi listado em 70.º lugar. Em todos os rankings, os países africanos e a Coreia do Norte ocupam as últimas posições. "A lista evita medições de riqueza como o PIB per capita, pois incluí-los seria uma dupla ‘punição’ aos países pobres - uma por não terem dinheiro e outra pela dificuldade que a falta de recursos traz para gerenciar sua vulnerabilidade e prontidão. Mas, mesmo assim, o ranking é fortemente ligado à riqueza dos países", admite Noble.

O estudo lembra, no entanto, que todos os países já começam a ser afetados pelas mudanças climáticas, cujos indícios estariam cada vez mais evidentes - um exemplo seriam os longos períodos de seca na Austrália e nos Estados Unidos, que causaram um aumento nos preços de alimentos por todo o planeta. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

13 de outubro: Dia Mundial de Redução de Desastres

Dia Internacional para a Redução de Desastres

  Estabelecendo alianças com os jovens para a redução de riscos em desastres
 
O dia 13 de outubro celebrou o Dia Internacional para a Redução de Desastres. Para este ano, a ONU selecionou  o tema: Estabelecendo alianças com os jovens para a redução de riscos em  desastres, com o  lema "Um passo à frente para a redução de riscos em desastres ". Trata-se de um alerta para que crianças e adolescentes possam conhecer melhor as ações que envolvam a prevenção e redução dos riscos e efeitos relacionados aos  desastres.
 
Esta celebração faz parte de uma estratégia de comunicação mais ampla que permite envolver um grande número  de pessoas em iniciativas que promovam a discussão sobre a preparação para as respostas em situações de desastres. A proposta é que a cada ano esta iniciativa envolva um grupo diferente de pessoas. Para 2012 a iniciativa propõe trabalhar com as mulheres e em 2013 com os idosos.

O objetivo do Dia Internacional para a Redução de Desastres é aumentar o grau de conscientização das pessoas sobre a importância de redução do risco de desastres. 
 
Para mais informações acesse o site: http://www.eird.org

domingo, 16 de setembro de 2012





DUAS FRASES IMPORTANTES QUE LI DO STEFAN VANISTENDAEL E QUE CONSIDERO IMPORTANTES PARA SITUAR A RESILIÊNCIA EM CONTEXTOS COMO O BRASILEIRO:

 1- RESILIÊNCIA NÃO É UM SUBSTITUTO PARA POLÍTICAS SOCIAIS E ECONÔMICAS FRACAS;
 2- A RESILIÊNCIA NÃO É UMA JUSTIFICATIVA PARA O SOFRIMENTO.

 PENSO QUE ESSAS ASSERTIVAS APONTAM PARA A NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS SÉRIAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS DIFICULDADES SOCIAIS E ECONÔMICAS QUE NOSSA SOCIEDADE APRESENTA E PARA O DESMASCARAMENTO DO IDEOLOGISMO PRESENTE NA IDEIA DA SUPERAÇÃO E DA ADAPTAÇÃO FRENTE A SITUAÇÕES AMEAÇADORAS MESMO POR PESSOAS EM ESTADO EXTREMO DE POBREZA. 


quarta-feira, 4 de julho de 2012

 Love's Resilience 

Música: Miguel Fernandes / letra: João Moita 

 

 The Daughters of Lot

 

Like we would care to beseech you
Like we would try to amuse you
Like we would mention we swallowed
Sorry
We didn’t mean it
We’re shaking
Fearing your renovation
Now it’s time of the getting closer
Closer
In a while you’ll make us smile
And ask for you not to tear the rope
Cause that’s how we broke free from hell
And loved you more much more than you could
Love with your resilience
Cause love ain’t partaking
Except for the making
Of the delusion, the fear and confusion
Of pain
Fearing for ourselves
Admitting that the thrill
Is what would get us apart from you
We’re just hanging in position
We are quitting love’s resilience
It hurts us so
That you would let us know
That we cannot be alone
Only if we could
Oh we know that we would
Alone
So close
To the meaning of the loneliness
We are meant to share


domingo, 3 de junho de 2012

Vídeo Martin Seligman

Seligman fala um pouco sobre o desenvolvimento da psicologia (pareado com o da psiquiatria), pontos positivos e pontos negativos. Interessante que em relação aos pontos negativos ele coloca três consequências do modelo de doença dentro do qual nós costumamos classificar as pessoas: 1- Nos tornamos vitimizistas e patologizadores; 2- Nos esquecemos de incentivar que as pessoas levem suas vidas normais e usem seus talentos nisso; 3- Nossa única preocupação é tratar imediatamente a doença, sem olhar para a pessoa como um todo e cuidar de todas as suas facetas. Ele identifica a Psicologia Positiva como pensando diferente desse posicionamento generalizado, desfocando da doença e focando nas fortalezas das pessoas. Completa que a função do psicólogo, além de tratar a doença mental, seria a de tornar a vida das pessoas miseráveis menos miserável. Papel social do psicólogo? Eudaimônia!!!

domingo, 20 de maio de 2012

Resiliência na Adolescência


O conceito de adolescência é bastante recente na história da humanidade, tendo obtido seu real valor no século 19. A partir desse século a criança começa a ser identificada como pessoa e a receber mais investimento da família, sendo reconhecida como herdeira do amor e do dinheiro familiar.

Antes do século 18/19 não existia a consciência da particularidade infantil e a criança tinha um ingresso direto na sociedade dos adultos  assim que ela superava a fase de alto risco de mortalidade (conforme Ariès, 1981, apesar das críticas que as análises desse historiador vem sofrendo nos últimos anos: Flandrin, 1988).  Isso se refletia nos hábitos das crianças, como nas vestimentas, por exemplo, conforme vemos no texto e na figura abaixo.

“Finalmente há o menino (10 anos), vestido como os homens adultos, com calções, camisa de linho e jaqueta, e usando também um chapéu sobre os longos cabelos lisos” (Kunze, 1989). 

No século 19 a adolescência começa a ter períodos mais ou menos definidos: no menino, entre a primeira comunhão e o bacharelado; na menina, da primeira comunhão ao casamento (Grossman, 1998).

O conceito de adolescência e o reconhecimento desse período específico na vida humana pode ter surgido relacionado a fatores como aumento do tempo de vida, expansão do período escolar, cultura individualista e nova categoria de consumo do capitalismo

Para um grande número de culturas a adolescência é situada como um ritual de passagem da infância para a fase adulta, do mundo lúdico para o mundo das responsabilidades. A cultura ocidental, de modo geral, não apresenta um marco definido para o início (puberdade?) ou fim (independência financeira?) da adolescência. No caso do Brasil esse período geralmente é situado dos 12 aos 18 anos por um marco legal que é o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente. No geral, parece haver concordância em a adolescência ser uma fase com muitas transformações físicas e psicossociais, marcando de forma característica essa fase da vida.
Esse momento de transição marcado pela adolescência difere de um grupo de eventos, pois a transição requer reorganização funcional (dinâmica) e estrutural. Esse período tem o potencial de alterar o comportamento, o afeto, o cognitivo ou o contexto social, causando mudanças que podem ter efeito durante a vida toda (ex.: mudança corporal, divórcio dos pais, morte de pessoas queridas, etc)

 Na análise dessa transição é preciso avaliar o desenvolvimento anterior (infância), timing individual, como o adolescente entende essa transição e o contexto onde ela ocorre (Stuart & Allen, s/d, p. 573).
O objetivo final dessa transição é a construção da identidade do adolescente, ou seja, fortalecer e aplicar a autonomia, garantindo a ele a capacidade de gerenciar seus próprios projetos de vida de modo responsável e diligente.

Nessa transição, muitos adolescentes enfrentam dificuldades que desafiam sua habilidade para crescer e se desenvolver de uma maneira que promova bem-estar emocional e cognitivo, sendo sobrecarregados na sua capacidade de lidar com a situação, por mais que tenham apoio em casa ou na escola. Essas condições indicam situações de risco (elas podem afetar o adolescente de forma irreversível) e resiliência (quando ele consegue lidar bem com a adversidade e sair dela sem marcas permanentes). Baixa autoestima, isolamento social, ideação suicida, transtornos alimentares, bullying podem ser algumas dessas situações de grande peso na vivência do adolescente.
 Para o adolescente poder adquirir resiliência a partir da situação ele precisa ter acesso a pessoas de sua confiança e criar laços afetivos com alguns adultos (os jovens mais resilientes sentem tranqüilidade e sentimento de alívio com o apoio recebido dessas pessoas).

O primeiro laço é com pessoas de sua família (seja a nuclear e/ou a estendida). A família na infância é promotora de leis e normas que dão segurança e proteção à criança (obs: é preciso pensar em como as famílias vão mudando sua constituição com o passar do tempo...); na adolescência ela reforça essas regras e limites, ao mesmo tempo em que é contraponto para o adolescente se situar com relação aos novos laços que vai criando, principalmente com os laços grupais.

O que é resiliência? Uma de muitas definições:
"A capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade" (Grotberg, 2005, p. 15).

  A resiliência tenta entender como crianças, adolescentes e adultos são capazes de superar adversidades e se sair bem, apesar de viverem em condições de pobreza, falta de recursos sociais, violência intrafamiliar e na comunidade, doença mental dos pais, etc. (Infante, 2005). No entanto, desenvolver resiliência não é evitar a adversidade, mas lidar com suas consequências negativas de uma forma saudável. A resiliência não é um atributo pessoal, mas um processo dinâmico entre múltiplos fatores de risco e fatores de proteção, sendo uma tarefa não somente da criança, mas também da família, da comunidade e das políticas públicas.
A novidade da resiliência é o abandono de um modelo de risco, baseado nas necessidades e na doença, focando-se em um modelo de prevenção e promoção, baseado nas potencialidades e nos recursos que o ser humano tem em si mesmo e ao seu redor. Ela questiona as formas em que os problemas e a população são pensados pelas instituições, geralmente enfatizando as carências e não as potencialidades, e considera o sujeito como agente de sua própria ecologia e adaptação - não um sujeito que apenas "carece" e "adoece" (Lindström, s/d). 
Edith Grotberg " (Grotberg, 2005, p. 17) aponta em seu trabalho algumas perguntas que se pode fazer ao sujeito (criança, adolescente) para avaliar como ela entende seu risco e percebe os fatores de proteção ao seu redor, levando em conta que a forma como o adolescente será atingido pelas variáveis externas depende de suas características internas (elaboração e percepção de risco):
  EU TENHO
- Pessoas ao meu lado em quem eu confio e que me amam, não importa o que aconteça;
- Pessoas que me colocam limites, assim eu sei quando parar antes do perigo ou do problema;
- Pessoas que me mostram como fazer as coisas direito pela maneira como elas fazem as coisas;
- Pessoas que me auxiliam quando estou doente ou em perigo;
- Pessoas que querem me ensinar como fazer as coisas do meu jeito.

  EU SOU / EU ESTOU
- Uma pessoa querida e amada pelos outros;
- Satisfeito por fazer coisas boas para os outros e mostrar minha preocupação;
- Respeitoso comigo mesmo e com os outros;
- Determinado por ser responsável por aquilo que faço;
- Tenho certeza de que as coisas vão dar certo.

  EU POSSO
- Conversar com as pessoas sobre coisas que me amedrontam e me incomodam;
- Encontrar formas de resolver os problemas que me aparecem;
- Controlar-me quando eu me sinto fazendo coisas que não acho certas ou considero perigosas;
- Reconhecer quando é uma boa hora para falar com alguém ou agir;
- Encontrar alguém que me auxilie quando eu preciso.

O foco nas fortalezas (nos recursos internos combinados com os externos para superar a adversidade) pode promover que o adolescente reconheça suas potencialidades e se torne cada vez mais consciente de suas habilidades e recursos para aumentar sua autoconfiança e autoestima. E se o ambiente, a família e a comunidade seguem apoiando o adolescente na superação da adversidade existe uma grande probabilidade de que ele continue se adaptando positivamente através do tempo (resiliência como uma capacidade estável durante a vida), na adolescência, adultícia e velhice (Infante, 2005).

É preciso encontrar nesses ambientes (família, escola, comunidade) tutores de resiliência disponíveis; tutores que tem a função e responsabilidade de dispor de fatores de proteção para os adolescentes enfrentarem as adversidades e saírem fortalecidos delas. Nas palavras de Boris Cyrulnik: “Nas teorias da resiliência, o sujeito está submetido à influência de uma constelação de determinantes entre os quais se debate e onde vai buscar intencionalmente os tutores ao lado dos quais poderá retomar o seu desenvolvimento” (Cyrulnik, 2006, p. 174). Esses mecanismos de proteção são compostos por recursos familiares e sociais disponíveis às crianças e aos adolescentes, bem como por suas próprias forças e características internas para lidar com a inevitável adversidade na vida.

Esses tutores podem dispor ao adolescente o estabelecimento de vínculos saudáveis para diminuir a repetição de comportamentos mortificantes; gerar possibilidades de empoderamento, cidadania e saúde; redução dos fatores de risco com promoção dos fatores de proteção; promoção de relações familiares não agressivas; desenvolvimento da sensibilidade para as necessidades da comunidade, dando a ele a oportunidade para o ativismo social (trabalhar pela mudança na sociedade como um todo através do envolvimento social e promoção de cidadania).
 
Os tutores tem ainda a responsabilidade política e social na construção do processo de resiliência na família e na comunidade e na criação de estratégias mais eficazes para a promoção de resiliência individual, familiar, comunitária, institucional e política. Lembrando que a comunidade que protege é aquela que dispõe fatores de proteção como inclusão econômica, social e cultural, valorização de atitudes e comportamentos não violentos e não discriminatórios, grupos e redes de supervisão para adolescentes e jovens e limitação e controle de acesso a drogas, álcool e armas de fogo. Isso favorece a prevenção, quando envolve todos os fatores sociais e ambientais que influenciam as escolhas que os jovens fazem.

O extraordinário poder social da ideia de resiliência não deriva apenas do seu potencial imaginado para mudar trajetórias de vida individuais, mas da possibilidade que ela tem de transformar o futuro das gerações subsequentes e das famílias e comunidades inteiras.
Por fim, é preciso fazer um alerta sobre os componentes ideológicos no estudo e na aplicaçao do conceito de resiliência. O primeiro alerta é que quando uma pessoa é chamada de resiliente, seja em uma conversa informal ou numa investigação sistemática, querendo ou não um diagnóstico é realizado, envolvendo critérios explícitos ou implícitos. Tecnicamente, chamar uma pessoa de resiliente é um tanto impróprio em uma terminologia diagnóstica porque a resiliência é uma descrição de um padrão geral, enquanto que o diagnóstico ocorre quando o indivíduo é comparado com o padrão. Talvez fosse mais apropriado dizer que "essa pessoa tem um padrão flexível "ou" essa pessoa mostra as características de resiliência (Masten, 2007, p. 4).
Segundo, é preciso pensar que quando dizemos que uma pessoa com características resilientes é aquela adaptada à sociedade, corremos risco de não enxergar resiliência em pessoas com padrões adaptativos diferenciados. Por exemplo, um adolescente visto como rebelde (não conformado aos padrões de determinado contexto) não teria sua resiliência reconhecida (a questão a ser feita seria: adolescente integrado para qual comunidade, em que tempo, em qual cultura, e qual área do desenvolvimento {cognitivo, emocional, social}?)
Terceiro. É preciso apontar que boa parte dos estudos sobre resiliência tendem a utilizar mais população branca, da maioria religiosa, escolarizada e com médio poder aquisitivo em suas coortes. Seriam necessários então estudos mais aprofundados com populações que não estão coladas ao padrão WASP (White, Anglo-Saxon and Protestant) e dentro do mainstream de determinada sociedade.

 Por fim, atentar à questão de que uma maior limitação da resiliência é que ela está ligada a julgamentos normativos relacionados a resultados particulares. Se esses resultados não são desejáveis em certo contexto, então a habilidade para alcançar resultados num contexto de supostos fatores de risco não seria considerada resiliência, pois os modelos de sucesso estabelecidos por um grupo podem não coincidir com o referencial de resiliência de outro. Diferenças culturais são muito relevantes quanto a essa questão.

BIBLIOGRAFIA
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Ed. LTC. Rio de Janeiro, 1981;
Cyrulnik, B. O murmúrio dos fantasmas. São Paulo: Martins Fontes, 2005;
FLANDRIN, J.-L. O sexo e o ocidente. Ed Brasiliense, SP, 1988;
GROSSMAN, E. Adolescência através dos tempos. Adolescencia Latinoamericana, 1414-7130/98/1-68-74;
GROTBERG, E. H. Novas Tendências em resiliência. In MELILLO, A., OJEDA, E., Resiliência, descobrindo as próprias fortalezas, Artmed, Porto Alegre, 2005;
HAUSER, S.,  ALLEN, J. Overcoming Adversity in Adolescence: narratives of resilience. Disponível em http://assets.cambridge.org/97805218/07012/sample/9780521807012ws.pdf e acessado em 15 de maio de 2012;
INFANTE, F. A resiliência como processo: uma revisão da literatura recente. In MELILLO, A., OJEDA, E., Resiliência, descobrindo as próprias fortalezas, Artmed, Porto Alegre, 2005;
KUNZE, M. A Caminho da Fogueira. Editora Campus, 1989;
LINDSTRÖM, M. O significado de resiliência. Adolescencia Latinoamericana, 1414-7130/2-133-137;
MASTEN, A, POWELL, J. A resilience framework for research, policy and practice. In LUTHAR, S (Ed). Resilience and vulnerability – adaptation in the context of childhood adversities, Cambridge University Press, NY, 2007.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

sábado, 21 de abril de 2012

PSICOLOGIA POSITIVA E RESILIÊNCIA

O propósito da psicologia positiva é ampliar o olhar da ciência psicológica para mais além do sofrimento humano e da busca por sua diminuição ou cessamento. Sua intenção é abordar o experienciar humano a partir de uma perspectiva integradora sob a qual o sujeito é concebido e se concebe como um agente ativo na construção de sua própria realidade. Para isso, procura realizar estudos científicos das experiências positivas (individuais ou coletivas) e sua relação com as questões de saúde.

A psicologia positiva aponta para o afastamento de um ponto de vista reducionista de algumas áreas da psicologia que apostam no ceticismo diante de expressões de saúde de indivíduos, grupos ou comunidades de que eram esperadas que estivessem doentes em meio a uma série de adversidades e turbulências. E aponta ainda para necessidade de se olhar para esses aspectos positivos e de se realizar pesquisas sobre aspectos como esperança, criatividade, coragem, sabedoria, espiritualidade e felicidade, que acabam moldando e sendo consequência de uma visão otimista do mundo.

A psicologia positiva tem a intenção de contribuir para o desenvolvimento e o bem-estar das pessoas, grupos e instituições, apontando meios para o fortalecimento de competências, apesar de reconhecer as deficiências do sujeito em alguns de seus embates. Para ela, as expressões de emoções positivas são duradouras e promovem recursos pessoais que geram saúde e bem-estar. 

O que são pessoas otimistas? São pessoas que esperam que coisas boas aconteçam a elas (em oposição a pessimistas, que esperam que coisas ruins aconteçam). Os otimistas são vistos como tendo expectativas diferentes em relação aos problemas e acreditam que as adversidades podem ser enfrentadas com o pé na realidade e sem perder a esperança e o humor. Essa capacidade de se manter com expectativas positivas sobre o futuro é vista como uma força que influencia o comportamento e as estratégias de enfrentamento em momentos de desafios. Os otimistas tendem a experimentar menos desconforto do que aqueles de natureza pessimista e mantêm um nível saudável de bem-estar psicológico. No entanto, o otimismo pode não ser a estratégia adaptativa mais interesssante em situações particulares de estresse extremo.

Tendo em vista que o constructo de resiliência toma dimensões a partir de processos que explicam a superação de adversidades, poder-se-ia sugerir que esse conceito busca tratar de fenômenos indicativos de padrões de vida saudável. Assim, o olhar da resiliência compartilha da psicologia positiva em alguns aspectos, principalmente quando tenta intervir sobre as fortalezas dos sujeitos e não estudar somente suas deficiências. Reconhece-se, ainda, que sujeitos considerados resilientes não cultivam emoções positivas apenas para eles mesmos, mas eliciam essas emoções em outras pessoas. Sendo assim, com certeza os estudos e as aplicações do conceito de resiliência devem caminhar juntos às pesquisas e aplicações da psicologia positiva.

Site indicado: http://www.psicologiapositiva.com.br/

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O texto abaixo é uma tradução minha de um capítulo do livro Risk and Protective Factors in the Development of Psychopathology, edited by Jon Rolf, Ann S. Masten, Dante Cicchetti, Keith H. Nuechterlein and Sheldon Weintraub, Cambridge University Press, NY, 1990

 
Competência sob estresse: fatores de risco e de proteção
Ann S. Masten, Patricia Morison, David Pellegrini e Auk Tellegen


A psicopatologia do desenvolvimento está finalmente ganhando reconhecimento como uma perspectiva interdisciplinar viável, provendo um impulso para estudos sustentados sobre fatores de risco e fatores de proteção na infância (Cicchetti, 1984; Masten & Braswell, no prelo; Sroufe and Rutter, 1984). Esse campo levou mais de uma década para se recuperar com Norman Garmezy e uns poucos psicopatologistas pioneiros que reconheceram a necessidade de uma perspectiva desenvolvimentista e da significação teórica e clínica ao se estudar adaptação em crianças vulneráveis à psicopatologia (Garmezy, 1970, 1973, 1974a,b).

Por mais de duas décadas na Universidade de Minnesota, Garmezy tem traduzido seu interesse em respostas positivas para condições de alto risco dentro de um programa de pesquisa que tem compreendido uma variedade de estudos sob a rubrica de “Projeto Competência”. Esses estudos de adaptação tem focado em amostras normativas, assim como em amostras de alto risco, incluindo crianças em risco por má adaptação por causa de fatores como doença mental de um dos pais, deficiência física (Raison, 1982; Silverstein, 1982) e defeitos congênitos potencialmente fatais. Comum a todos esses diversos estudos tem sido o foco na competência, corrigindo negações tradicionais de psicopatologistas quanto à adaptação bem sucedida sob condições adversas (Garmezy, 1981; Garmezy & Devine, 1984; Garmezy & Tellegen, 1984).

Os estudos com crianças do Projeto Competência foram uma consequência natural dos estudos anteriores de Garmezy sobre adultos esquizofrênicos, que o levaram ao interesse por competência antes do adoecimento (Garmezy & Rodnick, 1959) e então ao estudo da adaptação em crianças em risco para esquizofrenia (Garmezy, 1970, 1971). Garmezy participou de um consórcio de pesquisadores sobre risco que empreenderam a primeira geração de estudos sobre alto risco para psicopatologia, seguindo o exemplo anterior de Fish, Mednick e Schulsinger ao estudar descendentes de pais esquizofrênicos (Garmezy, 1974c,d).

Os objetivos, metodologias, sucessos e até mesmo as falhas previsíveis dos estudos de alto-risco (Watt, Anthony, Wynne, & Rolf, 1984) geraram frutos inesperados para a psicopatologia do desenvolvimento em sua infância e para estudos sistemáticos de resistência ao estresse em crianças. Esses estudos de alto-risco inevitavelmente levam a desenhos longitudinais e a uma preocupação com mudanças desenvolvimentais na adaptação. Procurando por sinais anteriores de psicopatologia, muitos desses investigadores encontraram uma vasta gama de diferenças individuais na adaptação (embora não necessariamente relacionadas ao risco para esquizofrenia), que tinham muito a ver com variações no status socioeconômico, condições adversas de criação, estabilidade familiar, complicações no nascimento, inteligência e assim por diante. Da mesma forma, estudos de crianças com complicações perinatais e estudos de precursores de delinquência apontaram para a importância de fatores de risco e fatores de proteção semelhantes (Garmezy, 1984; Masten & Garmezy, 1985).

Durante a última década, o Programa do Projeto Competência de Garmezy se voltou para estudos de amostras de comunidades normativas, adicionados a estudos de população de risco específico. O propósito desses estudos normativos era explorar a aparente habilidade de algumas crianças para se adaptar muito bem a despeito de eventos de vida fortemente desvantajosos. Gradualmente esses estudos foram focando fatores de risco e fatores de proteção para competência na meia infância a adolescência, colocando questões como as seguintes:
- Quais são as características de competência nas crianças, principalmente aquelas que foram expostas a      circunstâncias de vida estressantes?
- Quais são os potenciais fatores de risco e fatores de proteção que aumentam ou reduzem os efeitos negativos da exposição ao estresse?
- Quais são os preditores em longo prazo de adaptação na adolescência a partir da meia infância?
- Quais são as implicações para a intervenção?

Esses estudos começaram por definir adaptação sob adversidade (“resistência ao estresse”) como a manifestação de competência em crianças apesar da exposição a circunstância estressantes em suas vidas. Consequentemente, dois construtos tinham que ser operacionalizados: exposição ao estresse e competência. Quando os estudos-piloto e os planejamentos desses estudos começaram no final dos anos 70, não tinha havido até então nenhum estudo sistemático predizendo competência na infância, e estudos de estresse em crianças eram também poucos e desconectados entre si. Devido à pobreza de estudos empíricos, atenção especial foi dirigida para a medida dos dois constructos. Em muitos casos, medidas tinham que ser desenvolvidas ou revisadas para o estudo em mãos, e então testadas para confiabilidade, estabilidade e validade.

O desenho de estudos de coortes comunitárias são descritas em mais detalhes em outro lugar (Garmezy, Masten, & Tellegen, 1984; Garmezy & Tellegen, 1984; Masten et al., 1988). Os participantes foram recrutados em duas escolas elementares em uma comunidade urbana em Mineápolis. Suas estruturas socioeconômicas variavam, mas eram predominantemente famílias de classe baixa e média. Vinte e oito por cento das crianças da amostra final representavam minorias étnicas e 45% eram de famílias não separadas.
Uma visão geral dos procedimentos é fornecida na tabela 11.1.
 

Tabela 11.1. Projeto Competência – coorte comunitária: visão geral dos procedimentos
 Ano 1
Fatos de vida colhidos via correio: Life Events Questionnaire
Avaliação da competência da criança na escola:
Avaliações de professores: Devereux Elementary School Behavior Rating Scale
Avaliações de colegas: Revised Class Play (Masten, Morison, & Pellegrini, 1985)
Sucesso escolar: informações colhidas na escola
Entrevistas com os pais iniciadas: três sessões de 2 horas (Linder, 1985)
            I-Estrutura familiar, história, atividades, relacionamentos
            II-Comportamento da criança, atividades, relacionamentos
            III-Eventos de vida contextualizados
            Questionário de Desenvolvimento (Developmental Questionnaire)
            Home Rating Scales por entrevistadores
            Family Rating Scales por entrevistadores

Ano 2
Fatos de vida estressante reavaliados
Competência da criança na escola reavaliada:
            Informações colhidas de professores, colegas e dados da escola
            Peabody Individual Achievement Test (PIAT) (Dunn & Markwardt, 1970)
Atributos da criança medidos:
            Habilidade intelectual
            Cognição social (Pellegrini, 1985)
            Humor (Masten, 1986)
            Pensamento divergente (Masten, 1982)
            Reflexão-impulsividade (Ferrarese, 1981)
Entrevistas com a criança: duas sessões de 1 hora (Finkelman, 1983; Morison, 1987)
            Temas: escola, atividades, amigos, família, aspirações, planos, autoconceito, eventos de vida

Estudo de seguimento (7-8 anos depois)
Em andamento: adaptação na adolescência tardia


O estudo foi iniciado com o envio de um questionário a todos os pais de alunos da terceira à sexta série em duas escolas (N=610). O Life Events Questionnaire (LEQ) era baseado na revisão de Coddington’s (1972a,b) do método de Holmes e Rahe (1967) e fornecia uma contagem rápida e relativamente objetiva de eventos recentes de vida. Uma pontuação de eventos negativos de vida foi compilada por uma simples contagem de 30 dos 50 eventos que estão no LEQ que foram negativos e com pouca probabilidade de ser o resultado do comportamento ou da competência da própria criança (exemplo, morte de um parente, um amigo que se mudou). Cinquenta e nove por cento dos pais devolveram o LEQ. Esses que responderam foram posteriormente convidados a participar em outras atividades de pesquisa.

Pais de 205 crianças que eventualmente participaram no conjunto completo de procedimentos foram entrevistados sobre sua família (história, relacionamentos, atividade, suporte social, etc), sobre o filho que participava da pesquisa (comportamento, atividades, relacionamentos, rseposta à disciplina, etc) e sobre seus eventos de vida. Essas entrevistas ocorreram através de três visitas domiciliares. A visita da última entrevista foi desenhada para fazer um inquérito detalhado sobre os eventos de vida dos últimos 2 anos, na tentativa de colocar esses eventos num contexto de significado mais individualizado (Linder, 1985).

Outra perspectiva da exposição ao estresse foi provida pelo entrevistador, que na conclusão das entrevistas domiciliares classificou a família num grupo de 30 itens de escalas desenhadas para cobrir impressões clínicas globais da família. Três dos itens do Family Rating Scales especificamente preocuparam a avaliação dos entrevistadores sobre o nível de exposição da família ao estresse.

A medida da competência, definida em termos do funcionamento efetivo em meios ambientes importantes, requereu uma perspectiva desenvolvimentista (Waters & Sroufe, 1983). Medidas tinham que ser selecionadas para avaliarem as qualidades do funcionamento apropriado ao nível de desenvolvimento da amostra, neste caso de crianças. Garmezy (1973), seguindo Whitehorn, descreveu essas tarefas como a habilidade para trabalhar bem, brincar bem e amar bem. Na meia infância essas tarefas incluem ajustamento escolar, aceitação pelos colegas e relacionamentos familiares positivos.

A medida de competência no contexto escolar foi enfatizada por causa da importância da escola na vida dessas crianças. Múltiplas perspectivas na competência escolar infantil foram obtidas, incluindo avaliações dos professores, dos colegas, notas escolares e atuação em testes padronizados de desempenho.
Um dos primeiros objetivos do projeto comunitário foi identificar a estrutura da competência. Competência foi suposta como sendo multidimensional e as diferentes dimensões eram esperadas que variassem de importância conforme as fontes de informação. Resultados de uma análise fatorial de avaliações escolares de competência indicaram que duas dimensões baseadas em avaliações de professores e colegas na escola foram particularmente salientes. Essas dimensões foram nomeadas Comprometido-Descomprometido (Engaged-Desengaged) e Inquieto na Sala de Aula (Classroom Disruptive) (Garmezy et al., 1984). A primeira dimensão reflete a qualidade do envolvimento com colegas e atividades na sala de aula, e a última a reputação entre os colegas e professores como inquieto, agressivo ou opositivo. A correlação entre esses dois componentes foi modesta (r = - .25 no Ano 1).

Desempenho acadêmico foi deliberadamente mantido como uma variável separada, representando um aspecto distinto da competência escolar, prontamente definida pela média de pontos e desempenho nos testes padronizados, que foram altamente correlacionados. Para o mesmo ano escolar, a média de pontos foi moderadamente relacionada à dimensão Comprometido (r= .56 no Ano 1) e modestamente relacionado a Inquieto (r= -.30).

Outras medidas, bem como informações obtidas das entrevistas, foram desenhadas para avaliar modificadores potenciais da relação da exposição ao estresse com competência; em outras palavras, para pesquisar fatores de risco e fatores de proteção. Esse incluíam atributos individuais como habilidade intelectual, cognição social e humor, bem como atributos ambientais como status socioeconômico (SES) e qualidades familiares.

Informações das entrevistas com as mães proveram duas perspectivas nas qualidades familiares. Uma consistia nas próprias respostas das mães às questões postas. Essas respostas foram codificadas e 28 pontuações combinadas foram formadas através de combinação racional e análise fatorial. Essas 28 combinações incluíam tópicos tais como o alcance do suporte social maternal, mobilidade familiar e proximidade mãe-filho. Duas combinações de segunda ordem também foram extraídas, combinando muitos itens dessas 28 combinações, que foram denominadas Estabilidade/Organização Familiar e Coesão Familiar. A primeira incluía itens concernentes com a mobilidade da família, mudanças no status do casal e número de empregos dos pais, assim como a adequação geral da casa, incluído sua aparência e manutenção. A última incluía itens como envolvimentos sociais da família, assim como qualidade do relacionamento mãe-filho, quantidade de contatos sociais com a família e com parentes e disciplina.

A segunda perspectiva nas qualidades familiares se baseava na entrevista feita com os próprios entrevistadores, que completavam um grupo de 30 escalas das Family Rating Scales na conclusão de suas três visitas domiciliares. Essas 30 escalas decorriam de 5 pontos globais de avaliação, muitos dos quais concernentes às qualidades familiares percebidas, tais como “consistência das regras familiares” e “qualidade da relação pais-filhos”, bem como estresse familiar (descrito anteriormente). Análise fatorial sugeriu que três dimensões foram medidas por esse instrumento (Masten et al., 1988). A dimensão mais evidente e o maior grupo de itens apareceram ao se medir competência maternal em relação à parentalidade e foi rotulada Qualidade Parental. Outras dimensões foram Sociabilidade Familiar e Estresse Familiar.

Correlações entre competência e exposição ao estresse

Os critérios de correlação de competência na escolar (Comprometido, Inquieto e desempenho) sugeriram que certas características individuais e familiares foram associadas com adaptação atual bem sucedida nessas crianças. Correlações selecionadas são apresentadas na tabela 11.2.

Tabela 11.2. Correlações entre competência escolar e eventos estressantes na vida
Dimensões da competência escolar
Atributo                     Comprometido     Inquieto     Pontuação média     Eventos de vida negativos
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Atributos individuais
    Sexo                                                       .22***            -.19**                    .04                                    -.01
    QI                                                           .36***           -.21**                     .55***                             -.17**
Dados demográficos
    SES                                                        .20**              -.17**                     .29***                            -.21**
    Salário                                                   .13*                -.17**                     .12**                               -.31***
   Educação da mãe                                 .08                  -.12*                        .23***                             -.05
   Tamanho da família                              .02                   .09                          -.08                                    .16**

   Família intacta                                      .05                   -.20**                     .04                                   -.29***
Qualidades familiares
  Parentalidade global
    Qualidade                                          .36***            -.25***                    .38***                          -.27***    
    Sociabilidade familiar                       .32***            -.05                          .16*                               -.02
   Estabilidade familiar/
      Organização                                    .16**               -.32***                   .22***                         -.42***
      Coesão familiar                               .25***            -.11                           .10                               -.16*
*p<.05; **p<.01; ***p<.001
Nota: dados do Ano 1; N=194-207
Escores combinados das Family Rating Scales completados pelos entrevistadores dos pais após três visitas domiciliares
Escores combinados baseados nas respostas pelos pais às questões das entrevistas

Crianças com envolvimento de alta qualidade no ambiente escolar, que eram comprometidas e empenhadas, geralmente tinham maiores recursos pessoais e ambientais, como uma maior habilidade intelectual, mais alto status socioeconômico (SES) e maiores qualidades familiares positivas. Como notado em outro lugar, crianças competentes apresentaram uma grande variedade de qualidades cognitivas, incluindo melhor consciência interpessoal e compreensão social, um maior estilo de reflexão cognitiva, maior pensamento contestador e maior habilidade para apreciar e gerar humor (Masten, 1986; Pellegrini, 1985; Pellegrine, Masten, Garmezy, & Ferrerese, 1987).

Diferenças de sexo na competência social apareceram nas avaliações dos professores. Esses professores de escola fundamental avaliaram as garotas como sendo mais positivamente comprometidas em atividades na sala de aula (mais cooperativas, atentas e confiantes), assim como menos inquietas (menos opositoras e agressivas). Análise de regressão em separado (Masten et al., 1988) sugeriu que a habilidade intelectual era um melhor preditor de comportamento inquieto para os garotos, enquanto que Qualidade Parental era um melhor preditor de inquietação para as garotas.

A variável Estabilidade/Organização Familiar era um preditor igualmente negativo de inquietação para garotos e garotas. Crianças com uma história de instabilidade no ambiente (exemplo, mudanças frequentes, mudanças no status marital dos pais) e recente desorganização em casa (exemplo, deszelo nas tarefas domésticas) foram mais prováveis de serem avaliadas como inquietas pelos professores e colegas de classe.
As correlações de eventos de vida recentes na tabela 11.2 sugerem que adversidade recente está associada com a história de eventos adversos ou desvantagens crônicas, como rupturas conjugais, mudanças de casa e pobreza. O número de eventos de vida reportados em um ano também estava correlacionado com o nível de eventos reportados no ano seguinte (r= .50).

Também está evidente na tabela 11.2 que crianças com maiores recursos tendiam a estar expostas a menos eventos de vida. Infelizmente, são as crianças com menores recursos as que apresentam maior probabilidade de serem desafiadas por eventos de vida adversos. No entanto, como notado alhures (Masten et al., 1988), exposição a eventos estressantes estava apenas modestamente associada com competência prejudicada. Uma associação modesta foi observada independente se o estresse estava ou não indexado por uma simples conta de eventos negativos de vida, por uma pontuação ponderada de eventos ou por julgamentos clínicos a partir dos entrevistadores, baseados em rica informação contextual. O esforço para relacionar exposição ao estresse com adaptação deve ir além de correlações simples.

Fatores de proteção: recursos testados pela adversidade

Implícito no conceito de fatores de proteção está a ideia de que a adaptação foi desafiada (Rutter, 1979). Os recursos descritos anteriormente como simples correlatos de competência podem ou não funcionar como fatores de proteção sob adversidade. Para testar especificamente a ideia de que essas características associadas com competência tem um papel “protetor”, nós examinamos se eles moderam ou não a relação da exposição ao estresse (eventos de vida recentes) com competência (Masten et al., 1988). Por exemplo, quatro dos recursos listados na tabela 11.2 foram empiricamente identificados através de análise de regressão como moderadores da exposição ao estresse: QI, SES e dois escores das Family Rating Scales (Qualidade Parental e Sociabilidade Familiar).

Um padrão consistente, porém complexo, emergiu na maneira como esses recursos operam, revelando a importância das diferenças individuais, bem como a importância da escolha dos critérios de competência. Por exemplo, quando o critério era Inquietação na Sala de Aula, QI e SES mostraram efeitos de proteção (moderador ou de interação) tanto para garotos quanto para garotas. Qualidades familiares, como Qualidade Parental e Sociabilidade Familiar, contudo, pareceram ser protetores com respeito a inquietação somente para garotas.

Quando o critério era a qualidade do comprometimento, esses recursos não pareceram ser protetores. Ao invés disso, crianças com tal qualidade pareceram ser um pouco mais vulneráveis a altos graus de exposição ao estresse. Crianças com essa qualidade que experimentaram altos níveis de exposição ao estresse mostram uma diminuição mais significante de competência na dimensão Comprometido do que as mesmas crianças com eventos de vida estressantes recentes.

O padrão geral dos achados pode ser ilustrado pela comparação da competência das crianças com muitos recursos e a competência das crianças com poucos recursos nos diferentes níveis de exposição ao estresse. As quatro variáveis previamente identificadas como moderadores foram vistas como recursos ou fatores de risco para competência e combinadas, pela soma de escores z, para formar um índice de risco versus recursos. Competência foi então plotada como uma função de eventos de vida para comparar os padrões de crianças com alto e baixo risco. Para o propósito de ilustração, grupos de alto e baixo risco foram definidos como o terço inferior e o terço superior dos escores na combinação dos quatro recursos (QI, SES, Qualidade Parental e Sociabilidade Familiar). Os resultados para garotos e garotas foram plotados separadamente e assim seus padrões podiam ser comparados. Dois níveis de exposição ao estresse foram plotados: baixo (0 a 2 eventos) e alto (4 ou mais eventos). Para cada nível de eventos de vida o nível médio real de competência (Comprometido, Inquieto e Média dos Pontos) foi plotado. Os resultados são apresentados na figura 11.1.


                           
EVENTOS DE VIDA ESTRESSANTES
Figura 11.1.  A relação entre o número de eventos de vida estressantes e competência é mostrada como uma função de risco. Garotos e garotas são mostrados separadamente. As quatro variáveis somadas dentro do índice risco versus recursos foram SES, QI, Qualidade Parental e Sociabilidade Familiar. Baixo risco foi definido como o terço superior da distribuição dos recursos combinados (isto é, possuindo muitas vantagens), com alto risco sendo o terço inferior.

Essas figuras sugerem que o status de risco definido nesse estudo estava altamente relacionado à competência escolar, particularmente para comprometimento positivo na sala de aula e desempenho acadêmico. Os dados sugerem que as relações dos eventos de vida com competência podem diferir não apenas como uma função de status de risco, mas também concordando com o critério de competência e o sexo da criança. Garotos de alto risco pareciam ser mais descomprometidos na escola que garotas de alto risco. Sob baixo estresse, crianças de alto risco de ambos os sexos eram relativamente mais descomprometidos, menos empenhados e mais inquietos que aqueles colegas de classe de baixo risco. 

Com exposição a alto risco, crianças de alto risco pareciam se tornar mais inquietos, embora o nível de seu comprometimento na escola não variasse muito com exposição ao estresse. Para crianças com baixo risco/com vantagem (low-risk/advantage), o comprometimento pareceu diminuir como uma função de exposição ao estresse, mas apenas garotos mostraram altos níveis de Inquietação no contexto de alta exposição ao estresse; as garotas mostraram baixos níveis de inquietação mesmo quando a exposição ao estresse foi alta. As notas escolares não variaram significantemente como uma função de eventos negativos da vida, embora eles pareçam ter sido uma tendência para o desempenho declinar um pouco em garotos com vantagens em altos níveis de estresse.

A abordagem de um único caso: aprendendo de exemplos e exceções

Esses potenciais padrões de adaptação, baseados em análises de tendências grupais, se distanciaram das crianças avaliadas individualmente. Embora seja crucial para o avanço de nossa ciência generalizar através de um caso único, estudos intensos de casos únicos podem enriquecer nossa compreensão dos resultados estatísticos e auxiliar em nossa busca por pistas sobre quais consequências podem ter sido “não previstas”. Exemplos e exceções de um único caso para prever padrões de dados podem ser ambos informativos. O “caso para o caso único” foi bem estabelecido por Garmezy (1982).

Portanto, nós tentamos identificar indivíduos na nossa amostra que exemplificariam os padrões de adaptação descritos anteriormente. O foco particular em identificar crianças com resistência ao estresse implica em dois critérios chave para a seleção de tais crianças: alta exposição ao estresse e alta competência. Assim, toda criança que tinha experienciado cinco ou mais eventos de vida e que estavam acima da média da amostra em pelo menos duas das três medidas de competência na escola foram selecionadas. Os fatores de risco para cada uma das 23 crianças foram então examinados para identificar aqueles com o maior risco e o menor risco. O caso de Sarah exemplifica bem a criança cujas muitas vantagens (isto é, status de baixo risco) podem tê-la protegido contra circunstâncias de vida muito estressantes, embora não lhe garantindo “invulnerabilidade”.

Quando sua família aderiu ao nosso estudo, Sarah estava na quarta série. Ela tinha uma irmã mais nova e vivia com seus pais biológicos. Naquele ano a mãe de Sarah, que estava grávida, foi hospitalizada com uma doença progressiva séria. Ela escolheu postergar o tratamento até ter o bebê nascer, embora isso a colocasse em grande risco. O bebê, que nasceu após um parto difícil, exigindo uma cesárea de emergência, tinha sérios problemas médicos que requereram muitas hospitalizações naquele ano.

O ano anterior também tinha sido bastante estressante para a família. Os eventos daquele ano incluíram múltiplas mortes na família estendida, uma breve hospitalização de Sarah e uma hospitalização do pai por causa de um problema ortopédico.

Apesar de dois anos consecutivos de continuados eventos estressantes, uma avaliação subsequente de competência revelou que Sarah estava indo muito bem na escola. Sua média de pontos era aproximadamente um desvio padrão acima da média. Seu escore em Inquietação na Sala de Aula, que reflete a extensão do quanto seu professor e seus colegas de classe a viam como inquieta, agressiva e opositiva na sala de aula, era um desvio padrão abaixo da média. Seu professor e seus colegas de classe também a viam como relativamente descomprometida (bem abaixo da média do Comprometido). Sua reputação com os colegas de classe sugere que naquela época ela era vista positivamente, mas também isolada e um pouco solitária. De forma parecida, seu professor a descreveu como bem abaixo da média na escala que media envolvimento ativo nas atividades em sala de aula. Sarah parecia particularmente não predisposta a iniciar debates na sala de aula, contar histórias ou trazer coisas para a aula. Por outro lado, seu professor a descreveu como sendo persistente, mostrando alta compreensão em aula e disposta a conhecer a matéria dada. No geral, Sarah parecia estar desinteressada em sala de aula, um pouco isolada dos outros e talvez autocontida, embora sua competência acadêmica e compreensão se mantivessem altas. Esse padrão de ajustamento é altamente consistente com os achados globais para crianças de “baixo risco” com múltiplas vantagens, mas experienciando alta exposição ao estresse, como apontado na figura 11.1.

A família de Sarah se encontrava acima da média para essa amostra em índices de SES e ganhos salariais. Seu pai era gerente pessoal para uma pequena empresa e sua mãe, com curso superior, tinha um cargo de meio período em uma biblioteca. Seus pais possuíam uma casa modesta, onde a família residia desde antes de Sarah nascer. A casa foi descrita pelo entrevistador do projeto como adequada em todas as necessidades apresentadas pelas crianças: era limpa e bem organizada. Essa família foi altamente cotada pelo entrevistador em índices de envolvimento social e na aceitação de ajuda da família estendida e amigos. Muito marcante no caso de Sarah era a competência de sua mãe, que impressionou o entrevistador como sendo uma pessoa marcadamente resiliente.

Os pais de Sarah receberam um escore alto na amostra no compósito da escala de Qualidade Parental. Essa família mostrou comunicação clara entre seus membros e um alto grau de respeito para a opinião dos outros e era muito concentrada nas crianças. A mãe (cuidadora primária) parecia ser excepcionalmente perceptiva sobre as necessidades e a personalidade de Sarah e expressava sentimentos positivos por ela. Desempenho escolar, pensamento livre e habilidade para conviver com outras pessoas eram todos bastante encorajados por seus pais. Quando foi pedido aos pais para descreverem o que achavam da educação de sua filha, eles falaram sobre “autoconfiança... ser capaz de tomar conta de si mesmo” (pai) e “eu acredito em dialogar com os filhos no mesmo nível. E você explica o que está acontecendo a eles da melhor forma possível e um dia ela estará preparada para as muitas diferentes experiências que ela enfrentar” (mãe).

Quando a mãe de Sarah foi entrevistada, a situação era ainda bastante estressante para a família por causa de preocupações constantes sobre a condição médica das crianças e o prognóstico ruim da condição de saúde da mãe. Ela descreve o maior estresse familiar como sendo o fato deles ainda estarem em “compasso de espera” (“still waiting”). A mãe estava aberta e falante na entrevista e descreveu de uma forma articulada seu estilo de lidar (coping) com os estressores em curso. Ela se referia a si mesma como uma lutadora que tinha se tornado dura pelo que tinha acontecido e ela era orgulhosa e determinada. Ela tinha feito um esforço determinado para seguir sua própria vida, mantendo uma rotina tanto quanto possível.

Apesar de seus contratempos, os membros da família estavam ocupados e envolvidos em muitos interesses e atividades. Sarah também era encorajada a se manter envolvida e ativa. A mãe expressou seu ponto de vista de que era importante expor a filha ao mudo, pois assim ela poderia “conhecer o que há lá fora e não se amedrontar ou crescer ingênua e ignorante”. Ela ressaltou a independência e a construção de habilidades em seus filhos: “quanto mais você sabe, mais você cresce”.

O jeito da mãe de Sarah para lidar com sua própria doença era prático e cauteloso e ainda assim positivo. Ela era aberta e tranquila com Sarah sobre sua doença porque ela acreditava em preparar o resto da família ao máximo para isso. Ela descrevia sua habilidade de saber quando ela poderia manejar alguma coisa ela mesma e quando ela precisava pedir ajuda da família e dos amigos. Exercícios físicos como um antídoto para o estresse era também enfatizado. Sarah e sua mãe regularmente faziam juntas aulas de ginástica. Após a cirurgia sua mãe começou um regime de exercícios físicos para ganhar força e mobilidade.

A mãe de Sarah descreveu seu casamento como sendo “tão íntimo quanto antes”. Ela sentia que a quantidade de eventos que tinha acontecido em sua família os havia ajudado a conservar uma perspectiva sobre o que era importante e “fez viver tudo o que é mais valioso”.

Sarah parecia ela mesma possuir um número razoável de recursos pessoais. Como nossos achados haviam predito, ela era muito inteligente (mais que um desvio padrão acima da média). Em muitos verões ela tinha sido enviada para programas de jovens talentos. Em uma entrevista realizada quando ela tinha 10 anos 
Sarah disse que quando crescesse ela queria ser “uma pessoa que faria pesquisa com dinossauros e cavaria seus ossos”. Na entrevista ela se mostrou altamente motivada, articulada, reflexiva, curiosa, academicamente confiante, consciente, complacente e educada. Ainda mais, Sarah foi avaliada como empática, consciente de suas emoções e mostrando bom julgamento. Ela também se mostrou um tanto solitária, embora parecesse possuir as habilidades necessárias para fazer amigos. Uma amiga íntima de Sarah tinha se mudado no primeiro ano do estudo e ela expressava o desejo de ter mais amigos e parecia possuir uma explicação para essas dificuldades com os colegas. Como estudante consciente e preparada, diferente das outras crianças ainda imaturas, ela comentou: “eu sinto como se eles não gostassem de mim porque eu tenho todas as respostas”. Apesar de seu distanciamento social, Sarah se mostrava uma criança cheia de recursos, lidando de forma bem sucedida com circunstâncias bastante estressantes.

Como parte da continuidade do estudo, nós recentemente localizamos Sarah, agora adolescente, e soubemos que sua mãe havia morrido e seu pai tinha sido recorrentemente hospitalizado por causa de sua deficiência física. Não obstante, indicações preliminares mostram que Sarah continua se saindo bem. Ela é excelente na escola, planeja estudar ciências na faculdade, tem vários amigos íntimos e é ativa em esportes e música. Ela se vê como competente e atraente e uma pessoa que está satisfeita consigo mesma e com a forma como sua vida está indo.
Sarah fornece um exemplo que se encaixa na figura que emerge da nossa análise de dados. Ela parecia ser uma criança resiliente, que tinha muitos recursos e os tinha usado bem. Mas nós estamos interessados em também olhar para sujeitos que não se encaixavam tão bem nesse quadro, aqueles cujos padrões de adaptação foram inesperados. Para identificar tal sujeito, nós examinamos a lista de amostra de crianças que manifestaram tanto alta exposição ao estresse (cinco ou mais eventos de vida) quanto alta competência (acima da média em dois ou mais critérios). Naquela época, contudo, nós procurávamos por crianças que tinham mantido competência sem a vantagem dos recursos protetores identificados em nosso banco de dados.

O caso de John mostra um garoto que estava indo bem apesar de seu alto risco, de seu perfil de alto estresse. Quando sua família se juntou ao estudo, John estava no quinto ano e estava vivendo com seu pai. Os dois anos que precederam nosso contato inicial com John tinham sido extremamente estressantes para ele. Seus pais tinha se separado fazia alguns anos e seu pai tinha casado novamente. John tinha vivido com sua mãe, mas ela morreu repentinamente em um acidente de carro. Após isso, John ficou indo e vindo por um tempo, vivendo com parentes, mas principalmente viveu ou com seu pai ou com sua tia. O pai de John fora hospitalizado naquele ano por um acidente de trabalho; ele perdeu seu emprego por causa desse acidente e entrou no seguro. Durante aquele ano, antes do estudo começar, seu pai e sua madrasta se separaram por um breve período. Os vales de alimentação foram cortados e a situação financeira da família, que já era ruim, piorou. Além disso, a madrasta retornou para casa, engravidou e tinha dado à luz pouco depois do estudo ter começado.

Apesar dos dois anos anteriores bastante difíceis, John parecia estar indo muito bem na escola quando os dados de competência foram colhidos. Seu desempenho e a qualidade do comprometimento escolar estavam acima da média. O exame dos componentes do escore Comprometido sugeria que seus colegas o viam positivamente, sem predisposição para se esconder ou se isolar. Sua professora o avaliou alto em uma subescala que media cooperação e iniciativa, indicando que ele era particularmente propenso a iniciar debates na sala de aula, oferecendo-se para fazer coisas para a professora e procurando pela professora após a aula para conversar. Ele também foi avaliado como exibindo alta compreensão na sala de aula, mais propenso a conhecer a matéria quando questionado e extremante capaz de aplicar o que tinha aprendido em novas situações.

O escore geral de John em Inquietação na Sala de Aula estava na média. Embora seus colegas não o avaliassem como inquieto ou agressivo, sua professora o descrevia como um pouco mais bagunceiro que a média. Ela descrevia John como particularmente mais propenso a interferir no trabalho de seus colegas de classe, de ser rapidamente atraído para conversas ou bagunçar com os outros e pela necessidade de ser repreendido por ela durante a aula. Seus atos sugerem imaturidade de comportamento e necessidade insatisfeita de atenção, ao invés de padrão mais agressivo de comportamento.

A família de John caiu bem abaixo da média dos índices de perfil socioeconômico (SES). Seu pai, com pouca escolaridade, lia com dificuldade. A família recebeu também uma nota bem abaixo (dois desvios-padrão abaixo da média) em Qualidade Parental. O pai tinha muitas queixas sobre a madrasta e sobre a inabilidade dela para cuidar adequadamente dos filhos. Enquanto que a madrasta brigava constantemente com John, seu pai parecia ser mais paciente e compreensivo quanto às habilidades e necessidades das crianças.

John parecia agir como uma espécie de intérprete para seus pais – eles confiavam nele para explicar coisas que eles não entendiam. John parecia lidar com essa situação difícil evitando ficar em casa por muito tempo. Enviado para uma tarefa, geralmente ele não retornava. John declaradamente passava um bom tempo com uma tia que morava ali perto.

Quando entrevistado aos 12 anos de idade, John parecia ser uma criança com muitos recursos internos. Sua habilidade intelectual estava acima da média. Embora parecesse um tanto deprimido e reservado durante a entrevista, particularmente quando falava da morte da sua mãe, o entrevistador encontrou um garoto amável e vibrante, com uma visão positiva de sua vida. Ele raramente falava negativamente ou criticamente sobre as coisas e aparentava estar bastante feliz consigo mesmo, orgulhoso de suas conquistas e extremamente autoconfiante. Quando confrontado com problemas, ele disse que era pouco propenso a se abrir com seus pais, afirmando que “eu geralmente resolvo os problemas por mim mesmo”. Quando perguntado sobre o que mais gostava em si mesmo, ele retrucou “meu espírito esportivo e meu humor”. Ele repetidamente evocava seu bom senso de humor – afirmando, por exemplo, que ele se dava bem com os outros garotos porque “eu posso fazer uma piada a qualquer momento”. Quando perguntado o que faz com que ele se sinta mal ou com raiva, John respondeu “eu não fico mal com facilidade. Na maior parte do tempo se eu estou numa situação ruim, eu apenas rio dela”.

John foi avaliado como envolvente e entusiástico em suas atividades. Ele escolheu leitura como sua atividade favorita e esportes como uma segunda bem próxima. Ele parecia se sentir competente atleticamente e participava entusiasticamente na prática de esportes. O entrevistador avaliou-o como muito corajoso e autoconfiante. Ele descreveu a si mesmo como uma pessoa que se arrisca, afirmando: “perigoso – isso é provavelmente meu nome do meio”. Embora um tanto indisciplinado, John aparentava ser capaz de se conscientizar disso e controlar seu comportamento.

Além disso, John foi avaliado como possuindo considerável insight psicológico e era apaixonante e empático. Quando ele ganhou dinheiro em um concurso, ele doou uma quantidade para um fundo de crianças com câncer, porque ele tinha conhecido uma criança com essa doença. Ele falava frequentemente e com muita afeição sobre seus primos mais jovens; ele aparentemente tinha responsabilidade por cuidar deles todo dia depois da escola e nos fins de semana. Ele parecia assumir bem essas responsabilidades: quando falava sobre suas tarefas, ele explicava que seu pai queria que ele fizesse as tarefas porque “ele achava que quanto mais eu faço, mais responsabilidade eu adquiro”. John afirmava que era importante se dar bem na escola “porque meu pai quer que eu me torne um médico”. Aparentemente ele e seu pai tinham conversado sobre isso e John planejava ser ou médico ou advogado.

O caso de John mostra uma criança com poucos recursos ambientais aparentes e que teve que confiar em si mesmo e havia descoberto maneiras de fazer isso. Alguém poderia afirmar que o que John “recebia” do meio ambiente era pobre, mas que o que ele “buscava” ativamente por sua própria conta proporcionou-lhe uma boa compensação; embora a terminologia receber-buscar seja nossa, a distinção é essencialmente aquela proposta por Scarr e McCartney (1903) entre meios ambientes “ativos” e “passivos”. Provavelmente outro adulto, talvez sua tia, proveu-lhe com alguma parentalidade que lhe faltava. Seu pai também pode ter fornecido uma fonte de recursos durável, apesar de suas outras limitações. Seu pai impressionou um recente entrevistador como sendo extremamente orgulhoso de John e suas conquistas. 

Seja qual fossem seus recursos ambientais, contudo, John tinha claramente múltiplos recursos internos que promoveram sua resiliência. Além disso, contatos recentes com John, que está agora no ensino médio (high school), confirmaram sua competência contínua. Embora suas notas estejam bem na média, ele ainda planeja fazer faculdade de medicina ou direito. Ele tem muitos amigos, está envolvido com atividades esportivas e levantamento de pesos e realiza atividades num clube local para jovens, onde ele recentemente assumiu um emprego de meio período supervisionando atividades para crianças. Ele parece se sentir atraente, competente em muitas áreas e feliz com a maneira como sua vida está indo. Alguém poderia caracterizar a adaptação de John como “emocional-positiva”, que é a característica de alguém disposto temperalmente a reagir positivamente a seu meio ambiente, mas também disposto a gerar encontros e experiências que engendrem um sentido de domínio e bem-estar.

Conclusões e implicações para uma future agenda de psicopatologia do desenvolvimento

O que pode ser concluído desse projeto sobre estresse e adaptação? Primeiro, nós reconhecemos que a pesquisa sobre processos protetores é complexa. Nós supomos que não existe uma “imunidade” geral para o estresse. Em vez disso, deve haver diferentes padrões de resposta ao estresse que são mais ou menos adaptativos, dependendo do contexto, das circunstâncias e do estágio de desenvolvimento da criança. Por exemplo, pode haver um padrão internalizado de resposta ao estresse (descomprometido, mas não disruptivo) que é mais comum nas garotas, como exemplificado por Sarah, e mais aceitável por professores e colegas de classe que outros padrões no contexto do ensino fundamental. Se de pouca duração, esse padrão pode ser adaptativo, ou pelo menos sem consequências adversas. Se duradouro ou extremo esse padrão pode estar associado com vulnerabilidade para transtornos de afeto ou ansiedade, particularmente tardios durante a adolescência.

Pode haver também um padrão externalizado de resposta ao estresse (descomprometido e disruptivo) que é mais comum em garotos e mais aversivo tanto para professores quanto para os colegas no ensino fundamental. Esse padrão parece ser mal adaptativo no contexto escolar. Em casos extremos ou persistentes, nós suporíamos que seria muito danoso para o desenvolvimento e para a integração social. É concebível, porém, que em outras subculturas ou circunstâncias, esse padrão em formas menos extremas pode ser aceitável e até adaptativo.

Crianças competentes parecem ter mais recursos disponíveis. Alguns são previsíveis e poder ser observados e documentados empiricamente (em parte porque são quantificáveis). Exemplos seriam QI e alta qualidade parental, como no caso de Sarah. Recursos como esses tendem a ocorrer de forma conjunta. Outros importantes recursos, contudo, podem ser mais idiossincráticos ou mais difíceis de detectar por outras razões. O papel exercido pela aparente habilidade de John para se apoiar efetivamente nos adultos fora de sua casa e seu humor seriam difíceis de discernir na análise de dados agregados.

Dada a multiplicidade e renovabilidade dos recursos das crianças competentes, nós esperamos que essa competência em si mesma possa ser o melhor preditor de competência futura, a menos que as circunstâncias mudem drasticamente. Além do mais, é esperado que crianças competentes sejam mais resilientes face a estressores agudos e se recuperem bem de quaisquer dificuldades emocionais ou comportamentais que experimentem. Competência pode refletir, em parte, a capacidade para resiliência, porque no sentido de que para atingir competência na meia infância, as crianças deveriam ter domínio, talvez de forma excelente, sobre as mudanças normais da primeira infância, como a entrada na escola.
Muitas das questões propostas por esse estudo apontam para itens de uma agenda futura de pesquisa em psicopatologia do desenvolvimento:

1-      Padrões replicáveis de adaptação a estressores podem ser identificados na variação de sexo, habilidades cognitivas, variáveis familiares e idade? Nossos achados requerem validação e extensão cruzadas. Será importante que tomemos estudos longitudinais de competência intensivos e de curta duração antes, durante e após a ocorrência de estressores agudos no sentido de determinar se esses padrões realmente refletem respostas à exposição ao estresse.
2-      Tais padrões são consistentes através de diferentes tipos de estressores? Por exemplo, uma literatura diversa sobre estressores na infância sugere que garotos tendem a serem mais disruptivos como consequência de experiências estressantes (Emery, 1982; Garmezy & Rutter, 1985). Contudo, a heterogeneidade dos sujeitos é confundida em muitos estudos com uma heterogeneidade dos estressores, como no Projeto Competência. Até mesmo em estudos de “estressores únicos” (estudos com crianças de pais divorciados, crianças com doença ameaçadora, etc), variações inevitáveis ocorrem nos perfis dos estressores vitais dentro de uma dada amostra que poderiam constituir modificadores contextuais críticos do estressor primário de interesse. Um estudo posterior é necessário para determinar se uma dada resposta da criança a estressores tão diversos como a dissolução da família, dificuldades econômicas e doenças ameaçadoras são mais semelhantes que diferentes.

. Que forma os padrões de adaptação vão assumindo com o passar do tempo? Poderia
        haver diferentes funções de recuperação para crianças com diferentes
        combinações de recursos e fatores de risco, bem como para diferentes tipos de
        estressores.
. Presumindo que padrões de adaptação refletem processos de desenvolvimento em
        andamento, grandes mudanças podem ocorrer na forma de respostas ao estresse
        durante períodos de transição de desenvolvimento, como a puberdade?
. Há uma continuidade nos padrões de adaptação através do desenvolvimento?
. Como os padrões de resposta ao estresse estão relacionados com sintomas,
        referência clínica, categorias de diagnóstico ou outros sistemas toxonométricos?
        Pode-se esperar que uma criança com baixos recursos com estressores agudos se
        torne disruptiva no alto de um desinteresse já manifesto na escola e com baixo
        aproveitamento. Esta combinação é propensa a um final precipitado.
 . Pode-se perguntar também se sintomas somáticos são mais esperados de ocorrer em
        crianças que respondem a alta exposição ao estresse com desinteresse, mas não
        disruptividade, no que parece ser um padrão de internalização.

Esses inquéritos, ultimamente, podem ser postos em termos amplos: quais são as relações entre psicopatologia, competência, risco e fatores de proteção, padrões de adaptação e diferenças individuais em crianças em qualquer idade? Respostas para essa questão em todas as suas manifestações – a busca por maior compreensão do processo de adaptação – podem apenas servir para aumentar nossos esforços para ajudar crianças em dificuldade.

Compreender a competência, particularmente competência sob adversidade, podem guiar esforços para promover adaptação. Por exemplo, investigações diversas nos últimos vinte anos identificaram muitas das habilidades latentes e comportamentos correlatos de competência social em crianças. Esses achados tem sido traduzidos numa variedade de programas de treinos de habilidades sociais (SST = social skills training) que geraram considerável interesse e entusiasmo nos últimos anos. Considerando que alguns desses programas SST focam em componentes comportamentais específicos do comportamento social efetivo (Oden & Asher, 1977), outros enfatizam o desenvolvimento de habilidades cognitivas sociais que são presumidas serem mais “genéricas” à adaptação social (Shure & Spivack, 1979). Avaliações sistemáticas da efetividade da abordagem dessas duas formas do programa tem sido largamente limitadas para esforços de prevenção secundária com crianças que apresentam sinais de inadequado ajustamento social emergente, como comportamento social agressivo e disruptivo, isolamento social e rejeição dos colegas, com um olhar sobre a origem dessas dificuldades [por exemplo, o programa Hahneman (Spivack, Platt, & Shure, 1976) e o Programa para o Desenvolvimento de Habilidades Sociais (Cincinnati Social Skills Development Program) (Kirschenbaum, 1979)]. A viabilidade de STT para prevenção primária tem ainda que ser demonstrada de forma convincente (Durlak, 1985; Pellegrini & Urbain, 1985).

Não obstante, programas STT carregam considerável promessa para prevenção de desenvolvimento do comportamento social mal adaptado que pode surgir como consequência eventos estressantes inevitáveis. Crianças podem ser identificadas para inclusão em programas STT baseado na experiência de eventos de vida direcionados (exemplo, divórcio dos pais), o oposto de serem selecionadas após comportamentos sociais mal adaptados terem emergido (juntamente com outras crianças cujo comportamento pode ser mais resistente a mudanças como resultado de mais distantes, mais complexas e mais profundas origens). O conteúdo de tal treinamento seria adaptado para aumentar o desenvolvimento de habilidades sociais pertinentes ao estressor de interesse (exemplo, em crianças de pais divorciados, como negociar com os pais os horários preferidos de visita, como resolver os conflitos com os meio-irmãos, etc).

De forma semelhante, o conceito de “treino de inoculação do estresse” (“stress inoculation training”) ganhou popularidade. A ideia por trás desse programa é prover doses graduais e manejáveis de estresse que o indivíduo pode dominar, ganhando experiência e confiança em lidar com estresse, que facilitarão uma futura adaptação. Um método desenvolvido por Meichenbaum e colegas (Meichenbaum, 1977, 1985) inclui educação sobre a natureza do estresse, análise da resposta do cliente ao estresse, treino de habilidades de enfrentamento tirados em grande parte do arsenal terapêutico cognitivo-comportamental, da prática e do treino de “reforço” (“booster”). Ayalon (1983) desenvolveu uma intervenção similar chamada Comunidade Orientada na Preparação para Emergência (COPE = Community Oriented Preparation for Emergency), para preparar melhor crianças israelenses para a possibilidade de terrorismo. Através desse programa,  a crianças escolarizadas são ensinadas habilidades cognitivas gerais de enfrentamento, a aprender a falar das emoções e são encorajadas a responder ao estresse com ação. Ambos os programas de inoculação do estresse enfatizam o desenvolvimento de habilidades genéricas de enfrentamento.

Essas intervenções presumem que recursos efetivos podem ser melhorados, ou expandindo o repertório de recursos ou aprendendo a usar mais efetivamente aqueles recursos que já estão prontamente disponíveis. Como uma espécie que se adapta, nós desenvolvemos uma miríade de estratégias de enfrentamento (coping). A adaptação é indubitavelmente o resultado de muitos atributos operando, embora diferentes áreas do funcionamento possam requerer diferentes combinações de recursos. Segue-se que intervenções focando em um único recurso, único atributo, um único estilo cognitivo, uma única habilidade social podem não mostrar grandes mudanças no funcionamento através das situações.

Em conexão com conceitos contrastantes como STT e inoculação do estresse, pode ser importante distinguir entre qualidades pessoais, experiências ou tratamentos orientados para aperfeiçoar experiências positivas de bem estar e auto eficácia e aquelas relacionadas para minimizar experiências negativas de estresse e desorganização. O manejo de prazer e distresse pode não envolver muitos opostos extremos de uma única dimensão adaptativa, mas diferentes dimensões, se houver interação, que requerem seus próprios constructos distintos de temperamento, input ambiental, desenvolvimento e intervenção (Tellegen, 1985).

Nosso trabalho também enfatiza que a consideração de diferenças individuais será importante ao se planejar intervenções. Aqueles programas de prevenção projetados com vistas a melhorar a capacidade de adaptação aos estressores devem levar em conta que diferenças de sexo e de recursos pessoais e ambientais podem muito bem ter um papel nas necessidades de diferentes crianças.

Estudos de adaptação para estressores específicos tem o potencial de identificar estratégias particulares mais efetivas para o enfrentamento de um dado estressor. Aqui novamente, contudo, crianças que enfrentam ostensivamente o mesmo estressor podem ter diferentes padrões de resposta dependentes de suas características e recursos individuais. Uma garota brilhante, exitosa, mas solitária que está se ajustando ao divórcio dos pais não tem as mesmas necessidades que um garoto rejeitado pelos colegas, agressivo e com problemas de aprendizagem que está numa situação parecida.

Bons clínicos indubitavelmente já tem ajustado suas intervenções em casos únicos de acordo com os recursos pessoais e ambientais da criança, assim como de acordo com sua compreensão do desenvolvimento normal, má adaptação e estresse. Um objetivo para nosso estudo e estudos parecidos é conseguir maior conhecimento para aquele processo em que o tratamento de má adaptação possa ser mais sistematicamente correspondido à criança e assim avaliado mais efetivamente. Reciprocamente, o clínico informado, experto em analisar casos únicos, pode oferecer percepções de pesquisadores sobre o processo de estresse e de adaptação que podem coloca-los em trilhas negligenciadas de exploração empírica (Garmezy & Masten, 1986).

Este estudo começou como uma expedição a um grande e desconhecido território, guiado por Norman Garmezy. Nossa metodologia evoluiu conforme aprendemos um pouco sobre competência e suas relações com a exposição ao estresse. Talvez mais importante, nós aprendemos como elaborar melhores questões nessa área complexa. Nós continuamos convencidos que o estudo de aspectos positivos da adaptação, incluindo competência, fatores de proteção e resiliência é uma parte necessária da base do conhecimento para o qual nós devemos contribuir se quisermos aumentar a prevenção e o tratamento de transtornos, bem como a educação das crianças.

Referências

Ayalon, O. (1983). Coping with terrorismo: The Israeli case. In D. Meichenbaum
& M. E. Jaremko (eds.), Stress reduction and prevention (pp. 293-339).
New York: Plenum Press.
Cicchetti, D. (1984). The emergence of developmental psychopatology. Child              
            Development, 55, 1-7.
Coddington, R. D. (1972a). The significance of life events as etiologic factors in 
the diseases of children. I- A survey of professional workers. Journal of
Ppsychosomatic Research, 16, 7-18.
Coddington, R. D. (1972b). The significance of life events as etiologic factors in 
the diseases of children. II- A study of a normal population . Journal of
Ppsychosomatic Research, 16, 205-213.
Dunn, L. M., & Markwardt, F. C (1970). Peabody Individual Achievement Test.
Circle Pines, MN: American Guidance Service.
Durlak, J. A. (1985). Primary prevention of school maladjustment. Journal of
Consulting and Clinical Psychology, 53 (5), 623-30.
Emery, R. R. (1982). Interparental conflict and the children of discord and
divorce. Psychological Bulletin, 92, 310-330.
Ferrarese, M. J. (1981). Reflectiveness-impulsivity and competence in children
under stress. (Doctoral dissertation, University of Minnesota).
Dissertation Abstracts International, 42, 4928B.
Finkelman, D. G. (1983). The relationships of children’s attributes to levels of 
competence and familial stress (Doctoral dissertation, University of Minnesota). Dissertation Abstracts International, 44, 2891B.
Garmezy, N. (1970). Vulnerable children: Implications derived from studies on
an internalizing-externalizing symptom dimension. In J. Zubin & A. M. Freedman (Eds.), The Psychopathology of Adolescence (pp. 212-39). New York: Grune & Stratton.
Garmezy, N. (1971). Vulnerability research and the issue of primary prevention.
American Journal of Orthopsychiatry, 41, 101-116.
Garmezy, N. (1973). Competence and adaptation in adult schizophrenic
patients and children at risk. In S. R. Dean (ed.), Schizophrenia: The first ten Dean award Lectures (pp. 163-204). New York: MMS Information Corp.
Garmezy, N. (1974a). The study of children at risk: new perspectives for
developmental psychopathology. Distinguished Scientist Award address presented to Division 12, Section III, at the 82nd annual convention of the American Psychological Association, New Orleans.
Garmezy, N. (1974b). The study of competence in children at risk for severe
psychopathology. In E. J. Anthony & C. Koupernick (Eds.), The child in his family: children at psychiatric risk (Vol. 3., pp. 77-97). New York: Wiley.
Garmezy, N. (1974c). Children at risk: The search for the antecedents of
schizophrenia. Part I: Conceptual models and research methods. Schizophrenia Bulletin, 8, 14-90.
Garmezy, N. (1974d). The search for the antecedents of schizophrenia. Part II:
Ongoing research programs, issues and intervention. Schizophrenia Bulletin, 9, 55-125.
Garmezy, N. (1981). Children under stress: Perspectives on antecedents and
correlates of vulnerability and resistance to psychopathology. In A. I. Rabin, J. Aronoff, A. M. Barclay, & R. A. Zucker (Eds.), Further explorations in personality (pp. 196-269). New York: Wiley.
Garmezy, N. (1982). The case of the single case in research. In A. E. Kazdin and
A. H. Tuma (Eds.), Single-case research designs (pp. 5-17). San Francisco: Jossey-Bass.
Garmezy, N. (1984). Children vulnerable to major mental disorders: Risk and
protective factors. In L. Grinspoon (Ed.), Psychiatry Update (Vol. 3, pp. 91-104). Washington, DC: American Psychiatric Press.
Garmezy, N., & Devine, V. T. (1984). Project Competence: The Minnesota
studies of children vulnerable to psychopathology. In N. Watt, E. J. Anthony, L C. Wynne, & J. E. Rolf (Eds.), Children at risk for schizophrenia (pp. 289-303). Cambridge University Press.
Garmezy, N. & Masten, A. M. (1986). Stress, competence, and resilience:
Common frontiers for therapist and psychopathologist. Behavior Therapy, 17, 500-21.
Garmezy, N., Masten, A. S. & Tellegen, A. (1984). The study of stress and
competence in children: A building block for developmental psychopathology. Child Development, 55, 97-11.
Garmezy, N., & Rodnick, E. H. (1959). Premorbid adjustment and performance
in schizophrenia: Implications of interpreting heterogeneity in schizophrenia. Journal of Nervous and Mental Disease, 129 450-66.
Garmezy, N., & Rutter, M.  (1985). Acute reactions to stress. In M. Rutter & L.
Hersov (Eds.), Child and adolescent psychiatry: Modern approaches (2nd ed., pp. 153-176). Oxford: Blackwell Scientific.
Garmezy, N., & Tellegen, A.  (1984). Studies of stress-resistant children:
Methods, variables, and preliminary findings. In F. Morrison, C. Lord, & D. Keating (Eds.), Advances in applied developmental psychology (Vo. 1, pp. 231-87). New York: Academic Press.
Holmes, T. H., & Rahe, R. H. (1967). The social readjustment rating scale.
Journal of Psychosomatic Research, 11, 213-18.
Kirschenbaum, D. S. (1979). Social competence intervention and evaluation in
the inner city: Cincinnati’s Social Skills Development Program. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 47, 778-80.
Linder, H. D. (1985). A contextual life events interview as a measure of stress: A
comparison of questionnaire-based versus interview-based stress indices. Unpublished doctoral thesis, University of Minnesota.
Masten, A. S. (1982). Humor and creative thinking in stress-resistant children
(Doctoral dissertation, University of Minnesota). Dissertation Abstracts International, 43, 3737B.
Masten, A. S. (1986). Humor and competence in school-aged children. Child
Development, 57, 461-73.
Masten, A. S., & Braswell, L. (in press). Developmental Psychopathology: An
integrative framework for understanding behavior problems in children and adolescents. In P. R. Martin (Ed.), Handbook of behavior therapy and psychological science: An integrative approach. New York: Pergamon.
Masten, A. S., & Garmezy, N. (1985). Risk, vulnerability, and protective factors
in developmental psychopathology. In B. B. Lahey & S. E. Kazdin (Eds.), Advances in clinical child psychology (Vol. 8, pp. 1-52). New York: Plenum Press.
Masten, A. S., Garmezy, N., Tellegen, A., Pellegrini, D. S., Larkin, K., & Larsen, A.
(1988). Competence and stress in school children: The moderating effects of individual and family qualities. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 29, 745-64.
Masten, A. S., Morison, P., & Pellegrini, D. S. (1985). A revised class play method
of peer assessment. Developmental Psychology, 21, 523-33.
Meichenbaum, D. (1977). Congnitive-behavior modification: An integrative
approach. New York: Plenum.
Meichenbaum, D. (1985). Stress inoculation training. New York: Pergamon
Press.
Morison, P. (1987). Interview-derived attributes of children as related to
competence and familiar stress. Unpublished doctoral dissertation, University of Minnesota.
Oden, S., & Asher, S. R. (1977). Coaching children in social skills for friendship
making. Child Development, 48, 495-506.
Pellegrini, D. S. (19850. Social cognition and competence in middle childhood.
Child Development, 56, 253-64.
Pellegrini, D., & Masten, A. S., Garmezy, N., & Ferrarese, M. J. (1987). Correlates
of social and academic competence in middle childhood. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 28, 699-714.
Pellegrini, D. S., & Urbain, E. S. (1985). An evaluation of interpersonal cognitive
problem solving training with children. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 26, 17-41.
Raison, S. B. (1982). Coping behavior of mainstreamed physically handicapped
students. Unpublished doctoral dissertation, University of Minnesota.
Rutter, M. (1979). Protective factors in children’s responses to stress and
disadvantage. In M. W. Kent & J. E. Rolf (Eds.), Primary prevention of psychopathology. Vol. 3: Social competence in children (pp.49-74). Hanover, NH: University Press of New England.
Scarr, S., & McCartney, K. (1983). How people make their own environments: A
theory of genotype-environmental effects. Child Development, 54, 424-35.
Shure, M . B, & Spivack, G. (1979). Interpersonal cognitive problem solving and
primary prevention: Programming for preschool and kindergarten children. Journal of Clinical Child Psychology, 2, 89-94.
Silverstein, P. R. (1982). Coping and adaptation in families of physically
handicapped children. Unpublished doctoral dissertation, University of Minnesota.
Spivack,G., Platt, J. j., & Shure, M. (1976). The problem-solving approach to
adjustment. San Francisco: Jossey-Bass.
Sroufe, L., & Rutter, M. (1984). The domain of developmental psychopathology.
Child Development, 55, 17-29.
Tellegen, A. (1985). Structures of mood and personality and their relevance for
assessing anxiety, with an emphasis on self-report. In A. H. Tuma & D. Master (Eds.), Anxiety and the anxiety disorders (pp.681-716). Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Waters, E., & Sroufe, L. A. (1983). Social competence as a developmental
construct. Developmental Review, 3, 79-97.
Watt, N. F., Anthony, E. J., Wynne, L. C., & Rolf, J. E. (Eds.). (1984). Children at
risk for schizophrenia: A longitudinal perspective. Cambridge University Press.