BRASIL RESILIENTE! A resiliência é uma capacidade universal que permite que uma pessoa, um grupo ou uma comunidade previnam, minimizem ou superem os efeitos prejudiciais da adversidade. A resiliência pode transformar ou fazer mais forte as vidas daquelas pessoas que são resilientes (The International Resilience Project)
Definition of resilience
"In the context of exposure to significant adversity, resilience is both the capacity of individuals to navigate their way to the psychological, social, cultural, and physical resources that sustain their well-being, and their capacity individually and collectively to negotiate for these resources to be provided in culturally meaningful ways" (www.resilienceproject.org)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
LA CASITA – MODELO DE PROMOÇÃO DE RESILIÊNCIA
Em 1995, o sociólogo e demógrafo Stefan Vanistendael, do BICE (Bureau International Catholique de l’ Enfance, uma ONG suíça que luta pelos direitos das crianças), formulou, a partir de pesquisas e experiências práticas, cinco elementos principais para a promoção da resiliência em crianças: redes de apoio social, busca pelo sentido da vida, aptidões e sentimento de controle da própria vida, auto-estima e senso de humor. Em 1996, para que fosse mais bem compreendido o tema, ele criou uma metáfora que chamou “la casita” (a casinha), termo que, sem ser traduzido, ficou internacionalmente conhecido.
Nessa “Casita” cada instância representa um campo de intervenção possível para os que querem contribuir para PROMOVER a resiliência. São sugestões que cada pessoa ou instituição deve levar em contar para cada situação concreta e, por conseguinte, atuar de acordo com as necessidades e as possibilidades que essa situação oferece.
Em primeiro lugar está o alicerce, a base sobre a qual a “casa” será construída. Trata-se aqui das necessidades materiais básicas (comida, saúde, casa, sono, vestuário, etc). No subsolo (incluindo o porão) estão as redes de relações sociais (família, escola, clubes, a comunidade e outros) e no coração dessas redes se situa a aceitação profunda da pessoa (aceitação por si e pelo outro).
No térreo (primeiro piso) encontramos uma capacidade fundamental, o sentimento de estar vivo e qual o sentido da vida, questão que pode ser colocada através de uma filosofia que consiste em apreciar plenamente a existência e encontrar coerência para nosso viver. Este nível é o dos projetos pessoais concretos, que devemos encontrar para cada pessoa. O descobrimento do sentido não é uma tarefa individual da criança, podendo ser ativado pelos adultos.
No segundo piso encontramos três cômodos: a autoestima, as competências e atitudes e o humor. Igual a uma casa, os cômodos possuem comunicação entre eles, os campos estão interligados. Assim, a autoestima está em estreita relação com outros elementos, como a aceitação do outro, por exemplo.
No telhado (incluindo o sótão) se encontra a abertura a novas experiências, a capacidade de se entregar a sentimentos profundos e o aprofundamento do sentido da existência pessoal.
O desenho de cada casita é dinâmico e varia conforme as culturas e as realidades pessoais e coletivas. Pode aplicar-se à análise de um determinado grupo religioso, auxiliando a discernir em que domínio, ou peça da casa, seria importante incentivar os esforços, o que permitiria enxergar tanto os elementos que podem ser construídos quanto visualizar os elementos da casita que foram fragilizados ou destruídos.
Nessa “Casita” cada instância representa um campo de intervenção possível para os que querem contribuir para PROMOVER a resiliência. São sugestões que cada pessoa ou instituição deve levar em contar para cada situação concreta e, por conseguinte, atuar de acordo com as necessidades e as possibilidades que essa situação oferece.
Em primeiro lugar está o alicerce, a base sobre a qual a “casa” será construída. Trata-se aqui das necessidades materiais básicas (comida, saúde, casa, sono, vestuário, etc). No subsolo (incluindo o porão) estão as redes de relações sociais (família, escola, clubes, a comunidade e outros) e no coração dessas redes se situa a aceitação profunda da pessoa (aceitação por si e pelo outro).
No térreo (primeiro piso) encontramos uma capacidade fundamental, o sentimento de estar vivo e qual o sentido da vida, questão que pode ser colocada através de uma filosofia que consiste em apreciar plenamente a existência e encontrar coerência para nosso viver. Este nível é o dos projetos pessoais concretos, que devemos encontrar para cada pessoa. O descobrimento do sentido não é uma tarefa individual da criança, podendo ser ativado pelos adultos.
No segundo piso encontramos três cômodos: a autoestima, as competências e atitudes e o humor. Igual a uma casa, os cômodos possuem comunicação entre eles, os campos estão interligados. Assim, a autoestima está em estreita relação com outros elementos, como a aceitação do outro, por exemplo.
No telhado (incluindo o sótão) se encontra a abertura a novas experiências, a capacidade de se entregar a sentimentos profundos e o aprofundamento do sentido da existência pessoal.
O desenho de cada casita é dinâmico e varia conforme as culturas e as realidades pessoais e coletivas. Pode aplicar-se à análise de um determinado grupo religioso, auxiliando a discernir em que domínio, ou peça da casa, seria importante incentivar os esforços, o que permitiria enxergar tanto os elementos que podem ser construídos quanto visualizar os elementos da casita que foram fragilizados ou destruídos.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Veja abaixo clipe da nova versão de "We Are the World"
da Folha Online
Cantores, rappers e atores famosos gravaram uma nova versão de "We Are the World", em prol das vítimas do terremoto no Haiti, 25 anos após a mesma canção servir de alerta para o mundo sobre fome na África. O clipe, lançado oficialmente nesta sexta-feira (12), pode ser visto a seguir.
Cantores, rappers e atores famosos gravaram uma nova versão de "We Are the World", em prol das vítimas do terremoto no Haiti, 25 anos após a mesma canção servir de alerta para o mundo sobre fome na África. O clipe, lançado oficialmente nesta sexta-feira (12), pode ser visto a seguir.
Nomes como Barbra Streisand, Tony Bennett, Nicole Scherzinger (Pussycat Dolls), Miley Cyrus e Celine Dion, além dos rappers Kanye West, Snoop Dogg, Drake, LL Cool J e Will.i.am (Black Eyed Peas), participam da produção, que não contou com nenhum dos participantes da versão anterior. No entanto, o estúdio em Hollywood foi o mesmo, assim como a direção artística de Quincy Jones e Lionel Richie, um dos autores da música.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
A Resiliência da Nação Haitiana
ESTAR PREPARADO SEMPRE!!! Esse deveria ser o lema de indivíduos e comunidades que reconhecem seus riscos, que conseguem avaliar sua intensidade e que possuem ou constroem fatores de proteção adequados e suficientes ao seu redor para se protegerem e se recuperarem dos efeitos das adversidades durante sua vida. Estar preparado é uma necessidade vital e evita ou minimiza o confronto com situações catastróficas e traumáticas, sejam elas naturais (que nem sempre são tão naturais assim) ou construídas pelo homem. No nível individual, o principal é CONHECER, tornar-se sabedor; no nível comunitário, ou enquanto nação, o importante é a ELABORAÇÃO e APROVAÇÃO de políticas públicas.
O sujeito pode realizar periodicamente avaliações de seu risco e tomar precauções necessárias para evitá-los. Mesmo assim, conhecer não quer dizer se proteger. Mas, convenhamos, para a maioria das pessoas o mais saudável é sim evitar o risco tomando medidas necessárias para se afastar deles.
A comunidade geralmente toma conhecimento dos riscos quando eles ocorrem e, na maioria das vezes, mas nem sempre, toma as devidas precauções para que eles não voltem a se repetir. Nem sempre se tem condições de fugir do risco, pois no nível individual podem não haver possibilidades para isso (os recursos individuais nem sempre dão conta de superar as adversidades do meio social). Muitas vezes a comunidade sozinha consegue promover situações para evitar novos riscos, mas não raramente ela tem que recorrer a outras comunidades ou aos governos locais e nacionais para isso.
Nesse sentido, algumas coisas são necessárias, como as seguintes.
No nível individual: ter pessoas ao seu lado em quem você confie e que te auxiliem quando está doente ou em perigo; ser uma pessoa querida e amada pelos outros; estar satisfeito por fazer coisas boas para os outros; ser respeitoso consigo mesmo e com os outros; ter certeza de que as coisas vão dar certo; consiga conversar com as pessoas sobre coisas que te amedrontam e te incomodam; consiga encontrar formas de resolver os problemas que aparecem; etc.
No nível comunitário: que a comunidade construa um bom suporte social, atendendo as necessidades de todos os indivíduos; que estabeleça redes comunitárias internas e externas a ela; que mantenha seus ritos e costumes; que tenha regras claras sobre convivência; que eleja representantes que lhe dêem retorno quanto a suas necessidades; etc.
E ENQUANTO NAÇÃO?
“O que é uma nação? Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional” (ver o termo na wikipedia). No entanto, essas características por si só podem não constituir uma nação, sendo sua mais forte característica o vínculo que as pessoas mantêm entre si, seu sentido de coletivo, sua consciência de nacionalidade.
O sentido de uma nação deve estar o tempo todo sendo constituída e reconstituída. Constituída através de sua cultura, de seus ritos e costumes, de suas leis; reconstituída a cada vez que sua identidade é destruída ou abalada, como em guerras, grandes catástrofes naturais, epidemias, etc. Essa reconstituição se dá tanto pelas ações do poder instituído (tanto local quanto nacional e internacional) quanto pelas ações do próprio povo. Podemos dizer que essa identidade, esse sentir-se como uma nação, essa capacidade de reconstituir-se mesmo depois de grandes adversidades é o que chamamos de resiliência, podendo esse conceito ser aplicado a um coletivo, a um país, a uma nação.
Pensando na resiliência (capacidade de recuperar-se de grandes adversidades e até mesmo sair-se fortalecido depois de superá-las) de uma nação frente a catástrofes naturais, é possível estabelecer um antes e um depois.
O antes se compõe do conhecimento, da medida da possibilidade dessa catástrofe ocorrer. Quanto maior o conhecimento, seja ele histórico, tecnológico, seu grau de previsibilidade (e com quanto tempo de antecedência), seu grau de destruição, mais fácil será a preparação para sua ocorrência (já que, por ser natural, é inevitável; o que é possível é diminuir seu grau de destruição). Outras ações que podem ser realizadas antes: preparar a população para a ocorrência do fenômeno, seja evacuando locais, seja ensaiando as pessoas para buscar a melhor forma de se proteger; e construir edificações que resistam ao impacto do fenômeno.
Pensando no Haiti e pensando no terremoto ocorrido no dia 12 de janeiro de 2010, podemos afirmar que a nação haitiana não estava preparada para absorver o impacto (físico, social, moral) de um terremoto com tal grau de magnitude. Não estava preparada tecnologicamente, politicamente, economicamente, estruturalmente e mesmo moralmente. Inicialmente, façamos uma comparação com o Japão. Não é uma comparação muito razoável, já que o Japão tem outra estrutura política, econômica e cultural, mas basta para entendermos o que é estar preparado.
Em 2002 a cidade de Yokohama lançou seu Manual de Prevenção de Desastres para os Estrangeiros de Yokohama (pode ser acessado pelo link www.city.yokohama.jp/me/anzen/kikikanri/foreigners/manual_p.html). Na parte sobre terremotos, é assumido que o Japão é um “país propenso a terremotos”, há uma explicação científica para esse fato e uma contextualização histórica de suas ocorrências. Por fim, admite-se a necessidade de um preparo constante, pois novos terremotos com certeza irão ocorrer.
Crianças do ensino elementar também participaram da simulação. Essa sumulação tem o objetivo de conscientizar e preparar a população em casa ou outros locais para agir adequadamente nas situações de emergências que a ocorrência de um terremoto provoca, tais como pessoas entrando em pânico e se pisoteando, dificultando a evacuação de um local de risco, engarrafamentos, etc.
A população é orientada a sempre manter um estoque de comida e água para toda a família por pelo menos três dias; outros objetos também serão úteis caso seja preciso ficar vários dias em um abrigo. A mala com esses objetos, assim como os alimentos, deve ficar em lugar visível e de fácil acesso. Uma lista de ações também é repassada para a população, com questões tais como qual é o lugar mais seguro em casa, qual é o melhor caminho para evacuação, quem cuidará de crianças e idosos, etc. Além de treinamentos, o Japão investe em engenharia moderna para prevenir tragédias (como prédios inteligentes que conseguem resistir ao impacto de terremotos e continuar em pé).
E quanto ao Haiti?
Em relação ao conhecimento da probabilidade de ocorrência de terremotos na ilha, o governo haitiano recebia relatórios de estações meteorológicas americanas com certa freqüência e a mídia, de alguma forma, repassava essa informação à população. Na verdade, o país já sofreu em várias ocasiões terremotos de baixa e média intensidade na escala Richter, mas nunca foi elaborado um plano de prevenção e de fuga para quando ocorresse um fenômeno de alta intensidade.
Um dos fatores que podem explicar essa despreparo é a situação política e econômica irregular com a qual o Haiti sempre conviveu, desde 1957 quando foi eleito para presidente François Duvalier (Papa Doc), depois sucedido por seu filho Jean-Claude Duvalier (Baby Doc) até 1988; os dois governaram o país como ditadores e usurparam sua economia e sua liberdade política. A partir da deposição de Baby Doc o pais tentou viver, sem muito sucesso, uma onda de democracia. Os últimos acontecimentos políticos tiveram início em 2004, quando o presidente em exercício pediu auxílio às Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF), liderada pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento e continua no Haiti até hoje.
Com uma economia sempre degradada e fragilizada, o governo haitiano nunca conseguiu investir de forma adequada na estrutura do país e na educação e saúde da população, principalmente no preparo para a ocorrência de catástrofes. Nesse sentido, as construções são antigas e sem nenhuma possibilidade de resistir a tremores (ocorrem quedas dessas construções, com soterramento de pessoas, mesmo sem a ocorrência de terremotos!), não existem normas rígidas de ocupação do solo, o povo nunca foi treinado para agir nessas situações (nem antes e nem depois de uma grande catástrofe) e a saúde não se preparou para evitar epidemias de doenças depois dessas ocorrências; ou seja, ações que podem reduzir a vulnerabilidade dos grandes aglomerados populacionais nunca foram verdadeiramente efetivadas.
Pela sua história, pela pouca capacidade de reagir e superar suas dificuldades, pela repetição de problemas em diversas áreas, pode-se dizer que a nação haitiana possui pouca resiliência. Para aumentar essa resiliência, a partir da recuperação necessária em função desse último terremoto ocorrido, intervenções importantes precisam ocorrer, com os esforços sendo direcionados não apenas para a redução de conseqüências negativas ou mau ajustamento entre os grupos atingidos, mas também para a promoção de dimensões de adaptação positiva ou competência; as intervenções devem ser desenhadas para reduzir influências negativas (fatores de vulnerabilidade) e para capitalizar recursos específicos com populações particulares; os esforços de intervenção devem ter como objetivo estimular serviços que eventualmente possam se tornar auto-sustentáveis, podendo, assim, dar sustentabilidade e poder de resistência ao Haiti.
ESTAR PREPARADO SEMPRE!!! Esse deveria ser o lema de indivíduos e comunidades que reconhecem seus riscos, que conseguem avaliar sua intensidade e que possuem ou constroem fatores de proteção adequados e suficientes ao seu redor para se protegerem e se recuperarem dos efeitos das adversidades durante sua vida. Estar preparado é uma necessidade vital e evita ou minimiza o confronto com situações catastróficas e traumáticas, sejam elas naturais (que nem sempre são tão naturais assim) ou construídas pelo homem. No nível individual, o principal é CONHECER, tornar-se sabedor; no nível comunitário, ou enquanto nação, o importante é a ELABORAÇÃO e APROVAÇÃO de políticas públicas.
O sujeito pode realizar periodicamente avaliações de seu risco e tomar precauções necessárias para evitá-los. Mesmo assim, conhecer não quer dizer se proteger. Mas, convenhamos, para a maioria das pessoas o mais saudável é sim evitar o risco tomando medidas necessárias para se afastar deles.
A comunidade geralmente toma conhecimento dos riscos quando eles ocorrem e, na maioria das vezes, mas nem sempre, toma as devidas precauções para que eles não voltem a se repetir. Nem sempre se tem condições de fugir do risco, pois no nível individual podem não haver possibilidades para isso (os recursos individuais nem sempre dão conta de superar as adversidades do meio social). Muitas vezes a comunidade sozinha consegue promover situações para evitar novos riscos, mas não raramente ela tem que recorrer a outras comunidades ou aos governos locais e nacionais para isso.
Nesse sentido, algumas coisas são necessárias, como as seguintes.
No nível individual: ter pessoas ao seu lado em quem você confie e que te auxiliem quando está doente ou em perigo; ser uma pessoa querida e amada pelos outros; estar satisfeito por fazer coisas boas para os outros; ser respeitoso consigo mesmo e com os outros; ter certeza de que as coisas vão dar certo; consiga conversar com as pessoas sobre coisas que te amedrontam e te incomodam; consiga encontrar formas de resolver os problemas que aparecem; etc.
No nível comunitário: que a comunidade construa um bom suporte social, atendendo as necessidades de todos os indivíduos; que estabeleça redes comunitárias internas e externas a ela; que mantenha seus ritos e costumes; que tenha regras claras sobre convivência; que eleja representantes que lhe dêem retorno quanto a suas necessidades; etc.
E ENQUANTO NAÇÃO?
“O que é uma nação? Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional” (ver o termo na wikipedia). No entanto, essas características por si só podem não constituir uma nação, sendo sua mais forte característica o vínculo que as pessoas mantêm entre si, seu sentido de coletivo, sua consciência de nacionalidade.
O sentido de uma nação deve estar o tempo todo sendo constituída e reconstituída. Constituída através de sua cultura, de seus ritos e costumes, de suas leis; reconstituída a cada vez que sua identidade é destruída ou abalada, como em guerras, grandes catástrofes naturais, epidemias, etc. Essa reconstituição se dá tanto pelas ações do poder instituído (tanto local quanto nacional e internacional) quanto pelas ações do próprio povo. Podemos dizer que essa identidade, esse sentir-se como uma nação, essa capacidade de reconstituir-se mesmo depois de grandes adversidades é o que chamamos de resiliência, podendo esse conceito ser aplicado a um coletivo, a um país, a uma nação.
Pensando na resiliência (capacidade de recuperar-se de grandes adversidades e até mesmo sair-se fortalecido depois de superá-las) de uma nação frente a catástrofes naturais, é possível estabelecer um antes e um depois.
O antes se compõe do conhecimento, da medida da possibilidade dessa catástrofe ocorrer. Quanto maior o conhecimento, seja ele histórico, tecnológico, seu grau de previsibilidade (e com quanto tempo de antecedência), seu grau de destruição, mais fácil será a preparação para sua ocorrência (já que, por ser natural, é inevitável; o que é possível é diminuir seu grau de destruição). Outras ações que podem ser realizadas antes: preparar a população para a ocorrência do fenômeno, seja evacuando locais, seja ensaiando as pessoas para buscar a melhor forma de se proteger; e construir edificações que resistam ao impacto do fenômeno.
Pensando no Haiti e pensando no terremoto ocorrido no dia 12 de janeiro de 2010, podemos afirmar que a nação haitiana não estava preparada para absorver o impacto (físico, social, moral) de um terremoto com tal grau de magnitude. Não estava preparada tecnologicamente, politicamente, economicamente, estruturalmente e mesmo moralmente. Inicialmente, façamos uma comparação com o Japão. Não é uma comparação muito razoável, já que o Japão tem outra estrutura política, econômica e cultural, mas basta para entendermos o que é estar preparado.
Em 2002 a cidade de Yokohama lançou seu Manual de Prevenção de Desastres para os Estrangeiros de Yokohama (pode ser acessado pelo link www.city.yokohama.jp/me/anzen/kikikanri/foreigners/manual_p.html). Na parte sobre terremotos, é assumido que o Japão é um “país propenso a terremotos”, há uma explicação científica para esse fato e uma contextualização histórica de suas ocorrências. Por fim, admite-se a necessidade de um preparo constante, pois novos terremotos com certeza irão ocorrer.
Crianças do ensino elementar também participaram da simulação. Essa sumulação tem o objetivo de conscientizar e preparar a população em casa ou outros locais para agir adequadamente nas situações de emergências que a ocorrência de um terremoto provoca, tais como pessoas entrando em pânico e se pisoteando, dificultando a evacuação de um local de risco, engarrafamentos, etc.
A população é orientada a sempre manter um estoque de comida e água para toda a família por pelo menos três dias; outros objetos também serão úteis caso seja preciso ficar vários dias em um abrigo. A mala com esses objetos, assim como os alimentos, deve ficar em lugar visível e de fácil acesso. Uma lista de ações também é repassada para a população, com questões tais como qual é o lugar mais seguro em casa, qual é o melhor caminho para evacuação, quem cuidará de crianças e idosos, etc. Além de treinamentos, o Japão investe em engenharia moderna para prevenir tragédias (como prédios inteligentes que conseguem resistir ao impacto de terremotos e continuar em pé).
E quanto ao Haiti?
Em relação ao conhecimento da probabilidade de ocorrência de terremotos na ilha, o governo haitiano recebia relatórios de estações meteorológicas americanas com certa freqüência e a mídia, de alguma forma, repassava essa informação à população. Na verdade, o país já sofreu em várias ocasiões terremotos de baixa e média intensidade na escala Richter, mas nunca foi elaborado um plano de prevenção e de fuga para quando ocorresse um fenômeno de alta intensidade.
Um dos fatores que podem explicar essa despreparo é a situação política e econômica irregular com a qual o Haiti sempre conviveu, desde 1957 quando foi eleito para presidente François Duvalier (Papa Doc), depois sucedido por seu filho Jean-Claude Duvalier (Baby Doc) até 1988; os dois governaram o país como ditadores e usurparam sua economia e sua liberdade política. A partir da deposição de Baby Doc o pais tentou viver, sem muito sucesso, uma onda de democracia. Os últimos acontecimentos políticos tiveram início em 2004, quando o presidente em exercício pediu auxílio às Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF), liderada pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento e continua no Haiti até hoje.
Com uma economia sempre degradada e fragilizada, o governo haitiano nunca conseguiu investir de forma adequada na estrutura do país e na educação e saúde da população, principalmente no preparo para a ocorrência de catástrofes. Nesse sentido, as construções são antigas e sem nenhuma possibilidade de resistir a tremores (ocorrem quedas dessas construções, com soterramento de pessoas, mesmo sem a ocorrência de terremotos!), não existem normas rígidas de ocupação do solo, o povo nunca foi treinado para agir nessas situações (nem antes e nem depois de uma grande catástrofe) e a saúde não se preparou para evitar epidemias de doenças depois dessas ocorrências; ou seja, ações que podem reduzir a vulnerabilidade dos grandes aglomerados populacionais nunca foram verdadeiramente efetivadas.
Pela sua história, pela pouca capacidade de reagir e superar suas dificuldades, pela repetição de problemas em diversas áreas, pode-se dizer que a nação haitiana possui pouca resiliência. Para aumentar essa resiliência, a partir da recuperação necessária em função desse último terremoto ocorrido, intervenções importantes precisam ocorrer, com os esforços sendo direcionados não apenas para a redução de conseqüências negativas ou mau ajustamento entre os grupos atingidos, mas também para a promoção de dimensões de adaptação positiva ou competência; as intervenções devem ser desenhadas para reduzir influências negativas (fatores de vulnerabilidade) e para capitalizar recursos específicos com populações particulares; os esforços de intervenção devem ter como objetivo estimular serviços que eventualmente possam se tornar auto-sustentáveis, podendo, assim, dar sustentabilidade e poder de resistência ao Haiti.
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